A indústria ferroviária brasileira esperava que 2022 fosse consolidar, ainda que de forma tímida, a retomada na produção de vagões, mas a previsão não se confirmou e o desempenho deve ser o terceiro mais baixo dos últimos 15 anos.
Para piorar o cenário, o setor no país não deve produzir neste ano um carro de passageiros sequer, segundo estimativa da Abifer (Associação Brasileira da Indústria Ferroviária), que completou 45 anos.
De acordo com a entidade, a indústria tem capacidade para produzir 12 mil vagões de carga, 1.200 carros de passageiros e 250 locomotivas por ano, mas deve encerrar 2022 com apenas 1.500 vagões produzidos, 60 locomotivas e nenhum carro de passageiros.
Isso significa uma ociosidade de 100% da capacidade instalada para produzir carros de passageiros, de 87,5% para vagões e de 76% para locomotivas.
“Estamos atravessando uma ociosidade que já não é de hoje. Na área de trem de passageiros, fábricas estão paralisadas”, disse o presidente da Abifer, Vicente Abate.
O total de vagões —que atingiu seu ápice histórico em 2005, com 7.597 unidades— teve o nível mais baixo nos últimos 20 anos em 2019, com 1.006 unidades. No ano seguinte, foram fabricadas 1.672 e, em 2021, 1.800.
“Acreditávamos que agora essa retomada fosse se consolidar, mas o total ficará abaixo do registrado nos últimos dois anos.”
O desempenho esperado para este ano, de 1.500 unidades, é o terceiro pior dos últimos 15 anos, superando apenas o fatídico 2019 e 2009 —ano em que a produção alcançou 1.022 vagões.
Abate disse esperar que a licitação de 44 trens para o metrô de São Paulo possa ser uma alternativa para o setor produzir mais, assim como o aeromóvel contratado pelo aeroporto internacional de Guarulhos.
Ele também critica a imprevisibilidade do setor e a frota antiga em circulação no país. Dados da associação mostram que 45% dos 135 mil vagões em uso têm 30 anos ou mais de fabricação. “São obsoletos e sujeitos a sucateamento. Esses de 30 anos requerem uma modernização.”
Segundo ele, não adianta o setor, hipoteticamente, fabricar 4.000 vagões num ano e zero no seguinte, já que isso atrapalha o dimensionamento da mão de obra e gera uma gangorra de demissões e recontratações.
A associação comemorou 45 anos de fundação com o lançamento de um livro de 208 páginas que mostra a trajetória da associação, a evolução do transporte ferroviário e a participação das mulheres nas ferrovias.
INVESTIMENTO
Apesar dos problemas no mercado interno neste ano, o mercado ferroviário tem apostado no futuro do setor. A Alstom inaugurou, no último dia 7, a ampliação de sua fábrica em Taubaté, no Vale do Paraíba, para atender projetos nacionais e internacionais.
A empresa investiu R$ 100 milhões para modernizar a indústria, que agora tem 60 mil metros quadrados, o triplo da área anterior, com o objetivo de atender seis contratos.
Dois deles já foram iniciados e devem ser concluídos até 2028. No total, mais de 170 trens, com mais de 940 carros, deverão ser produzidos pela fábrica para atender São Paulo, Santiago (Chile), Taipei (Taiwan) e Bucareste (Romênia).
O maior dos projetos envolve a produção de 36 trens de oito carros de passageiros cada para as linhas 8 e 9 da rede de São Paulo.
Produção nos últimos cinco anos*
Carros de passageiros
2018: 312
2019: 99
2020: 72
2021: 43
2022: 0
Vagões
2018: 2.566
2019: 1.006
2020: 1.672
2021: 1.800
2022: 1.500
Locomotivas
2018: 64
2019: 34
2020: 29
2021: 61
2022: 60
14/11/2022 – Folha de S.Paulo