Agravamento da pandemia no Ceará fez o governo paralisar o projeto por tempo indeterminado
Apenas duas semanas depois de ter assinado o contrato com o consórcio vencedor da licitação para a implantação do Bonde Elétrico Cultural e Turístico de Fortaleza, o governador do Ceará, Camilo Santana (PT) decidiu, no dia 14 de março, suspender o projeto por tempo indeterminado. Com a medida, tomada em função do agravamento da segunda onda da Covid-19 no estado, a previsão de entrega da operação comercial do sistema para maio de 2022 fica comprometida.
Quando o processo for retomado, o consórcio MPE Engenharia e Serviços/Temoinsa/MOB-Railway Tecnologia Engenharia/Comol Construções e Consultoria Moreira será responsável pelo desenvolvimento dos projetos executivos de arquitetura, engenharia e sistemas; aquisição do material rodante (serão no total três bondes movidos a bateria e/ou supercapacitadores recarregados nas estações, portanto, não haverá catenárias) e obras civis.
A MOB Railway é uma empresa criada em 2014 com especialização em consultoria e engenharia ferroviária. Um de seus sócios é Marcio Florenzano, ex-diretor comercial da fabricante de VLTs a diesel, Bom Sinal (hoje, integrante do Grupo Itapemirim). A Comol atua na área de serviços de engenharia e tem no portfólio projetos de rodovia, para execução de pavimentação, terraplanagem e saneamento. A MPE Engenharia também atua na área de engenharia e construções. Já a Temoinsa tem um longo histórico de projetos no setor ferroviário no Brasil. Um dos mais recentes foi a parceria com a chinesa Sifang para a produção dos trens da Linha 13-Jade da CPTM.
Será a primeira vez em sua história recente que Fortaleza terá um sistema operando com Veículo Leve so bre Trilhos (VLT) elétrico. Os projetos metroferroivários existentes hoje no Ceará incluem VLTs movidos a diesel, produzidos pela Bom Sinal, a exemplo do VLT de Cariri, de Sobral e de Parangaba-Mucuripe. A escolha, segundo a secretaria da Infraestrutura do Ceará (Seinfra), se justifica pela busca de uma composição silenciosa e sustentável que componha o ambiente urbano. A secretaria é a contratante do projeto e afirma que, depois de concluído, o sistema será operado pela Metrofor.
A extensão dos trilhos do bonde elétrico será de 2,1 km, com quatro paradas do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, na Praia de Iracema, até o Theatro José de Alencar, no Centro da capital cearense. Em cada viagem está previsto o transporte de até 230 passageiros. A bitola será standard (1.435 mm). As composições deverão ter entre 18 e 32 metros de comprimento e, no máximo, quatro metros de altura. E poderão alcançar velocidade de até 60 km/h.
O consórcio vencedor propôs o investimento total de R$ 115.964.842,07, aceito pela Comissão Especial de Licitação (CEL) 01 do Estado, vinculada à Procuradoria Geral do Ceará, responsável pelo certame. A proposta ficou 0,61% abaixo do limite orçamentário estabelecido pelo governo cearense, de R$ 116.675.367,92. Todo o montante será bancado pelo Tesouro do Ceará.
Outros projetos
Ainda que agora suspenso temporariamente em função da pandemia, a assinatura do contrato do projeto do Bonde Elétrico, em fevereiro, se concretizou quase cinco anos depois do lançamento do Plano Fortaleza 2040, do qual ele faz parte. Um dos principais objetivos do Plano é a promoção da mobilidade urbana.
Outro projeto que integra o Fortaleza 2040 é o VLT Parangaba- Mucuripe, que está em operação assistida desde 2020, sem cobrança de tarifa. Segundo a Seinfra, no momento está em construção um Centro de Manutenção exclusivo para os VLTs. Hoje, as manutenções são feitas no Pátio de Manutenção da Linha Sul, em Pacatuba, a cerca de 20 km do local onde o Centro será instalado, no bairro Vila União, em Fortaleza. A previsão é que o local fique pronto até o final deste ano.
Já o andamento da Linha Leste do Metrô de Fortaleza, que vai conectar o Centro ao bairro Papicu, onde permitirá integração com o VLT, ainda se arrasta. Após três anos paralisadas (entre 2015 e 2018) devido a diversos imbróglios judiciais e de financiamento junto ao BNDES, as obras tiveram o seu ritmo reduzido, logo no início da pandemia. Atualmente, são seis frentes de serviços para a construção das estações, poços de ventilação e escavação de túneis.
Com 7,3 km de extensão, a Linha Leste terá cinco estações ao custo de R$ 1,86 bilhão, sendo R$ 1,2 bilhão do governo do estado e o restante por meio de financiamento do governo federal. O pontapé inicial do projeto foi dado em 2013, na esteira de investimentos da União nas cidades- sede da Copa do Mundo de 2014. Como a previsão de entrega do sistema é até o final de 2022, a população de Fortaleza deverá passar por mais um Mundial sem o prometido legado do evento que sediou.
12/04/2021 – RF Notícias da Edição Janeiro/Fevereiro – 2021