O Rio precisa de metrô e trem

Marcus Quintella*

O presente texto tem como objetivo dar uma concisa contribuição para subsidiar os programas de governo no que diz respeito à recuperação do degradado, descuidado, insatisfatório e insalubre transporte público da Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ).

O Rio de Janeiro, da mesma forma que a maioria das grandes cidades brasileiras, vem crescendo de forma desordenada e continua apresentando graves deficiências em sua mobilidade urbana. Os últimos governantes que passaram por aqui não demonstraram preocupação em garantir a melhoria da qualidade de vida da população, haja visto que, até hoje, a RMRJ não possui um sistema de transporte público ambientalmente sustentável, econômico, regular, abrangente, adequado e integrado, que proporcione benefícios sociais e econômicos para os cidadãos e promova a inclusão social das populações mais pobres.

Mesmo considerando a grave crise financeira do país, a penúria do governo fluminense e a escassez de investimentos públicos e privados, a solução para a recuperação do transporte público da RMRJ precisa ter como espinha dorsal o transporte metroferroviário, que, sem dúvida alguma, é indutor de desenvolvimento urbano sustentável, promotor da integração com os demais modos de transporte, causador de valorização imobiliária e gerador de empregos em diversos setores da economia, além de ser um importante vetor de reaquecimento econômico.

O governador do Rio de Janeiro que apostar no transporte metroferroviário, ou seja, metrô e trens, conseguirá reduzir expressivamente o número de acidentes e mortes no trânsito, economizar combustível, melhorar significativamente os índices de poluição sonora e atmosférica e proporcionar mais conforto e ganhos de tempo à população. No quesito tempo de viagem, por exemplo, nenhum outro modo de transporte poderá levar tanto benefício para as populações da RMRJ, que moram a grandes distâncias dos locais de trabalho e chegam a ficar de três a quatro horas por dia dentro de um meio de transporte, no trajeto casa-trabalho-casa.

Sem dúvida alguma os investimentos para a construção, recuperação, modernização e expansão do sistema metroferroviário da RMRJ são de grande monta, mas, em longo prazo, esses investimentos produzirão os magníficos benefícios citados anteriormente, que os tornarão plenamente viáveis sob o ponto de vista socioeconômico ambiental. O financiamento dessa ambiciosa proposta poderá ser estruturado por parcerias público-público, com os governos estadual e federal, por obras públicas, com recursos de empréstimos de organismos multilaterais, BNDES, Bird e BID; e por parcerias público-privadas com aportes públicos iniciais, bem como pela aplicação das arrecadações tributárias municipais incrementais, decorrentes da valorização imobiliária e expansão econômica nos entornos das linhas.

Segundo o Banco Mundial, em termos econômicos, o transporte público é a seiva que dá vida às cidades e, em termos sociais, pode contribuir com a redução da pobreza, pelo fato de ser o meio de acesso (ou de impedimento) ao trabalho, saúde, educação e serviços sociais essenciais ao bem-estar dos menos favorecidos. Na realidade, não há outra solução diferente do transporte metroferroviário para resolver os graves problemas de mobilidade urbana na RMRJ, visto que as vias urbanas já estão saturadas, e a construção de mais viadutos, mergulhões e linhas expressas somente criarão mais problemas para a população.

Em resumo, o Rio de Janeiro precisa dos seguintes projetos metroferroviários: extensão da Linha 4 até Alvorada, incluindo a conclusão da estação Gávea, para viabilizar a ligação da Barra ao Centro, passando por Gávea, Jardim Botânico, Humaitá, Botafogo e Laranjeiras; extensão da Linha 2, trecho Estácio-Cruz Vermelha-Carioca; fechamento do anel da Linha 1, com a construção do trecho Gávea-Uruguai; construção da Linha 3, ligando o centro do Rio a Niterói e São Gonçalo, sob a Baía de Guanabara; e a construção da Linha 5, de Alvorada ao Galeão, passando por Deodoro, Madureira e Penha; modernização e recuperação das linhas dos trens suburbanos da SuperVia. Além disso, a RMRJ carece de integração física e tarifária entre todos os modos de transportes, de forma a permitir aos usuários a utilização de um único bilhete entre origem e destino.

Cabe esclarecer que faltam muitas outras coisas a serem consideradas, em termos de transporte público para a RMRJ, mas um programa de governo estadual que venha a oferecer à população os valiosos benefícios do transporte metroferroviário, com integração aos demais modos de transporte e modicidade tarifária, certamente, levará grande vantagem na corrida eleitoral.

* Doutor em Engenharia de Produção pela Coppe/UFRJ; mestre em Transportes pelo IME e professor da FGV

16/08/2018 – Jornal do Brasil

 

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