As concessionárias e empresas responsáveis pelo transporte público no RJ perderam, desde o começo do ano, R$ 6,9 milhões com roubos, furtos, depredações e tiroteios nos sistemas operacionais.
O G1 tabulou a conta da insegurança e entrevistou passageiros – os que mais sofrem com os atrasos e as avarias. Representantes dos meios de transporte que circulam na Região Metropolitana também foram ouvidos.
Vandalismo nos trens
No transporte ferroviário, os principais problemas são o roubo de cabos e os tiroteios, que impactam na pontualidade do serviço.
De acordo com a Supervia, de janeiro a junho foram 47 casos de furtos de cabos. Isso representa um prejuízo de R$ 2,7 milhões. Ao longo de todo o ano passado, a perda foi de R$ 6 milhões apenas com a reposição desse item.
Segundo João Gouveia, diretor de Operações da Supervia, o protocolo exige que, depois de cada furto, a liberação da via não pode ser baseada no sistema eletrônico. Em vez disso, é preciso que alguém com um rádio no local avalie o dano e autorize a volta da circulação.
“Quando você furta um cabo, você impacta essa sinalização. De uma estação para outra, se ele furtou o cabo ali, eu tenho que fazer o ‘licenciamento’ [liberação] via rádio. Nós temos 102 estações. Dependendo do horário, o transtorno é muito grande”, explicou Gouveia.
Os locais identificados como os mais críticos em casos envolvendo o furto de cabos são os bairros Triagem, Madureira, São Cristóvão e Corte Oito, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
Em caso de furto, os funcionários da concessionária são orientados a chamar o GPFer, o Grupamento de Polícia Ferroviária da Polícia Militar.
Somando esse prejuízo às perdas causadas pela reposição de para-brisas atingidos por pedras, escadas rolantes e elevadores danificados, a despesa foi de R$ 10 milhões em 2018.
Este ano, os casos de depredação de escadas rolantes e elevadores aumentaram. Foram 20 elevadores e 20 escadas rolantes danificados no primeiro semestre. No mesmo período do ano passado, foram 16 elevadores e 6 escadas rolantes.
Também de janeiro a junho, foram 39 para-brisas atingidos por pedras, 24 pichações ou grafitagens e 107 casos de janelas e visores de porta dos trens arrancados durante as viagens.
Tiroteios na linha férrea
Os tiroteios também geram prejuízo. Desde o começo do ano, foram 41 interrupções na circulação nas 102 estações dos cinco ramais.
De acordo com um levantamento da concessionária, foram 43 horas e 40 minutos com operação alterada, 270% a mais do que no mesmo período do ano passado, quando foram registradas 10 paradas por causa de confrontos.
“Às vezes tem tiroteio em Manguinhos e você fica uma hora aí. Eu venho todos os dias cuidar da minha mãe, que tem Alzheimer, e às vezes eu chego atrasada para levá-la ao médico”, explicou Maria Aparecida Ferreira, que mora em Olaria.
A conferente Telma Angélica, que costuma usar o sistema, confirma os transtornos. “Se a gente tem um compromisso e não chega naquele horário, desanda tudo”, desabafou.
O diretor de operações da Supervia detalha o problema. “Seja por questão da força policial adentrando nas comunidades, ou entre as comunidades, nós não podemos circular com os trens numa situação dessa por questão de segurança”, ressaltou Gouveia.
A maioria das interrupções por causa de tiroteios ocorreu nas proximidades da Estação Manguinhos, do Ramal Saracuruna. Foram 18 alterações.
Em seguida estão as regiões do Jacarezinho, do Ramal Belford Roxo, e de Senador Camará, no Ramal Santa Cruz, com cinco interrupções cada.
Quando ocorre um tiroteio na região da linha férrea, a liberação de circulação, que é automatizada, também enfrenta lentidão. O procedimento é feito por rádio por operadores que estão na Central e entram em contato com cada um dos condutores a cada semáforo.
A confirmação de circulação é feita duas vezes em cada uma destas paradas para ter certeza de que o condutor compreendeu a mensagem corretamente.
Segundo cálculos da Supervia, 174 mil passageiros foram impactados apenas pela violência causada por tiroteios, gerando uma perda de R$ 200 mil. O prejuízo também leva em consideração os passageiros que deixaram de usar o sistema e reembolsos.
Ônibus
O principal prejuízo apontado pela Fetranspor – o sindicato que representa os empresários do transporte rodoviário urbano do Rio – é a queima de ônibus. Foram nove no primeiro semestre.
Cada veículo perdido equivale a um custo médio de R$ 450 mil. No total, a Fetranspor calcula um prejuízo de R$ 4,05 milhões, apenas em 2019.
“Da totalidade desses ônibus que foram incendiados, 40% deles são com ar condicionado, que é o requisito de qualidade mais importante que a população carioca tem pedido”, destacou Guilherme Wilson, gerente de planejamento da Fetranspor. Ele acrescenta que, desde 2016, foram 192 ônibus queimados.
Cada veículo que é retirado das ruas por qualquer forma de dano leva, pelo menos, seis meses para ser colocado novamente em circulação. Isto nos casos em que um novo ônibus realmente volta a rodar.
Os problemas relacionados à violência no Rio e na Região Metropolitana fazem com que as seguradoras não fechem contratos com as empresas.
“O nível de risco para uma seguradora do transporte coletivo por ônibus no RJ, em especial, leva as seguradoras a não fazer seguro para ônibus. Não há seguridade no patrimônio das empresas nesse aspecto, dos ônibus incendiados”, lamentou Wilson.
Os danos de cada empresa com destruição de assentos, portas e elevadores não é necessariamente contabilizado, pois muitas vezes as empresas têm peças em seus estoques e fazem a reposição em oficinas próprias.
A violência dentro dos ônibus também preocupa os empresários. De janeiro a junho, o número de assaltos a passageiros cresceu 14% no Estado do RJ, a maior parte deles na Região Metropolitana. Foram 8.761 casos no primeiro semestre.
BRT
Questionado pelo G1, o sistema BRT afirmou que ainda não tem números de prejuízos causados por calotes e outros danos este ano. A última estimativa foi realizada no ano passado por contagem visual, por meio de imagens de câmeras.
Segundo a intervenção da Prefeitura do Rio no sistema, anunciada em janeiro, um sistema que usa inteligência artificial para a contagem em tempo real da evasão está em fase final de testes.
O BRT começou a fiscalização com máquinas contra calotes nas estações na segunda-feira (22).
Em junho do ano passado, o número era de 72 mil calotes diários no sistema, correspondendo a 16% dos passageiros. A estimativa do sistema era de que o reparo mensal de todos os danos causados ao sistema era de R$ 6,4 milhões mensais.
Barcas
A CCR Barcas informou que os prejuízos ao sistema foram de cerca de R$ 8 mil por mês, somando 48 mil no primeiro semestre. Este valor se deve a reposição de itens danificados pelos usuários.
Metrô
O Metrô Rio não apresentou dados específicos sobre o valor gasto e os principais danos do primeiro semestre do ano, mas destacou que os gastos com a reposição de cabos furtados nos anos de 2018 e 2019 foi de cerca de R$ 140 mil.
VLT
O VLT Carioca afirmou que o vandalismo teve pouco ou nenhum impacto na circulação ao longo de três anos. Os principais casos se referem a pichações e adesivos colados em paradas e composições durante manifestações no Centro.
“Na Linha 3, por conta de estar parada aguardando autorização de operação da prefeitura, a concessionária já teve casos de furtos de cabos e controladores de sinalização semafórica, com prejuízo acumulado na casa de R$ 80 mil”, destacou o VLT, em nota.
31/07/2019 – G1 Rio