Por Roberta Marchesi*
O recente acidente que aconteceu no monotrilho Linha 15-Prata, do metrô de São Paulo, trouxe à tona o tema da segurança no setor metroferroviário. E, embora os sistemas de trilhos tenham papel fundamental na mobilidade diária de 9 milhões de passageiros no Brasil, muitos se perguntaram sobre a segurança do sistema metroferroviário.
Como o transporte de passageiros sobre trilhos possui riscos específicos, associados às condições de tráfego, às características da infraestrutura, aos complexos sistemas e equipamentos e ao grande fluxo de usuários, a segurança operacional é a primeira e a maior preocupação dos operadores.
Acidentes em metrôs ocorrem, mas, felizmente, eles são raros. As estatísticas mais recentes disponíveis mostram que, em média, ocorrem cerca de 10 a 15 ocorrências graves de metrô por ano, em todo o mundo. No entanto, é importante notar que, em comparação com outros modais de transporte, o metrô é considerado o mais seguro.
Estatísticas de 2020 registram 12.542 acidentes envolvendo o transporte de ônibus, no Brasil, resultando em 843 mortes e 13.906 feridos. Já com relação aos carros, o cenário é desolador. Segundo dados do seguro DPVAT, no mesmo ano, foram pagas 260.154 indenizações por morte ou invalidez em decorrência de acidentes de trânsito envolvendo automóveis. E, de acordo com números da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), ainda se somam a esse cenário 167.000 acidentes envolvendo motocicletas.
O bom desempenho do setor metroferroviário brasileiro é resultado da adoção de rigorosos protocolos de segurança e de manutenção, como os praticados pelos principais operadores no mundo. Esses protocolos envolvem a circulação dos trens, os centros de controle operacionais (CCOs), os pátios de manutenção e as estações.
No Brasil, os trens de passageiros são equipados com avançados mecanismos de segurança que ajudam a evitar colisões e descarrilamentos. Eles também contam com programas de monitoramento de velocidade e de alerta que sinalizam aos condutores qualquer perigo potencial à frente. Além disso, os veículos possuem câmeras de segurança, internas e externas, que auxiliam a monitorar o comportamento dos passageiros e a detectar possíveis ameaças.
Conectados com os trens, os CCOs desempenham papel vital na segurança de todo o sistema, além de garantirem a eficiência e a pontualidade dos serviços. Eles são responsáveis por monitorar e gerenciar a operação dos trens, das estações e a segurança dos passageiros. São equipados com programas de comunicação e monitoramento de tráfego, em tempo real, permitindo que os controladores respondam rapidamente a qualquer situação de emergência.
Prevenção de acidentes
Outro ponto importante é a manutenção dos trens, da infraestrutura e dos equipamentos. A falta dela pode levar a falhas mecânicas, mau funcionamento de áreas críticas, aumento do desgaste das peças e dos componentes, entre outros problemas que podem colocar em risco a segurança dos passageiros e das operações.
No Brasil, os sistemas metroferroviários passam por manutenção regular para garantir que estejam em condições adequadas, e as equipes de operação e manutenção trabalham continuamente para garantir que tudo esteja funcionando de forma segura e eficiente. Para ter uma ideia da seriedade com que esse tema é tratado pelos operadores, só no ano passado, mais de 10 milhões de horas de trabalho foram dedicadas à manutenção dos sistemas, em todo o País.
As estações dos sistemas de transporte de passageiros sobre trilhos também possuem protocolos de segurança. Os empregados responsáveis pela área de circulação de trens e das estações são treinados para lidar com situações críticas e para ajudar os passageiros em caso de problemas.
A segurança das pessoas e das operações são uma prioridade para as empresas metroferroviárias e para as autoridades regulatórias. Os passageiros também devem fazer sua parte, seguindo as instruções de viagem e tomando as precauções adequadas. São essas medidas combinadas que vão garantir que as viagens de trem e metrô sejam a maneira mais segura e eficiente de se deslocar nas cidades.
Roberta Marchesi
Diretora Executiva da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos), Conselheira de Administração de empresas de transporte, Mestre em Economia e Pós-Graduada nas áreas de Planejamento, Orçamento, Gestão e Logística.
Artigo publicado no jornal O Estado de S.Paulo, na coluna Estadão Mobilidade, em 22 de março de 2023.