Metrô busca recuperar passageiros, apesar da lenta expansão de seu serviço
O metrô do Rio chegou aos 25 anos de concessão com dois grandes desafios pela frente. O primeiro é recuperar o volume de passageiros transportados antes da pandemia, que caiu dos cerca de 900 mil diários para 650 mil. O outro é tirar do papel antigos projetos, como o de ligação do Estácio com a Praça Quinze, que já fazia parte dos planos iniciais para o sistema inaugurado em março de 1979, mas nunca se concretizou. O trecho de pouco mais de 3km é considerado fundamental por ajudar a desafogar a Linha 2, que parte da Pavuna e é o que está mais próximo de atingir o patamar do número de passageiros que eram transportados até 2019.
O sistema de metrô do Rio foi o primeiro do país a ser privatizado, e os atuais concessionários o receberam, em 1998, com 24 estações e 28 km de extensão de trilhos. Nessas duas décadas e meia de concessão, a malha cresceu para 41 estações e 54,4 km de extensão, além de contabilizar mais de 4 bilhões de embarques em três linhas, segundo dados oficiais.
Contudo, apesar dos avanços nesse período, segue em ritmo mais lento que o metrô de São Paulo, por exemplo, cuja operação foi iniciada pouco antes, em 1974, e tem o dobro da extensão. Somente nos últimos cinco anos, o metrô paulista abriu 21 novas estações e expandiu em 27km sua operação, enquanto no Rio o sistema ficou estagnado. A última expansão foi a criação da Linha 4, inaugurada em 2016.
Na avaliação do presidente do conselho da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANP Trilhos), Joubert Flores, a diferença entre Rio e São Paulo é que o metrô paulista foi beneficiado por uma política de investimentos contínua, o que não aconteceu por aqui. Por contrato, a concessionária Metrô Rio responde pela operação e manutenção do sistema, cabendo ao governo do estado investir em expansão, compra de trens e construção de novas estações.
— O sistema de São Paulo começou a operar em 1974 e, mesmo que sejam lentos os investimentos, nunca pararam. Já são 100 km de linhas de metrô, com a expansão da linha 2 em curso, construção das 6 e 17, expansão da linha 15 e pelo menos três outras sendo estudadas. Tudo bem que São Paulo tem uma capacidade de recursos maior do que o Rio, mas somos o exemplo contrário. Em 1987, começou a construção da plataforma da Carioca (para a ligação entre Estácio e Praça Quinze) e, mais de 30 anos depois, segue paralisada. Naquele mesmo ano começou a fazer a construção do metrô para Ipanema, que só foi inaugurado em 2010. Também no mesmo ano foi iniciada a estação da Pavuna só inaugurada em 1998, 11 anos depois — criticou Flores.
Oito anos de espera
Anunciado como prioridade pelo governo do estado diversas vezes, a ligação entre Estácio e Praça Quinze, passando pela Cruz Vermelha, ameaçou virar realidade pela última vez em 2015, mas a promessa saiu dos trilhos por conta da crise financeira na qual o estado embarcou logo a seguir. O trecho é considerado importante porque vai ampliar a capacidade de passageiros da Linha 2, atualmente a de maior carregamento de usuários, além de permitir a integração com as barcas. Há oito anos, esperava-se que a ligação colocasse mais 400 mil passageiros no sistema — depois da pandemia e com a consequente fuga de usuários dos sistemas de transportes públicos, esse número terá de ser revisto quando o projeto voltar a andar. A expectativa é que, ao chegarem à estação de São Cristóvão, os passageiros vindos da Zona Norte sigam para a estação do Estácio e, lá, entrem nos novos trilhos até a Praça Quinze.
A plataforma, chamada de “estação fantasma”, mas oficialmente batizada de Carioca 2, começou a ser construída nos anos 1980, abaixo da estação que atende os trens da Linha 1. Ela está bem adiantada, com a parte de alvenaria pronta e faltando acabamentos. Já há inclusive o espaço onde entrarão os trilhos e as escadas rolantes, fazendo a ligação com o piso superior.
Berenaldo Lopes, presidente da Associação de Moradores e Amigos do Centro Residencial, região que inclui Bairro de Fátima e Cruz Vermelha, lembra que, no começo da década de 1980, o espaço onde seria construída a estação da Cruz Vermelha chegou a ser cercado por tapumes. Mas, como as obras não avançaram, os próprios moradores retiraram a cobertura de madeira do local. Na sua avaliação, a criação do novo trecho do metrô só trará benefícios:
— Vai ser útil tanto para moradores como para pessoas que trabalham na região e aquelas que utilizam os serviços dos hospitais daqui, como é o caso do Inca.
Custo como problema
Ronaldo Balassiano, professor aposentado do programa de Transporte da Coppe/UFRJ, considera ser fundamental a conclusão da estação Gávea, que faz parte da Linha 4, bem como a construção do trecho entre Estácio e Praça Quinze. Porém, tem uma visão pouco otimista com relação aos projetos de expansão do metrô, por conta do alto custo e das dificuldades de financiamento pelo estado.
—Fazer novos trechos depende de recursos, e cada quilômetro de metrô tem um custo muito elevado. Hoje, sem verbas ou financiamento é praticamente impossível fazer qualquer expansão. A questão do custo é que deixa esses projetos no meio do caminho — pontuou, exemplificando com a estação Gávea, que nunca foi concluída e, a seu ver, pode abrir caminho para uma extensão até Botafogo, passando pelo Jardim Botânico. — São Paulo é uma exceção no Brasil. Lá, as questões de transporte público costumam funcionar melhor que o Rio porque tem uma pujança maior em termos de recursos e empresas que colaboram com investimentos.
O outro problema enfrentado pelo metrô diz respeito à queda de passageiros que ainda não voltaram aos mesmos índices de antes da pandemia. Apesar de a concessionária ter comemorado o fechamento do ano de 2022 com crescimento de 39,8% no volume de passageiros transportados, em comparação com 2021, no dia a dia, a recuperação ainda está em torno de 75%.
Para garantir o equilíbrio econômico-financeiro do acordo, a concessionária assinou com o governo do estado dois termos aditivos ao contrato, um no valor total de R$ 327,7 milhões e outro de R$ 109,5 milhões, sendo este último em créditos regulatórios, convertidos em investimentos no sistema.
Independentemente dos desafios, o presidente do Metrô Rio, Guilherme Ramalho, faz uma boa avaliação dos 25 anos de concessão, completados no começo de abril:
— Nestes 25 anos, o modelo (de concessão) se mostrou positivo. É um serviço muito bem avaliado. A empresa construiu uma cultura muito voltada à qualidade dos serviços e atendimento ao usuário.
A Secretaria de Estado de Transporte e Mobilidade Urbana informou que trabalha para dar soluções que melhorem o funcionamento do sistema de transporte urbano de forma integrada, e que o modal metroviário tem duas prioridades dentro do Plano Decenal, elaborado pelo governo do estado. Uma delas é a conclusão da obra da estação Gávea, da Linha 4, que está sendo definida pelo governo. “A secretaria está aprovando, nos órgãos de controle, a proposta para que ela seja, enfim, terminada e posta em operação ainda este ano. O desfecho está próximo”, garantiu a pasta.
11/05/2023 – O Globo