*Marcus Vinicius Lemos Ignácio
A Confederação Nacional dos Transportes (CNT) divulgou, no último dia 12, um levantamento que mostra que cidades como Nova York, Londres e Tóquio possuem, cada uma, redes de metrô maiores que a soma de toda a rede metroviária das grandes cidades brasileiras.
A cidade de Nova York, por exemplo, com seus 8,5 milhões de habitantes, possui uma malha de trilhos de 370 km, enquanto a cidade de São Paulo, com população estimada em 12 milhões, conta com pouco mais de 77 km, desde a sua inauguração, em 1974. A comparação fica ainda mais desfavorável para a capital paulista quando se toma a Cidade do México – onde a primeira linha de metrô foi inaugurada em 1969 – que conta hoje com 227 km de metrô, extensão quase três vezes maior que a malha paulistana.
O cenário descrito pelo levantamento da CNT evidencia a falta de capacidade que as grandes cidades brasileiras têm em apresentar soluções de mobilidade urbana na urgência necessária. O País sediou, nos últimos dois anos, dois eventos esportivos de relevância internacional: Copa do Mundo e Olímpiadas. Um dos fatores que sustentou o discurso favorável aos eventos esportivos foi o de que estes deixariam um importante legado para as cidades que sediariam os torneios. Grande parte desse legado se faria notar na infraestrutura das cidades, sobretudo a de transportes – a despeito de uma preocupação em relação ao descontrole dos gastos públicos.
Dois anos após a vitória da Alemanha sobre a Argentina, na final da Copa de 2014, o VLT de Cuiabá, que já consumiu R$ 1 bulhão dos cofres públicos, está longe de se tornar realidade e vê seus canteiros de obras virarem pontos de venda e de consumo de drogas. Em São Paulo, a linha 13 da CPTM, também prometida para a Copa de 2014 e que fará a ligação da Zona Leste da cidade com o Aeroporto de Guarulhos, além de acumular atrasos, terá a uma ligação improvisada entre a estação de trem e os principais terminais do aeroporto. Na contramão dos exemplos de Cuiabá e São Paulo, na cidade do Rio de Janeiro, um importante legado deixado pela Olimpíada foram as melhorias na mobilidade da cidade, com a entrega à população das linhas de Bus Rapid Transit (BRT) e da linha 4 do metrô.
O cenário de estagnação por que passam os sistemas de transporte público das nossas grandes cidades deixa claro que o poder público precisa urgentemente agir no sentido de impor ritmos mais agressivos na expansão dos modos coletivos de transporte. O investimento em transporte público de qualidade é o caminho para se minimizarem os custos sociais e econômicos dos intermináveis congestionamentos a que são submetidos os moradores dos grandes centros urbanos do País.
Apesar do cenário econômico desfavorável e da instabilidade institucional por que passa o Brasil, as parcerias com a iniciativa privada ainda são a alternativa para que se viabilizem projetos de expansão de sistemas transporte de massa, como metrôs e trens urbanos. As melhorias advindas dos programas de concessão em aeroportos e rodovias são argumentos favoráveis que justificam a busca por investidores interessados em programas de mobilidade sustentável.
É fundamental que o poder público encontre formas de agilizar a expansão dos sistemas públicos de transporte oferecendo à população alternativas de deslocamento mais baratas e menos poluentes. O desafio para as futuras gestões municipais está lançado e espera-se que a lógica de desperdícios e atrasos seja substituída por um planejamento e gestão eficazes que faça o Brasil reverter a situação em que se coloca hoje quando o assunto é transporte.
*Marcus Vinicius Ignácio é professor da FAAP
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