‘Apoiaremos infraestrutura com crédito a prefeituras’, diz Paulo Rabello de Castro
O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Social e Econômico (BNDES), Paulo Rabello de Castro, em conversa com O GLOBO, falou sobre os projetos do banco para o próximo ano, que incluem uma nova linha de crédito para saneamento e mobilidade.
Qual será o foco do BNDES a partir de 2018?
O banco tem, para o próximo ano, o planejamento de elevar o nível de desembolso para R$ 97 bilhões. E isso deve ser dividido da seguinte forma: 30% para micro, pequenas e médias empresas (MPMEs), 30% para a agroindústria, 30% para infraestrutura e setor público e uns 10% para inovação. Também vamos aproveitar o bom momento do mercado para vender parte das ações que temos em empresas.
O banco vai continuar a investir em grandes projetos de infraestrutura, como aeroportos e rodovias?
A infraestrutura não vai decolar em 2018, porque ainda teremos efeitos da Lava-Jato sobre as empreiteiras. Mas continuaremos a investir nesses grandes projetos, sim, quando eles baterem à nossa porta. É uma vocação do BNDES. O que não teremos mais é o foco naquela política de integralização de capital de grandes empresas, para torná-las campeãs nacionais. Uma das formas que teremos para apoiar a infraestrutura será uma nova linha de crédito que estamos estudando para as prefeituras.
Como vai funcionar a linha?
Será um crédito voltado para projetos de melhoria de gestão, mobilidade urbana, iluminação pública e saneamento. Possivelmente, também vamos financiar turismo. Ainda estamos estudando como viabilizá-la.
Há uma avaliação de que o BNDES deveria concentrar-se em projetos com ganhos sociais, ambientais ou tecnológicos. Esse é o caminho que o banco vai seguir?
Os economistas gostam de falar das externalidades (efeitos positivos paralelos) dos projetos. É conversa de alemão. Só o fato de emprestar, num momento de crise como o atual, já é uma externalidade, especialmente quando falamos de MPMEs. A maior parte dessas empresas não tem acesso a crédito. Na relação com o BNDES, elas tomam empréstimos via operações automáticas, que dependem de repasses de agentes financeiros. Nem sempre o banco coloca na meta do gerente elevar o desembolso da linha do BNDES. Então, muitas pequenas empresas ficam sem crédito.
Como o BNDES está equacionando esse problema?
Estamos intensificando nossa plataforma na internet para alcançar as MPMEs mais diretamente e facilitar essa ponte com o agente financeiro. O BNDES Giro (antigo Progeren, programa voltado para capital de giro a MPMEs), que vinha liberando R$ 400 milhões por mês, desembolsou R$ 900 milhões em outubro, e acreditamos que chegaremos a R$ 2 bilhões por mês ano que vem.
O senhor acredita que a demanda por investimentos vai acontecer mesmo com a TLP (que vai aproximar gradualmente o juro usado em empréstimos do BNDES às taxas de mercado)?
Os desembolsos do BNDES acompanham a cadência da economia. No ano que vem, teremos uma inflação de 3% a 4% ao ano e uma TLP de 6% a 7%. É um ambiente mais virtuoso para o crescimento e para o investimento. E o BNDES tem que estar pronto para isso, a economia brasileira precisa de liquidez.
De onde virão os recursos, se o Tesouro insiste na devolução de R$ 130 bilhões?
Virão da devolução do dinheiro que foi emprestado. Temos cerca de R$ 100 bilhões em amortizações para receber em 2018. E pretendemos fazer captações no Brasil e no exterior para não depender de fontes governamentais
07/11/2017 – O Globo