O sistema ferroviário brasileiro transporta quase três bilhões de passageiros por ano e apresentou crescimento vertiginoso num intervalo de seis anos, mas está longe de ser a modalidade de transporte mais usada pelos brasileiros, até pelo fato de sua presença ser restrita.
Enquanto em 2010 foram transportados 1,9 bilhão de passageiros, em 2016 o volume alcançou 2,91 bilhões. Apesar disso, há um “desbalanço” na matriz modal de transporte, já que apenas 3,8% dos brasileiros utilizam trens como meio de locomoção, segundo dados da ANPTrilhos (Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos).
O Brasil tem 21 sistemas de transporte urbano de passageiros sobre trilhos, em 11 estados e no Distrito Federal, operados por 14 empresas, das quais 6 são privadas.
“A matriz urbana brasileira ainda é muito deficiente, porque existe um desbalanço grande nesse sentido. Ainda hoje o sistema de mobilidade urbana se caracteriza pelo intenso uso de transporte individual motorizado. Nota-se que em locais como São Paulo, Rio, Porto Alegre e Salvador isso começa a mudar um pouco”, afirmou João Gouveia, diretor-executivo da ANPTrilhos.
Automóveis são usados por 39% das pessoas, enquanto 25% utilizam ônibus. O restante, conforme ele, se desloca em motos, bicicletas ou a pé.
A avaliação da associação é que, apesar de considerar o sistema deficiente, são retirados 1,1 milhão de carros das ruas por dia.
“É muito incipiente em função da densidade demográfica do país. As pessoas hoje se deslocam mais em busca de serviços e isso acaba aumentando a necessidade de uma mobilidade mais adequada, mas as cidades ainda não estão preparadas.”
A malha ferroviária é de 1.040 quilômetros. De acordo com ele, há necessidade de ao menos mais 800 quilômetros de trilhos, com investimentos estimados em R$ 167 bilhões.
“Conceber projeto é demorado, seja metrô ou trem de alta capacidade. Não há trem numa prateleira [de supermercado], você tem de fabricar conforme a necessidade do projeto. Para conceber, fazer ordem de serviço, entrar em fabricação e colocar em operação são necessários três ou quatro anos. Curto prazo para a gente são quatro anos.”
Esse prazo, na avaliação do dirigente, às vezes é prejudicado em função de mudanças políticas nos governos. “Nem sempre o sucessor dá continuidade a projetos de infraestrutura.”
Questionado sobre a dependência do setor privado de governos para a implantação de projetos, Gouveia disse que é impossível que o sistema se desenvolva sozinho.
“Os investimentos são altos e a interferência do nosso segmento em relação às políticas públicas é muito grande. O fato de você propiciar mobilidade está totalmente ligado ao plano diretor, ao urbanismo, são características do próprio negócio que envolvem o setor público até pela questão física, além de investimentos.”