Pierre-Emmanuel BercairePor Pierre-Emmanuel Bercaire

As cidades crescem rapidamente – já são 63 médias e grandes regiões metropolitanas no País – e com elas crescem também a necessidade de pensar em projetos que tragam reais benefícios à população e melhora da qualidade de vida. Isso é pensar em mobilidade sobre trilhos, sinônimo de um futuro próximo muito mais inteligente e sustentável.

Em todo o mundo, não faltam políticas públicas recentes visando ampliar a oferta de transportes sobre trilhos, e no Brasil, apesar de ainda sentirmos o reflexo da crise econômica que nos deixou estacionados, começamos a enxergar uma luz no fim do túnel com os indícios de melhora na economia e investimentos em nosso País.

Locomover-se sobre trilhos é, indiscutivelmente, uma das melhores formas de passageiros e cargas chegarem a seus destinos. Essa forma de transporte é eficiente, segura e barata para quem ou o que está sendo transportado. E, claro, os impactos positivos dos trens, metrôs, locomotivas e VLTs vão muito além.

As soluções de transportes sobre trilhos também acarretam melhorias sociais, econômicas e ambientais. Uma pessoa que usa o metrô para ir de sua casa até o seu trabalho todos os dias estimula a necessidade de crescimento dessa malha metroviária, gerando investimentos, emprego e renda, contribui para reduzir a poluição atmosférica e eventuais doenças respiratórias causadas pelos combustíveis fósseis e ainda viaja com mais conforto dentro do transporte público. Algo similar ocorre com o transporte de cargas e, ainda, sem deixar empresas e população à mercê das condições das rodovias e dos seus agentes.

Apenas no último ano, tivemos a expansão do Metrô de São Paulo, de Salvador, do VLT Carioca e de outras duas linhas que transportam passageiros diariamente, acrescentando 30 novos quilômetros de trilhos nas cidades, de acordo com a Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos). A expectativa é que, nos próximos cinco anos sejam inaugurados mais 164 quilômetros em projetos para a população.

Para o transporte de cargas, um pacote de investimentos está previsto para ser feito nas ferrovias Norte-Sul, entre São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Tocantins, na Ferrogrão, que ligará o Mato Grosso e o Pará, além da Ferrovia de Integração Oeste-Leste, na Bahia, já anunciado pelo governo federal e que aguarda o edital de concessão para inaugurar parcerias público-privadas (PPPs).

Aliás, está nas PPPs a grande oportunidade para que o transporte sobre trilhos acelere sua expansão. Faz-se necessária a junção da entidade pública com a expertise do setor privado para ampliar a capacidade de estruturação de projetos, de otimização dos custos e gestão dos riscos.

De um lado, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que vem atuando como um verdadeiro estruturador de projetos com os estados e municípios oferecendo financiamentos, participações societárias e estímulo à emissão de debêntures para potencializar a mobilidade. A injeção de dinheiro público diretamente em uma PPP é o que ajuda a viabilizar os projetos, reduzindo preços de tarifas e assegurando os serviços. E do outro, a empresa privada, que traz a tecnologia, as melhores práticas, soluções modernas, inovadoras e sustentáveis – esta última cada vez mais presente na agenda dos grandes líderes mundiais.

Ainda em termos de benefícios, não se pode excluir o impacto na revitalização que soluções sobre trilhos trazem para as cidades. Afinal, degradadas, as áreas centrais e periféricas das grandes cidades geram insegurança para a população e desvalorização imobiliária para o mercado. Uma vez revitalizadas graças à inclusão de um meio de transporte sobre trilhos, tornam-se áreas de interesse para habitação, de polo de atração para comércios e empresas e de incentivo para a melhoria dos serviços públicos, reconectando os cidadãos com a cidade. O grande exemplo é o projeto do VLT Carioca, que mudou a paisagem do centro do Rio de Janeiro.

Em suma, embora ainda tenhamos grandes desafios pela frente, aguardando a retomada dos projetos de infraestrutura em mobilidade no País, as soluções já foram propostas e os casos de sucesso já existem; em uma metáfora com o nosso setor, os trens já foram fabricados e testados, falta agora colocá-los de vez nos trilhos.

Pierre-Emmanuel Bercaire é diretor-geral da Alstom no Brasil, responsável pelas operações da empresa no País, e vice-presidente jurídico e de Compliance na América Latina, liderando a gestão das áreas Jurídica, Contratos, Seguros e Ética e Compliance na região.

Artigo publicado no livro “Mobilidade Urbana sobre Trilhos na Ótica dos Grandes Formadores de Opinião”, planejado e publicado pela ANPTrilhos – Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos.

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