Grupo planeja investir R$ 7,5 bilhões em troca de mais 30 anos de concessão

A MRS deverá ser a próxima concessionária de ferrovias a renovar seu contrato por mais 30 anos. A expectativa é que o projeto seja enviado ao Tribunal de Contas da União (TCU) até abril, para que o aditivo seja assinado no terceiro trimestre – em um cenário otimista, ainda neste semestre, afirma o presidente da companhia, Guilherme Mello.

Em troca da extensão do prazo contratual, que a princípio se encerraria em 2026, a companhia deverá investir R$ 7,5 bilhões em obras para expansão e outorgas. Com a renovação, um dos principais objetivos da concessionária, que tua no triângulo entre São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, é diversificar as cargas transportadas na via – antes muito focadas na produção dos acionistas Vale, Gerdau, Usiminas e CSN.

O processo de prorrogação da MRS já passou por audiências públicas em 2019, mas caminhou lentamente desde então. Em 2020, saíram do papel outras renovações antecipadas: a da Malha Paulista, da Rumo, foi a pioneira do país, após cinco anos de negociações. Na sequência, foram priorizadas as concessões da Vale, que viabilizaram a construção da Ferrovia de Integração Centro Oeste (Fico). Agora, chega a vez da MRS.

“Usamos esse tempo adicional para avançar nos estudos de engenharia, principalmente nos projetos voltados a carga geral, e atender requisitos da agência reguladora para que o pacote possa ser enviado ao TCU com o máximo de detalhamento. Por isso, acreditamos que seja até possível antecipar [o prazo de assinatura]”, afirma o executivo.

Na fila das renovações antecipadas do governo federal, há ainda dois projetos que deverão sair até 2022: a próxima deverá ser a da Ferrovia Centro Atlântica (FCA), da VLI, que acaba de entrar em consulta pública. O projeto está em fase inicial, mas a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) já tem os valores preliminares: os investimentos em expansão seriam de R$ 3,3 bilhões, e a outorga foi estimada em 143 parcelas trimestrais de R$ 133,2 milhões (o que, a valor presente, somaria R$ 4,98 bilhões). Depois, virá a da Malha Sul, da Rumo, que ainda está em um estágio bastante inicial.

No caso da MRS, a principal obra será a segregação de linhas, que irá separar o transporte de cargas e de passageiros em São Paulo. O trajeto, que parte de Jundiaí, passa pela capital e vai até Rio Grande da Serra, é atualmente compartilhado com a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM).

Com a separação, não só deverá aumentar muito a eficiência na movimentação de carga entre São Paulo e o Porto de Santos, como também será possível tirar do papel o Trem Intercidades (TIC), um projeto de mobilidade urbana do governo paulista, que pretende ligar a capital ao interior por meio de trem.

Os estudos para viabilizar essa segregação avançaram ao longo de 2020, e se chegou a um desenho em que haverá quatro linhas: uma para carga, uma para o TIC e duas para a CPTM.

No entanto, Mello ressalta que será uma obra complexa, que exigirá muitos cuidados para não afetar a operação atual dos trens e que, por isso, poderá ser mais lenta. “O horário de trabalho da construção será muio restrito, terá que evoluir nas madrugadas e em períodos previamente combinados, fora do pico. Pode ser frustrante, porque a mudança não será imediata, mas tudo será feito com o mínimo de impacto na movimentação da população”, diz o presidente. Ele evita dar uma previsão de prazo, já que o projeto ainda não está validado com o governo.

A segregação será importante no processo de diversificação de cargas da MRS, porque tornará mais eficiente o transporte entre os Estados, possibilitando um fluxo interno de cargas e captação de novos clientes.

A busca por reduzir a dependência das cargas siderúrgicas já vem em curso desde 2019. Nesse ano, a operação da MRS foi fortemente impactada pelo rompimento da barragem de Brumadinho (MG), por onde a ferrovia passa. A receita operacional líquida caiu 14,1% no ano.

Em 2020, apesar da pandemia, os resultados da companhia superaram as expectativas traçadas em março. “No começo, houve um impacto na siderurgia, na construção civil, mas rapidamente esses se recuperaram. Uma surpresa positiva foi a recuperação gigantesca do valor do minério de ferro. Isso ajudou a mais do que compensar as flutuações em segmentos diferentes, em carga geral”, afirma Mello.

Os resultados do ano ainda não foram fechados, mas há uma expectativa de recuperar o patamar anterior ao desastre de Brumadinho. Ao fim do terceiro trimestre, a carga geral representava 40% do total, mas a taxa deve cair, com a retomada da siderurgia. A meta do grupo é chegar a um equilíbrio de 50% dos volumes transportados, entre carga geral e minério.

O executivo também não descarta a participação da MRS em novos projetos ferroviários do governo federal. “Levamos todos eles ao conselho, indicando como a MRS poderia agregar. Temos conversado com grupos, inclusive do exterior, para nos colocar à disposição. Mas hoje, estamos apenas acompanhando”, diz. Um projeto concreto no qual o grupo deverá se envolver é a nova operação das linhas internas no Porto de Santos, que passará a ser compartilhada entre todas as empresas que atuam na região.

19/01/2021 – Valor Econômico