Quem anda pela Cidade Universitária, no Rio de Janeiro, pode ver uma bela instalação de ferro que liga o prédio do Centro de Tecnologia (CT) ao CT2. Por essa moderna linha férrea, passa o Maglev-Cobra, trem de levitação magnética desenvolvido pelo Laboratório de Aplicações de Supercondutores (Lasup), do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe/UFRJ). O veículo é o mais avançado do seu tipo e conta, atualmente, com duas novas propostas de melhorias.

Com 200 metros de trajeto e capacidade de 20 passageiros, o trem de levitação magnética da Coppe vem sendo desenvolvido desde 2000 e foi apresentado pela primeira vez em 2014.

Atualmente apenas três países têm trens de levitação magnética em circulação: Coreia do Sul, China e Japão. Porém, segundo Richard Magdalena Stephan, professor da Coppe, a tecnologia empregada nesses veículos é de ímãs atrativos, enquanto a utilizada no Maglev-Cobra é de ímãs de terras raras, uma alternativa mais segura e barata.

“O Brasil é líder nas pesquisas do tipo, seguido pela Alemanha (com o Supratrans) e a China (com o SuperMagLev),países que também realizam estudos para o desenvolvimento de trens de levitação por ímãs de terras raras”, contou.

Com mais de 80% da população nas cidades, o Maglev se torna uma excelente opção de melhoria na mobilidade urbana: um transporte mais rápido, leve, com menor impacto ambiental e, muitas vezes, mais barato. A linha 4 do Metrô Rio, por exemplo, teve um custo de 300 milhões de reais por quilômetro em cada sentido. A tecnologia da Coppe poderia custar cerca de 40 milhões – o mesmo que o VLT e um pouco mais caro que o BRT, que custou aos cofres públicos 30 milhões de reais por quilômetro em cada sentido –, mas com muito mais eficiência.

Novas pesquisas fazem o trem avançar ainda mais

Duas novas pesquisas buscam propor melhorias aos sistemas do Maglev-Cobra. O primeiro estudo atua diretamente no resfriamento dos materiais que garantem a levitação. Segundo Felipe dos Santos Costa, um dos pesquisadores envolvidos, quando as cerâmicas se encontram abaixo da sua temperatura crítica, há necessidade de refrigerar esses materiais com nitrogênio líquido. Como o veículo utiliza 24 levitadores, o processo de abastecimento dessa substância se torna muito difícil de ser feito de forma prática. O sistema desenvolvido pelos pesquisadores realiza a automação desse processo. “Permite um abastecimento rápido e seguro,podendo ser escalonado para um veículo de maior porte. É uma solução que traz rapidez, praticidade e segurança na operação desse sistema de transporte”, explica Costa.

A segunda pesquisa realizada na Coppe estuda melhorias nos sistemas de freio utilizados no Maglev-Cobra. Por não conter rodas, o trem realiza um processo de movimentação por meio da ação de um motor linear que não produz movimento rotativo. Dessa maneira, a utilização de sistemas convencionais como os de carros não é possível. A equipe desenvolveu, então, um sistema primário de frenagem no próprio motor, que é acionado no reverso para reduzir a velocidade até a sua parada.

“No instante de velocidade zero, o sistema entra em ação,com as sapatas de freio imprimindo força contra a estrutura localizada na via. Esse sistema impede que o veículo fique solto durante as paradas para embarque e desembarque. Também tem a função de freio de emergência caso o freio motor não funcione. Nesse caso, o freio mecânico pode ser acionado para reduzira velocidade do veículo e provocar sua parada”, descreveu Costa.

O pesquisador defendeu que essas iniciativas mantêm o Maglev-Cobra à frente dos concorrentes alemão e chinês, que estão em estágios de pesquisa menos avançados, com veículos apenas em ambiente de laboratório e capacidades bastante reduzidas, com dois e oito passageiros respectivamente.

“Assim, as duas invenções colocam o Brasil à frente de seus concorrentes, uma vez que a partir delas é possível entregar soluções práticas e testadas em ambientes reais para o uso comercial dessa tecnologia.”

O Maglev-Cobra opera desde 2015 na Cidade Universitária, com funcionamento testado e aprovado durante mais de cinco anos e mais de 20 mil passageiros. Para que o trem possa virar realidade nas cidades, são necessários mais investimentos para a automação e a criação de uma malha viária mais ampla.

15/09/2020 – Conexão UFRJ