Vicente Vuolo
As cidades brasileiras continuam apresentando alto índice de poluição, uma das responsáveis pelas mudanças climáticas no planeta. Os transportes e os resíduos constituem os grandes fatores de emissões de gases de efeito estufa.
A polêmica do VLT em Cuiabá é uma questão muito maior do que simples disputa entre um modal e outro. Entre outros pontos importantes, envolve também o meio ambiente. Um aspecto fundamental para nós que, queremos realmente um país mais saudável para a próxima geração.
As cidades brasileiras continuam apresentando alto índice de poluição, uma das responsáveis pelas mudanças climáticas no planeta. Os transportes e os resíduos constituem os grandes fatores de emissões de gases de efeito estufa.
Essa foi a principal conclusão dos participantes da II Jornada sobre o Clima nas Cidades, ocorrido entre os dias 23 e 25 de fevereiro, em Fortaleza (Ceará), promovido pelo Iclei-Governos Locais pela Sustentabilidade. Vários gestores públicos de diferentes municípios do Brasil apresentaram estratégias de mitigação e adaptação às mudanças climáticas nas cidades.
De acordo com dados apresentados pelos palestrantes, cerca de 30% dos municípios brasileiros tiveram, em 2015, algum evento climático extremo ligado às mudanças climáticas.
Com relação à mobilidade, a frota cada vez maior de veículos particulares e de ônibus (diesel) são responsáveis pelo aumento dos engarrafamentos e da emissão de gases de efeito estufa. O resultado disso é a baixa produtividade dos sistemas de transporte coletivo, que já é de baixíssima qualidade. São justamente as populações mais pobres que sofrem com uma qualidade de transporte ruim e com um trânsito engarrafado. Mas a desigualdade social nunca é considerada, apesar de as populações de baixa renda serem mais vulneráveis aos efeitos climáticos, por terem dificuldades estruturais de adaptação.
A forma mais evidente de poluição do ar que encontramos rotineiramente em grandes centros urbanos – como é o caso de Cuiabá e Várzea Grande – onde há grande concentração de pessoas, são os resíduos produzidos pela combustão do diesel que movimenta a frota de caminhões e ônibus e que são lançados no ar que respiramos. A fumaça preta que sai dos escapamentos dos veículos a diesel é formada pela mistura de poluentes gasosos e particulados nocivos à saúde humana. Dentre os poluentes emitidos por motores a diesel alguns se destacam, tais como: óxidos de carbono (CO e CO2), óxidos sulfúricos (SOx), óxidos de nitrogênio (NOx), henoidrocarbonetos aromáticos (HA). O monóxido de carbono (CO), por exemplo, é uma substância que prejudica a oxigenação dos tecidos e, por isso, é classificada como um asfixiante sistêmico.
Pesquisa realizada pela Universidade da Califórnia mostra que os veículos movidos por diesel são responsáveis por 80% da poluição no país. A frota de veículos movida em São Francisco – no Estado americano da Califórnia – é de apenas 10%, número muito inferior aos automóveis que utilizam gasolina. Esses 10% são responsáveis por cerca de 60% da produção de aerossóis orgânicos secundários (AOS), partículas nocivas à saúde humana. De acordo com outra pesquisa realizada pela Universidade de Berkeley (Califórnia), em todo o país, o diesel é responsável por 80% da emissão dessas partículas. Os estudos foram os primeiros a comparar a produção de AOS na atmosfera proveniente de automóveis movidos a diesel e gasolina. Os AOS são responsáveis por 90% dos danos causados à saúde humana provenientes de poluentes de escapamentos de carros. Elas são formadas na atmosfera a partir de gases que são emitidos por veículos automotores e também ajudam agravar o aquecimento global, além de possuírem um efeito a longo prazo semelhante ao do cigarro.
Por tudo isso, é fundamental que os governantes e os planejadores urbanos tenham o meio ambiente como elemento de peso fundamental quando escolherem alternativas de transporte urbano e quando pensarem soluções para os problemas das cidades e regiões metropolitanas.
Temos que reduzir o número de automóveis. O transporte de massa é a solução. Qualquer transporte? Não. Hoje, sabemos que há alternativas umas melhores que as outras. O VLT é melhor que o ônibus diesel. O monotrilho é melhor que ambos em áreas pequenas e se existem recursos disponíveis. O trem metropolitano é adequado em algumas situações e para grandes volumes de passageiros. Enfim, há modelos que sozinhos ou de forma combinada podem atender situações específicas.
No caso de Cuiabá e Várzea Grande, não podemos desprezar os benefícios do VLT. Não somente porque já foi gasto muito dinheiro na obra (parte desviada, segundo investigações em curso), mas principalmente porque é uma alternativa que traz benefício à mobilidade urbana e ao meio ambiente (incluindo a saúde da população).
É fundamental que nossa sociedade esteja atenta, fiscalizando os gastos e exercendo o controle social sobre onde o nosso dinheiro é gasto. Fundamental também é que estejamos bem informados sobre todos os aspectos que envolvem obras de vulto, e que possamos defender nossa saúde e nosso ambiente.
*Vicente Vuolo – economista,cientista político e analista legislativo do Senado Federal. E-mail: vicente.vuolo10@gmail.com