Trens da Linha 4 fazem últimos testes para começar operar no dia 1º

Na contagem regressiva para a Olimpíada, as obras da Linha 4 do metrô entram numa fase decisiva a partir de sexta-feira. Até o dia 31, quando será feita a viagem inaugural entre Ipanema e o Jardim Oceânico (restrita a autoridades e convidados), como noticiou o colunista Ancelmo Gois, será implantada a chamada marcha em branco. Nessa fase, os futuros pilotos da Linha 4 — selecionados entre os condutores que já tinham experiência nas Linhas 1 e 2 — vão simular, sem passageiros, toda a rotina de operação. Os trens circularão entre as cinco estações do trecho (Nossa Senhora da Paz, Antero de Quental, Jardim de Alah, São Conrado e Jardim Oceânico), parando o tempo previsto para embarque e desembarque dos usuários.

Também na sexta-feira, será inaugurada a Estação Antero de Quental. Com isso, faltará apenas a do Jardim de Alah, cujas obras serão concluídas provavelmente na próxima semana. No sábado, com o fim das intervenções no Leblon, será aberta a Praça Antero de Quental e liberado o trânsito na Avenida Ataulfo de Paiva e nas ruas próximas. Devido à necessidade de instalar os acessos à estação e os respiradouros do metrô, o projeto arquitetônico da praça é diferente da concepção feita para o Rio-Cidade, nos anos 90. Num trecho da área de lazer, por exemplo, foi criada uma alameda com palmeiras.

Autor do projeto dos anos 90, o arquiteto Índio da Costa preferiu não opinar sobre as mudanças, alegando não conhecer os detalhes. Os moradores ainda estranham as alterações:

— O ambiente ficou mais aberto. Creio que será até mais seguro caminhar pela praça. Já fui assaltada ali. Mas parece que tem menos árvores — disse a atriz Karina Marthin, de 39 anos.

No entanto, a Secretaria de Transportes diz que o Consórcio Linha 4-Sul plantou mais árvores do que havia antes, embora a maioria ainda esteja pequena. Antes da obra, eram 74 árvores, enquanto agora o total chega a 440. Uma das que foram preservadas é o ipê plantado pelo escritor Rubem Fonseca, que foi transplantado.

A Linha 4 do metrô vai funcionar entre os dias 1º e 21 de agosto, para atender o público que for assistir às competições, as pessoas credenciadas (incluindo quem vai trabalhar nas arenas), a imprensa e os outros integrantes da família olímpica. O horário será variável. Nos primeiros dias, o serviço será aberto das 6h às 23h. Em 5 de agosto (feriado, dia da abertura do evento), vai operar das 7h às 2h. A partir de então, na maioria dos dias, a Linha 4 ficará aberta das 6h até 1h ou 2h do dia seguinte, para atender os espectadores das diferentes competições.

SISTEMA VAI PARAR ENTRE AS DUAS COMPETIÇÕES

A estimativa é que o total de usuários, no serviço olímpico, chegue a 60 mil por dia — 20% do público que o sistema deve receber quando estiver operando em plena capacidade (300 mil passageiros diariamente). Entre 22 de agosto e 6 de setembro, a operação será suspensa para ajustes operacionais. Os serviços serão retomados, ainda com acesso limitado, entre 7 e 18 de setembro, durante a Paralimpíada.

A partir de 19 de setembro, o metrô começa a operar para o público em geral, mas em períodos limitados. Inicialmente, os trens vão rodar apenas das 11 às 15h, ampliando o horário de funcionamento até passar a operar na mesma faixa das Linhas 1 e 2 até o fim do ano. Na fase atual, sem o sistema de piloto automático, a estimativa é que a viagem entre Ipanema e Barra leve 13 minutos.

Mesmo quem não viajar na Linha 4 vai entrar no clima olímpico. Nos próximos dias, os usuários vão começar a ouvir pelos alto-falantes das composições das Linhas 1 e 2 mensagens gravadas por atletas olímpicos brasileiros. Os nomes ainda são mantidos em segredo. A estratégia é parecida com a adotada na Copa do Mundo, quando a voz gravada de um locutor esportivo anunciava que o trem se aproximava da estação do Maracanã. Nos primeiros meses de operação, o intervalo entre as composições será de oito minutos. Serão usados 6 dos 15 trens comprados para o serviço. A partir do fim de setembro, à medida que os horários forem ampliados, a frota empregada também será reforçada e os intervalos, reduzidos, chegando a 4 minutos no fim de dezembro.

Depois de sucessivos atrasos, as obras estão 98% concluídas. Apesar de o Tribunal de Contas do Estado (TCE) ter manifestado preocupação em relação à segurança dos usuários, devido ao pouco tempo para a realização de testes, o diretor de Operação da concessionária Metrô Rio, Daniel Habib, negou que haja riscos. Ele argumentou que as equipes que vão operar o serviço são experientes e foram treinadas para cobrir o novo percurso. Além disso, observou Habib, ainda hoje a Linha 2 não conta com piloto automático. Ele acrescenta que há mais de um ano as composições da Linha 4 rodam nas Linhas 1 e 2.

No período de operação restrita (voltada para os Jogos), o metrô vai manter um sistema de controle rígido. A viagem durante a Olimpíada exigirá uma baldeação na parte ampliada da Estação General Osório (Ipanema), onde o usuário, obrigatoriamente, terá que embarcar numa plataforma diferente para seguir até o Jardim Oceânico. Ali, seguranças vão cobrar a apresentação do ingresso e do tíquete olímpico. Nas demais paradas da Linha 4, o controle será feito antes de o usuário entrar nas estações.

Até dezembro, quem viajar nas composições da Linha 4 também terá que fazer baldeação na Estação General Osório. A previsão é que a situação mude a partir de janeiro, quando será possível viajar do Jardim Oceânico até a Tijuca sem trocar de trem. O usuário que desejar embarcar numa composição da Linha 2 terá que fazer baldeação em alguma estação entre a Central do Brasil e Botafogo, como ocorre hoje.

MULHER NO COMANDO DA VIAGEM INAUGURAL

Os preparativos para o início da operação da Linha 4 incluíram a escolha do condutor da viagem inaugural, no dia 31 de julho. O percurso pioneiro será comandado por Danielle de Mello Paes, de 39 anos, que é casada com um supervisor do metrô. Os dois se conheceram quando a piloto ainda trabalhava como bilheteira. Mãe de quatro filhas com idades entre 21 e 10 anos, Danielle tem 18 anos de empresa e conduz trens pelas linhas 1 e 2 há 14 anos. Acostumada a pilotar modelos diferentes usados no sistema carioca, Danielle conta que os instrumentos encontrados nas cabines são parecidos, mas destacou:

— Os trens chineses são mais modernos e os equipamentos, muito mais sensíveis — diz Danielle. — No metrô, a responsabilidade é imensa. Mas é um trabalho bem mais previsível do que dirigir.

Atualmente, o metrô conta com 324 condutores. Deste total, 52 são mulheres.

13/07/2016 – O Globo