Linha que interliga Estação Aeroporto do metrô e Terminal de Passageiros do Salgado Filho já transportou mais de 7,5 milhões de passageiros.
Na manhã desta sexta-feira (15), Trensurb e Aerom Sistemas de Transporte promoveram ato em celebração aos dez anos de operação da linha metrô-aeroporto do aeromóvel, realizado na estação junto ao Terminal de Passageiros do Aeroporto Salgado Filho. Um vídeo comemorativo produzido pela Aerom – detentora da tecnologia – foi exibido aos presentes, entre autoridades, convidados e usuários que passavam pelo local. Representantes de ambas as empresas, além do prefeito de Canoas, Jairo Jorge, discursaram na ocasião. Também foi descerrada uma placa comemorativa aos dez anos da linha e foram homenageadas personalidades importantes para o projeto: o inventor da tecnologia, Oskar Coester, falecido em 2020 e representado no evento por seu filho Marcus Coester, CEO da Aerom; a ex-presidenta Dilma Rousseff, que inaugurou a linha em 2013 e foi representada no ato pela deputada federal Reginete Bispo; o engenheiro da Trensurb, Sidemar Francisco da Silva, responsável por coordenar a implantação do projeto.
A linha foi inaugurada em 10 de agosto de 2013, em cerimônia com participação da então presidenta Dilma Rousseff. Nessa data, a linha implantada e operada pela Trensurb abriu suas portas ao público, ainda em operação experimental, em horário reduzido. Em maio de 2014, passou a operar comercialmente e em horário integral. Desde sua inauguração, já transportou mais de 7,5 milhões de passageiros em quase 590 mil viagens, com média de 2.495 embarques por dia útil. Somente de janeiro a agosto deste ano, 386.034 passageiros utilizaram a linha. A média foi de 1.778 usuários por dia útil.
O sucesso de uma tecnologia genuinamente gaúcha
O metroviário Ernani Fagundes foi superintendente de Desenvolvimento e Expansão da Trensurb durante a implantação da linha, tendo participado da coordenação do projeto. Hoje, é diretor de Operações da estatal, tendo como uma de suas atribuições a gestão da operação e manutenção do aeromóvel. Em seu discurso no evento, afirmou que se tratava de um momento de celebração da aplicação da tecnologia: “Para nós, funcionários da Trensurb que acompanhamos o desenvolvimento e a implantação desse projeto, a data de hoje nos enche de orgulho”. Fagundes também falou da importância de poder ter convivido com Oskar Coester e conhecer o seu trabalho e suas ideias de perto: “Eu tive a grata oportunidade de ter bebido nessa fonte e aprendido muito com o doutor Oskar”.
Destacou ainda o papel pioneiro da Trensurb ao fomentar o desenvolvimento da tecnologia e servir como uma espécie de vitrine dela: “Essa aplicação, para nós, sempre foi vista como um grande laboratório da tecnologia”. Nesse sentido, conforme Fagundes, a linha metrô-aeroporto, apesar de sua extensão relativamente curta, demonstra as vantagens desse meio de transporte, como a possibilidade de inserção em um tecido urbano já consolidado, com sua via elevada esbelta. O diretor concluiu sua fala parafraseando o inventor do aeromóvel, lembrando que ele não se preocupava com o tempo que sua invenção demorou para ser aplicada, citando as turbinas dos aviões, que demoraram décadas para substituir as hélices dos modelos mais antigos. Conforme Fagundes, Coester costumava dizer também que “o aeromóvel é uma tecnologia que vai ter que vencer por seus próprios méritos”. E, segundo o diretor, a comemoração de dez anos de operação da linha prova que essa vitória, pelos méritos da tecnologia, foi alcançada.
CEO da Aerom, Marcus Coester lembrou que este 15 de setembro é o Dia do Cliente e aproveitou seu discurso para agradecer aos clientes do aeromóvel, tanto os clientes finais, usuários da linha, como a Trensurb, que implantou e opera o meio de transporte. Agradeceu à estatal também por seu papel na expansão da tecnologia a outros lugares, recebendo comitivas de diversos estados e países para conhecerem o aeromóvel operado pela empresa, e também tendo sua linha como modelo para outras aplicações, como as obras em curso junto ao Aeroporto Internacional de Guarulhos. Coester agradeceu ainda aos diretores atuais e anteriores da empresa, especialmente a Marco Arildo Cunha, diretor-presidente à época do início do projeto, por sua persistência, “teimosia” e espírito “visionário” – qualidades, segundo ele, comparáveis às de seu pai, o inventor do aeromóvel –, fundamentais para fazer a linha metrô-aeroporto tornar-se realidade. O CEO também manifestou sua gratidão à equipe da Aerom e aos fornecedores da empresa, pontuando que o aeromóvel envolve “uma grande cadeia, uma grande cooperação da indústria e, muito fortemente, da indústria gaúcha”. Coester agradeceu também a todos os agentes públicos que contribuíram para o desenvolvimento da tecnologia, em especial o governo federal. Ele destacou ainda a importância e a necessidade de ampliação do transporte sobre trilhos para qualificar a mobilidade urbana e combater as mudanças climáticas. O CEO concluiu sua manifestação fazendo um agradecimento à toda a equipe da Trensurb, incluindo profissionais da operação e das áreas técnicas.
Prefeito de Canoas, Jairo Jorge representou os prefeitos da Região Metropolitana de Porto Alegre. Em sua fala no evento, classificou a tecnologia aeromóvel como “uma ideia absolutamente inovadora, genial, que saiu fora da caixa” e um projeto “absolutamente contemporâneo às questões que estamos tratando hoje”, fazendo referência à emergência climática e à capacidade do aeromóvel de contribuir para combater a emissão de gases. Assim, conforme ele, trata-se de “um transporte que está totalmente adequado ao que nós precisamos, ao nosso tempo”. Por isso, o prefeito criticou aqueles que, ao longo dos anos, sistematicamente foram contrários e buscaram desacreditar a tecnologia. Para Jairo Jorge, “o sucesso do aeromóvel é o sucesso de uma tecnologia genuinamente gaúcha, que valoriza a indústria gaúcha e o nosso patrimônio científico, tecnológico e inovador”. Ele também manifestou sua intenção em retomar o projeto de utilizar o aeromóvel no transporte coletivo de Canoas, interligado ao metrô, e, por fim, elogiou a resiliência do inventor da tecnologia. “Com resiliência, nós vamos honrar o nome de Coester e vamos mostrar que o aeromóvel é a tecnologia não do futuro, mas do presente”, concluiu.
Em seu discurso, o diretor-presidente da Trensurb, Fernando Marroni, lembrou de sua relação com o aeromóvel, que vem desde que era um estudante da faculdade de Engenharia Elétrica em Pelotas, quando a tecnologia estava sendo bastante discutida e Oskar Coester esteve na cidade para um seminário. Lembrou também que, como deputado federal, participou da inauguração da linha metrô-aeroporto ao lado da então presidenta Dilma e elogiou sua “sabedoria e coragem de investir nesse projeto e colocá-lo como uma realidade de mobilidade urbana”. Ele destacou ainda a importância que a tecnologia aeromóvel, com sua eficiência, tem para o tema da transição energética e colocou a Trensurb à disposição da Prefeitura de Canoas para que, numa união de esforços, seja possível concretizar o projeto de uso do meio de transporte no município. Nesse sentido, Marroni falou também da vocação da Trensurb para contribuir com o cumprimento do direito constitucional à mobilidade e com a qualidade do transporte na região, para além da operação da linha metroviária já existente: “A Trensurb pode cumprir um papel importante na Região Metropolitana para além de transportar, o que nós diariamente fizemos, com eficiência, qualidade e segurança”. Para isso, conforme o diretor-presidente, algumas pautas importantes são a expansão da malha metroferroviária, a modicidade tarifária e a inovação tecnológica. Ele afirmou que “o Brasil precisa enfrentar esse desafio de levar a todos a garantia da mobilidade que está na constituição e penso que esse é um papel que a Trensurb pode cumprir, evidentemente com essas tecnologias avançadas que são praticadas no mundo inteiro”. Marroni deixou ainda sua homenagem a Oskar Coester e seu agradecimento a fornecedores, demais participantes do projeto de implantação do aeromóvel metrô-aeroporto e também o empenho dos trabalhadores da Trensurb que zelam pela linha. O dirigente concluiu sua fala declarando: “Como diz o nosso presidente [da República], vamos deixar o nosso complexo de vira-lata de lado e vamos mostrar para o mundo que nós somos capazes de inovar, empreender e vencer os desafios que temos hoje, de mobilidade e ambientais, que tanto nos preocupam”.
Do sonho à realidade
Um sistema de transporte por propulsão a ar, o aeromóvel teve seu conceito criado na década de 1960 pelo empresário e inventor Oskar Coester, nascido em Pelotas, em 1938, e falecido em Porto Alegre, em 2020. Com a invenção, ele buscava contribuir com a mobilidade urbana e o uso de fontes de energia limpas. A primeira experiência prática da tecnologia foi realizada em 1977, com a construção de um protótipo. Em 1979, após avaliações com a participação de instituições de pesquisa, a empresa de Coester firmou contrato com a antiga Empresa Brasileira de Transportes Urbanos (EBTU) para testes adicionais. Em 1980, um veículo da tecnologia foi instalado na Feira de Hannover, na Alemanha, e, mais tarde, no Parque Assis Brasil, em Esteio. Em 1981, o Ministério dos Transportes contratou a construção da linha-piloto na Avenida Loureiro da Silva, em Porto Alegre. Em 1982, a linha começou a ser construída, porém o repasse dos recursos foi suspenso. Em 1983, com recursos privados, a construção prosseguiu, a linha foi inaugurada e as primeiras viagens foram realizadas. Em 1987, a linha-piloto foi estendida por meio de um financiamento. Em 1988, teve início a construção da linha do aeromóvel em Jacarta, na Indonésia, inaugurada no ano seguinte.
Foi somente mais de 20 anos depois, em agosto de 2010, que a Trensurb firmou a contratação da implantação da tecnologia para interligar metrô e aeroporto. No dia do início das obras da via elevada, em agosto de 2011, Coester afirmou: “Toda inovação eficaz é surpreendentemente simples. Ao mesmo tempo, difícil e demorada de ser compreendida”. O projeto foi uma resposta à necessidade de qualificação da integração dos sistemas de transporte às áreas aeroportuárias, apontada pelo antigo Ministério das Cidades frente ao relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito da Crise do Tráfego Aéreo, de 2007. Buscou cumprir ainda uma diretriz do governo federal à época, de que empresas estatais investissem em projetos de infraestrutura e inovação tecnológica, servindo como projeto-piloto para a eventual expansão do modal para outros locais e fomentando também o desenvolvimento da indústria nacional. Todo o projeto foi desenvolvido no país, usando tecnologia 100% brasileira e movimentando uma cadeia produtiva que envolveu mais de 50 empresas e mil profissionais.
Durante a cerimônia de inauguração, há dez anos, Coester declarou, emocionado: “Sonhar é bom, realizar um sonho é melhor ainda. Mesmo que a palavra ‘obrigado’ signifique muito, não expressará por inteiro os meus agradecimentos a todos que ajudaram a realizar esse sonho que tem como objetivo único melhorar a vida das pessoas”. Na ocasião, a então presidenta Dilma definiu o projeto da seguinte forma: “Trata-se de um sonho feito com base no conhecimento científico e numa visão de um país em desenvolvimento, que tem a capacidade de realização. É um empreendimento não comum, não usual, revolucionário”.
A tecnologia aeromóvel
O aeromóvel é um meio de transporte automatizado, em via elevada, que utiliza veículos leves, não motorizados, com estruturas de sustentação esbeltas. Sua propulsão é pneumática – o ar é soprado por ventiladores industriais de alta eficiência energética, por meio de um duto localizado dentro da via elevada. O vento empurra uma aleta (semelhante a uma vela de barco) fixada por uma haste ao veículo, que se movimenta sobre rodas de aço em trilhos.
A linha da Trensurb é a primeira aplicação comercial da tecnologia no Brasil, permitindo integração e acesso rápido e direto ao terminal aeroportuário sem custo adicional para os usuários do metrô. O trajeto de 814 metros, com duas estações de embarque, é percorrido em 2 minutos e 30 segundos. Tudo isso com uso de energia limpa e de forma econômica, com custo médio de propulsão por passageiro de R$ 0,25 desde a inauguração da linha e de R$ 0,36 neste ano.
15/09/2023 – Trensurb