O dispositivo, chamado Sistema Auxiliar de Sinalização para Maquinista (SASM), é composto por três botões (verde, amarelo e vermelho) instalados no painel de comando da cabine do trem.
A SuperVia está implementando um equipamento que reforça seu sistema de sinalização (Automatic Train Protection-ATP, na tradução livre Sistema de Proteção Automática) e auxilia os maquinistas na condução dos trens. O dispositivo, chamado Sistema Auxiliar de Sinalização para Maquinista (SASM), é composto por três botões (verde, amarelo e vermelho) instalados no painel de comando da cabine do trem. O condutor deve apertar sempre o botão da mesma cor da sinalização, que varia ao longo da linha férrea. Ele, então, se acende. A ideia é reforçar a percepção do profissional sobre a indicação do sinal naquele momento, para que ele não precise confiar apenas na memória do que viu. Além disso, o equipamento está interligado à tração da composição, o que impede, por exemplo, que o veículo saia do lugar caso a luz vermelha no painel esteja acesa.
O SASM foi aprovado após passar por quatro meses de testes, entre janeiro e abril de 2022. Os protótipos produzidos estão instalados nas duas cabines de um trem chinês da fabricante CNR, série 3000, formado por oito carros. Desde então, segundo a empresa, os condutores têm avaliado a novidade de forma positiva.
“Buscamos criar procedimentos de salvaguarda para melhorar o estado de atenção dos colaboradores e evitar falhas por confusão mental.”
Iago Figueiredo, coordenador de Segurança Operacional
A malha ferroviária da SuperVia tem 270 quilômetros e, de acordo com o coordenador de Segurança Operacional da empresa, Iago Figueiredo, atualmente há cinco ramais eletrificados e uma extensão (Paracambi) operados por sistema elétrico de tração, e dois ramais (Vila Inhomirim e Guapimirim) onde circulam trens movidos a diesel. Nos ramais eletrificados, o sistema de sinalização é composto por circuitos de via, relés elétricos e sinais luminosos, projetados para controlar o tráfego de trens e veículos de serviço, de forma automática, por meio de comandos do Centro de Controle Operacional (CCO). Já nos ramais a diesel, a circulação é realizada sob regime de licenciamento via rádio, ou seja, não há dispositivos fixos de sinalização.
A SuperVia exige, ainda, desde 2019 a prática do método japonês Shisa Kanko pelos maquinistas durante a condução dos trens. Shisa Kanko significa “Apontar e Falar” e é uma técnica que aumenta a concentração dos condutores, que devem sempre apontar para o sinal visto e falar suas características e funções. O método é praticado há trinta anos na JR West Railway – uma das acionistas da concessionária -, que opera os trens de passageiros no Oeste do Japão. O modelo permitiu reduzir em 70% o risco de erro humano nas atividades naquela empresa.
Entendendo as causas
Falhas na operação e alguns acidentes – incluindo um grave, em que dois trens colidiram na altura da estação de São Cristóvão, provocando a morte do maquinista Rodrigo da Silva Ribeiro Assumpção, de 40 anos, em fevereiro de 2019 – expuseram, nos últimos anos, as dificuldades operacionais no sistema ferroviário do Rio, principalmente depois da pandemia. Os números redondos de acidentes não são divulgados pela empresa, mas, segundo Figueiredo, é feito internamente um controle detalhado dos fatos para entender as causas e saber se estão associadas às condições psicológicas e fisiológicas tanto dos condutores como dos controladores de tráfego.
“A partir da investigação dos casos, a empresa busca criar procedimentos de salvaguarda para melhorar o estado de atenção dos colaboradores e evitar falhas por confusão mental, além de investir em ações de conscientização e também de saúde e bem- -estar dos profissionais. O objetivo é que todos estejam sempre em boas condições para garantir uma operação mais segura. Neste sentido, projetos como o SASM são um reforço para o maquinista conseguir, de fato, estar atento à sinalização, assimilando a informação correta que está sendo transmitida através do foco do sinal em campo”, explica.
Projeto vencedor
O SASM foi o projeto vencedor da primeira edição do Programa de Reconhecimento em Segurança da SuperVia – iniciativa interna criada em janeiro de 2022 para que os colaboradores da empresa possam sugerir melhorias que tragam mais segurança ao trabalho. O idealizador do equipamento foi o maquinista Sérgio Tiago de Almeida Silva, que também tem experiência em eletromecânica e desenvolveu o primeiro protótipo do dispositivo.
O profissional explica que a ideia surgiu a partir de uma experiência ocorrida durante o expediente de trabalho em 2021. Ele estava parado numa estação à espera da abertura do sinal para poder prosseguir. Nesse meio tempo, viu uma idosa do lado de fora caminhando com muita dificuldade em direção ao embarque. “Acabei desviando toda minha atenção para aquela situação, passando a acompanhar integralmente o embarque daquela senhora. Depois, refleti sobre o ocorrido e fiquei pensando em alguma forma de evitar desvios de atenção (com relação ao sinal). Foi então que surgiu a ideia do sistema”.
“Pessoas que acessam a via férrea irregularmente são uma das principais causas para o desvio de atenção dos condutores.”
Sérgio Almeida Silva, maquinista
Sérgio é maquinista há sete anos e trabalha tanto no serviço de passageiros quanto no de manutenção, operando trens elétricos e locomotivas de tração diesel-elétrica (utilizadas nos vagões de serviços). Pela sua experiência, diz que os principais causadores de desvio de atenção na condução dos trens no Rio são: pessoas que acessam a via férrea irregularmente, passagens em nível clandestinas que são abertas por moradores das comunidades lindeiras; a prática da evasão de renda, que é quando as pessoas pulam muros ou grades ou acessam o sistema ferroviário através de buracos nos muros para não pagar passagens, e o desrespeito às normas de segurança por passageiros.
Ele comenta que fez na sua casa um primeiro protótipo e, ao apresentá-lo, foram feitas reuniões com as áreas envolvidas e novas ideias surgiram. “É um sistema de baixo custo (o protótipo sai a R$ 8.370), e pouco suscetível a avarias e roubos, diferentemente do sistema ATP, por exemplo, que conta com balizas instaladas na via, que são constantemente vandalizadas pelos que transitam irregularmente pela linha. O SASM conseguiria cobrir o maquinista em situações de imprevistos – como uma eventual indisponibilidade do ATP -, evitando, assim, riscos à circulação, aos passageiros e aos maquinistas”.
O equipamento inclui ainda um potenciômetro para regular a intensidade da iluminação das cores dos botões, o que permite que o condutor altere para ficar mais confo-r tável para a sua vista, dependendo do horário e da condição climática.
A SuperVia pretende instalar o SASM em toda a sua frota (atualmente com 201 trens), mas ainda irá elaborar um cronograma para isso. Segundo Guilherme Josino da Silva Pereira, representante do setor de Engenharia de Manutenção da empresa e responsável pela execução do projeto e instalação nos trens, a fabricação de dispositivos para a futura instalação em todos os trens depende apenas da aprovação orçamentária. “Há planos, inclusive, da instalação do SASM em veículos de manutenção”.
25/01/2023- Revista Ferroviária