A máquina a vapor e com ela o grande avanço das FERROVIAS, em fins do século 18, deu origem à I Revolução Industrial. A expansão econômica foi indiscutível. Novas fronteiras agrícolas, novas fontes de matérias-primas. A ferrovia fazendo história.
Em fins do século 19, a eletricidade e a linha de montagem deram origem à II Revolução Industrial. Foi o início da produção em massa. As cidades cresceram. O transporte público sobre trilhos teve novo avanço com os bondes elétricos.
A III Revolução Industrial teve como principais protagonistas os computadores (anos 1960), o computador pessoal (anos 1970) e a internet (anos 1990). A era digital aqui encontrou, no início dos anos 60, um Brasil onde a maioria dos 70 milhões de habitantes morava na zona rural. A população de todas as nossas cidades era de pouco mais de 30 milhões de habitantes, bem menos do que tem hoje apenas a macrometrópole paulista.
A partir de 2007, os smartphones colocaram a internet em nossas mãos nos conectando em redes. Sensores mais poderosos, menores e baratos conectam as coisas. Desenvolvem-se softwares mais e mais sofisticados, capacitando a aprendizagem automática das máquinas, via Inteligência Artificial. Grandes massas de dados são tratadas analisando tendências e mudanças de comportamento. Atônitos, queiramos ou não, estamos no turbilhão da IV Revolução Industrial, que se manifesta pela velocidade, amplitude e profundidade das mudanças que ocorrem num mundo multifacetado e interconectado. Novas tecnologias geram outras tecnologias, impactando sistemas inteiros e seus modelos de negócios em escala mundial.
Ao lado dessas mudanças tecnológicas, há mudanças comportamentais e demográficas acontecendo em profundidade. As pessoas continuam migrando do campo para as cidades formando grandes aglomerados urbanos. Em 2017, as cidades brasileiras já estavam com mais de 170 milhões de habitantes. No planeta, somos 4 bilhões de pessoas vivendo nas cidades, que recebem mais de 80 milhões de novos habitantes a cada ano.
O transporte de passageiros sobre trilhos está à altura de todas essas mudanças? A resposta é sim e muito à frente dos demais modos de transportes urbanos. Vamos ver o porquê.
Apesar de operar em apenas 400 cidades do planeta, cerca de 280 milhões de pessoas viajam diariamente sobre trilhos urbanos (metrôs, trens suburbanos e VLTs). Dados da Revista PTI, da UITP 2016, mostram que em 2015 foram transportados 73 bilhões de passageiros sobre trilhos urbanos. Sistemas eletrificados, portanto não poluentes.
A boa notícia é que os sistemas sobre trilhos crescem nas principais cidades do mundo com destaque para os países asiáticos, China à frente.
Ao lado da aeronáutica, a ferrovia foi o meio de transporte que mais progrediu tecnologicamente desde a primeira Revolução Industrial: do vapor à levitação magnética. Hoje é capaz de atingir velocidades acima de 500 km/h com níveis de segurança, regularidade e conforto superiores aos demais meios de transporte.
Como grande tendência na mobilidade urbana, discute-se o advento dos veículos autônomos. Alguns protótipos para duas ou seis pessoas já estão em operação. Em relação a esse tópico estamos muitos anos à frente com avanços enormes desde as primeiras linhas de metrô totalmente automáticas: Port Liner em Kobe, Japão, em 1981, e o VAL de Lille, França, em 1983.
Hoje (maio de 2018) já são 63 linhas (1003km) operando em 42 cidades em 19 países, 75% delas localizadas na Ásia e Europa. As projeções indicam que em 2025 teremos mais de 2300km de metrôs totalmente automáticos.
Se no início os metrôs driverless eram de pequena ou média capacidade, hoje a tendência é de composições com mais de 700 lugares. A linha 4 Amarela de São Paulo, uma das mais carregadas do mundo, com cerca de 800 mil passageiros por dia, pode transportar com alta segurança e conforto mais de mil pessoas em suas composições de seis carros.
Linhas automáticas exigem inovações na operação e manutenção. Desde a maior flexibilidade para melhor adequar a oferta com as variações da demanda ao longo do dia até o acoplamento de sensores para antecipar falhas no material rodante, tudo se encaixa naquilo que a IoT (Internet of Things) e a Inteligência Artificial têm possibilitado através da informação extraída da grande massa de dados disponível em todo o sistema.
Por outro lado, as estações também passam por profundas mudanças, com portas de plataforma evitando a queda de pessoas sobre os trilhos, bilhetagem automática, sistemas de monitoramento dos fluxos de passageiros acoplados aos sistemas de escadas rolantes, elevadores, exaustão de gases e ventilação além da comunicação por meio de imagens e dados.
Com a portabilidade da internet, o usuário passou a ser protagonista-chave nos sistemas de mobilidade. Deixou de ser um número estático num quadro de demanda prevista. Age online pedindo informações e ao mesmo tempo enviando dados sobre seu deslocamento. O uso de aplicativos é irreversível e exponencial. Os sistemas sobre trilhos, longe dos congestionamentos do trânsito, levam vantagem sobre os outros modais naquilo que o passageiro tanto precisa: regularidade, confiabilidade, segurança e conforto.
Em resumo, em um mundo onde os grandes aglomerados urbanos se multiplicam, necessitando de sistemas troncais de grande capacidade como espinha dorsal de uma mobilidade integrada, os transportes de passageiros sobre trilhos estão prontos para responder às tendências de automação, eletrificação e digitalização delineadas pela IV Revolução Industrial para o deslocamento das pessoas.
Jurandir Fernandes é Presidente da Divisão América Latina, PHD. LAAS – Laboratoire d’ Automatique et d’ Analyse des Systémes; Toulouse, Francia, com mais de 30 anos de experiência no setor de transporte público. Ocupou o cargo de secretário de Transporte Metropolitano de São Paulo, durante o qual desenvolveu o maior plano de investimento da América Latina.
Artigo publicado no livro “Mobilidade Urbana sobre Trilhos na Ótica dos Grandes Formadores de Opinião”, planejado e publicado pela ANPTrilhos – Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos.
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