Passageiros de trens tiveram 203 viagens canceladas ou interrompidas devido ao furto de cabos somente no mês de janeiro

Ao longo do primeiro mês do ano, a concessionária registrou o furto de 5,7 mil metros de cabos do sistema. Na manhã desta terça (15), trens operavam com atraso no ramal Saracuruna por furto de cabos.

Ao longo do mês de janeiro deste ano, a SuperVia cancelou ou interrompeu 203 viagens por causa do furto de cabos. Neste período, a concessionária de trens urbanos do Rio de Janeiro registrou o furto de 5,7 mil metros de cabos do sistema, um crescimento de 400% em comparação com o mesmo mês do ano passado. Em janeiro de 2021, 1.425 metros de cabos foram levados pelos bandidos.

“No ano passado, em janeiro de 21, não tivemos nenhuma viagem impactada dessa forma. E no ano todo, foram 1.492 viagens canceladas ou interrompidas por este tipo de crime. Ou seja, só em janeiro tivemos quase 14% de tudo o que ocorreu no ano passado”, afirmou Antônio Carlos Sanches, presidente da SuperVia.

Na manhã desta terça-feira (15), inclusive, os trens operavam com atrasos no intervalo entre a Central do Brasil e Gramacho, no ramal Saracuruna, por causa do furto de cabos. Os intervalos entre as composições foram ampliados por medida de segurança,

O ramal mais afetado no começo deste ano foi o Deodoro, com 42 furtos ao longo do primeiro mês do ano, seguido pelo Japeri, com 27 casos, Saracuruna, com 22; Belford Roxo, com 20 e Santa Cruz, com 8 furtos.

De acordo com a concessionária, apenas em janeiro, o prejuízo causado pelo furto de cabos custou mais de R$ 216 mil.

Reclamações

As reclamações dos passageiros por conta dos atrasos e da superlotação dos vagões logo cedo se tornaram rotina para os passageiros do sistema, assim como a operação parcial de alguns ramais.

Com o furto, o trecho afetado passa a ser operado via rádio.

“Com o furto de cabos, os trens passam a não ser registrados, ou seja, não aparecem nas telas dos controladores. Os sinais ficam com problemas. Os maquinistas precisam de uma ordem via rádio para prosseguir nos cruzamentos ou não. Por este motivo os trens passam a circular bem mais devagar”, disse Sanches.

No fim de janeiro, uma passageira reclamou sobre os problemas no sistema.

“Eu acho um absurdo, pois a gente trabalha tanto e o salário é tão pouco e a gente tem que pagar muito caro em uma passagem que não é boa, em um transporte que não está legal. Os trens sempre cheios”, afirmou uma usuária do sistema.

Preço da passagem

Por conta dos problemas no transporte, o preço da passagem também é alvo de questionamentos. O reajuste da tarifa que estava previsto para entrar em vigor em fevereiro deve começar a ser cobrado no dia 4 de março, de acordo com o blog do jornalista Edimilson Ávila.

A tarifa estava prevista para subir de R$ 5 para até R$ 7, conforme deliberado pela Agetransp no início de janeiro. Desde então, o governo do estado negociava com a Supervia aplicar um reajuste menor.

O Blog apurou que a tarifa não deve passar de R$ 6.

O preço da tarifa já foi alvo de crítica até nos versos de Xamã, dono de um dos maiores hits do ano, “Malvadão 3”, que já foi usuário do sistema.

“Eu morava em Sepetiba, Zona Oeste do Rio, depois da última estação de trem, que é Santa Cruz. Quando eu conseguia a condução para chegar no lugar, todo o resto das coisas era mais tranquilo”, falou o músico sobre a importância de um transporte de qualidade para a população em entrevista ao g1.

Mudança de perfil

De acordo com o presidente da concessionária, o perfil das pessoas que roubam os cabos das linhas férreas mudou ao longo dos últimos dois anos: se antes era comum observar pequenos criminosos e usuários de drogas que buscavam dinheiro para o próprio sustento, atualmente é mais comum observar quadrilhas organizadas.

“A operação tem sido fortemente afetada pelo crime de furto de cabos. O problema ficou mais grave em, 2021, em função da pandemia, da crise econômica e do aumento do cobre. O que nós vemos hoje não são apenas os usuários de drogas furtando cabos, mas quadrilhas fortemente armadas que chegam até com caminhões para recolher o material”, afirmou Sanches.

Com o agravamento do problema, a empresa afirma que está em contato com a polícia.

“Nós mapeamos vários pontos críticos e informamos as autoridades competentes. Temos contato direto e constante sobre este tipo de atividade. É importante lembrar que a segurança pública nos trens e estações ao longo da via férrea é uma atribuição do governo do estado, que atua por meio dos seus órgãos policiais. Os agentes de controle da empresa não possuem poder de polícia para ter uma ação mais efetiva”.

Procurada pelo g1, a Polícia Militar informou que a força-tarefa para o combate ao furto e cabos na línha férrea, criada em setembro do ano passado, seguirá operando por tempo indeterminado. E que as polícias Militar e Civil atuam em conjunto com a Secretaria Estadual de Transportes, a Supervia e as prefeituras da capital e das cidades da Baixada Fluminense para restabelecer a ordem na malha viária.

As ações incluem, além do combate ao furto de cabos, a repressão ao comércio de produtos irregulares e crimes nas estações.

Segundo a PM, de 1º de janeiro do ano passado a 24 de janeiro deste ano, 27 pessoas foram presas por equipes do Grupamento de Policiamento Ferroviário (GPFer) em flagrante cometendo furtos de materiais da Supervia. Ao longo do período, mais de 1.792 metros de cabos de sinalização foram recuperados, além de outros itens (veja a nota completa no fim da reportagem).

Ano passado

Segundo dados da concessionária, ao longo de todo o ano de 2021, 1.492 viagens foram canceladas ou interrompidas por este tipo de crime. Ao longo de todo o ano, foram 861 ocorrências de furto de cabos de cobre usados na sinalização.

Em consequência deste tipo de crime, foi preciso repor 6,3 quilômetros de cabos ao longo do ano, representando um gasto de R$ 1,65 milhão com a recolocação destes itens furtados.

Nota da Polícia Militar:

A Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar informa que, em operação desde setembro de 2021, a força-tarefa criada pelo governador Cláudio Castro segue por tempo indeterminado. As Polícias Militar e Civil estão atuando em conjunto com a Secretaria de Transportes, a SuperVia e prefeituras da capital e de cidades da Baixada Fluminense para restabelecer a ordem na malha ferroviária, o que inclui o combate a roubos e furtos de equipamentos que prejudicam a operação regular das composições da SuperVia, reprimir o comércio irregular de produtos contrabandeados e pirateados nas estações ferroviárias, apoiar órgãos municipais no ordenamento urbano, entre outras ações.

O efetivo do Grupamento de Policiamento Ferroviário (GPFer) foi reforçado para atuar nas estações e malha ferroviária, com apoio dos batalhões dos bairros e cidades cortados pela via férrea, que atuam com apoio dos policiais do Batalhão de Rondas Especiais e Controle de Multidões (RECOM) e do Grupamento Aeromóvel (GAM).

Como resultado desses esforços empregados pelas equipes do GPFer, de 01 setembro de 2021 até 24 de janeiro de 2022, 27 indivíduos foram presos em flagrante cometendo furtos de materiais da Supervia.

Além disso, desde 01/09/2021 até 24/01/2022, foram apreendidos 1.792 metros de cabo de sinalização; 160 metros de cabos de aterramento; 37 parafusos; 30 componentes eletrônicos; 48 ferramentas diversas e aproximadamente 150 quilos de peças de ferro.

Cabe ressaltar que esses resultados apresentados pelo GPFer não incluem as prisões e apreensões realizadas por unidades dos batalhões de áreas e pela Polícia Civil, relacionadas a infrações que afetam o funcionamento da malha ferroviária servida pelas composições da Supervia.

16/02/2022 – g1 Rio