Por Roberta Marchesi
O mundo vive sua maior crise sanitária com a pandemia do novo coronavírus, que atingiu todos os continentes. Já são mais de 117 milhões de casos e 2,6 milhões de mortes. No Brasil já perdemos mais de 265 mil vidas ao longo deste um ano de pandemia.
Uma calamidade mundial que exigiu a adoção de medidas que estão transformando a vida das pessoas e das cidades. O convívio social e as atividades econômicas foram ajustados no início da crise, com empresas e escolas em atividades remotas, e o comércio funcionando em horário reduzido. Agora, um ano depois, estamos enfrentando a 2ª onda de contaminação e as restrições voltaram a ser intensificadas, enquanto o governo corre contra o tempo para imunizar a população.
O coronavírus impactou na vida das pessoas, na sociedade e nos setores econômicos como o transporte, que passa por sua maior crise após a redução drástica de demanda. O setor chegou a operar com 15% dos passageiros que costumavam movimentar antes da pandemia, e, hoje, o patamar está em torno de 50% da demanda. Já são mais de R$ 17 bilhões de déficit com bilheteria no transporte público, sendo mais de R$ 8 bilhões nos sistemas sobre trilhos.
Mesmo diante desse déficit, os transportadores mantiveram os níveis operacionais e intensificaram a limpeza de estações e trens, usando tecnologias e produtos de desinfecção; reforçaram o treinamento de equipes de atendimento e ampliaram as campanhas de orientação e conscientização dos passageiros. Para se manter e conseguir adquirir os insumos essenciais, os operadores metroferroviários postergaram pagamentos e renegociaram dívidas. O tempo está passando, a situação agravando e, em breve, essa conta será cobrada e não haverá recursos para honrar os compromissos.
Alarmados com a crise no transporte e a eminência de paralisação, o setor continua sua árdua jornada de reuniões com os governos federal e estaduais em busca de recursos financeiros para manter a operação. Mas, infelizmente, até o momento não houve suporte governamental para o serviço essencial de transporte, diferente do que ocorreu com outros setores que já foram socorridos.
A situação é crítica e uma possível paralisação das operações prejudicará os trabalhadores que saem diariamente de suas casas para manter os serviços essenciais. Para essas pessoas não existe trabalho remoto e elas se deslocam para que os demais setores possam conservar suas atividades de casa.
Essa crise deve perdurar e para que não haja a falência do transporte é necessária a reestruturação do setor com planejamento de longo prazo, eliminação de sobreposição de linhas, novos instrumentos de financiamento do transporte, garantias para crises, entre outas medidas necessárias para dotar o Brasil de uma rede de transporte estruturada e integrada.
As medidas existem e estão à disposição dos governantes, mas é preciso que eles ajam com celeridade e comprometimento, pois, caso contrário, a população pagará pela ineficiente da gestão pública.
* Roberta Marchesi é Diretora Executiva da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos), Mestre em Economia e Pós-Graduada nas áreas de Planejamento, Orçamento, Gestão e Logística.
Artigo publicado no Jornal O Tempo (MG), no dia 12 de março de 2021.