Reduzir tempo no transporte é desafio para 2033

Solução deve envolver incentivo a transporte público e mudanças na ocupação urbana

06/08/2024 – Valor Econômico

A meta de reduzir o tempo médio de deslocamento do brasileiro no trajeto casa- trabalho em 20% até 2033 vai desafiar o governo a aumentar a oferta de transporte público e até mudar o modelo de ocupação urbana nas cidades, apontam especialistas. Esse objetivo faz parte da nova política industrial lançada pelo governo federal em janeiro deste ano, com o objetivo de aumentar o nível de produtividade no setor produtivo e trazer bem-estar ao trabalhador.

Dentro do plano de ações da Nova Indústria Brasil (NIB), o governo indicou que, atualmente, a população gasta, em média, 4,8 horas semanais para ir e voltar do trabalho, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), de 2019.

Ramon Cunha, especialista em infraestrutura da Confederação Nacional da Indústria (CNI), avalia que a estratégia deve envolver a valorização do transporte público de média e alta capacidade – como metrôs, BRTs e VLTs.

Em recentes estudos, a CNI indicou que o país precisa investir R$ 295 bilhões ao longo de duas décadas para eliminar o déficit em mobilidade urbana em 15 regiões metropolitanas. Por outro lado, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) estimou que são necessários R$ 360 bilhões em projetos de transportes de média e alta capacidade para cumprir o mesmo objetivo em 21 regiões com mesmo perfil demográfico.

O especialista em mobilidade urbana Sergio Avelleda afirma que as políticas de mobilidade urbana só dão resultados efetivos quando o estímulo ao transporte coletivo vem acompanhado de mudanças no modelo de ocupação dos espaços urbanos. Isso ocorre, disse ele, quando o transporte individual – como carros e motos – é desestimulado com a diminuição de faixas disponíveis para abrir mais corredores e faixas exclusivas para ônibus, por exemplo.

Sobre a meta do governo, colocada no âmbito do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), o “Conselhão”, Avelleda considera que é possível alcançar. “É factível, mas se priorizar os automóveis não vai dar certo. Mesmo se construir mais pontes, viadutos e túneis, os gargalos de mobilidade nas cidades continuarão”, explicou Avelleda, que foi secretário de mobilidade urbana da cidade de São Paulo e é coordenador do Observatório Nacional de Mobilidade Sustentável do Insper.

Para o presidente do conselho da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos), Joubert Flores Filho, o Brasil tem histórico “ruim” de investimento em projetos de média e alta capacidade. Ele chama atenção para o fato da expansão das linhas de trens e metrôs em grandes cidades brasileiras terem alcançado, nos últimos 40 anos, apenas a metade do que foi registrado pelas cidades de porte equivalente na América Latina.

“Basta comparar o metrô de São Paulo, aberto em 1974, hoje com um pouco mais de 100 quilômetros, e o metrô do Rio, entregue em 1979, com pouco mais de 50 quilômetros, com outras cidades. A gente vai constatar que Santiago (Chile) e Cidade do México, que foram abertos na mesma década, hoje têm mais de 200 quilômetros cada uma”, disse Flores Filho.

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