Empresas de transporte e logística sentiram de frente o baque do coronavírus e apelam ao Governo Federal pela manutenção dos negócios
A vastidão dos terminais aeroportuários é de dar tristeza, assim como os ônibus e terminais de passageiros lotados, elencando o drama que o novo coronavírus presenteou a população do país com a impossibilidade de se locomover. Ou as dificuldades para percorrer a cidade por parte daqueles que não podem ficar em casa. Para além do descalabro humano sobre as quais a Covid-19 produz notícias, muitos setores sofrem as consequências duras das necessárias políticas de isolamento adotadas por governadores e prefeitos, e a logística e o setor de transportes foram atingidos em cheio. O setor aéreo enfrenta uma queda de 40% nas receitas e o cancelamento de 50% e 85% dos voos nacionais e internacionais, respectivamente. A variação do volume de cargas em voos domésticos é de 17,7%, enquanto a queda das importações e exportações para fora do país caiu 9,9%. Os números são da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base, a Abdib. Muitos países e estados fecharam suas fronteiras, porém, entre aqueles que precisam viajar, presença de máscaras entre os passageiros virou o “novo normal”. “A situação é grave porque, para as empresas, ao terem essa queda de demanda somada à inadimplência, é difícil resistir”, diz Venilton Tadini, presidente-executivo da Abdib.
O setor de aviação, vale dizer, foi um dos primeiros a se movimentar e pedir auxílio ao Governo Federal. “Não tem uma empresa aérea no mundo que sobreviva a uma crise dessas, por isso os governos têm ajudado. Estamos em situação de guerra e, se os governos não apoiarem, todas as aéreas vão quebrar”, diz o presidente da Azul, John Rodgerson. “É difícil voar neste momento. Estamos negociando com todos os funcionários porque as receitas não estão vindo”. Apesar das dificuldades, o setor foi contemplado com uma medida provisória (MP) editada pelo presidente Jair Bolsonaro para prorrogar as obirgações tributárias com a União, enquanto o BNDES suspendeu o pagamento de dívidas por 90 dias, ainda em março, para que as empresas consigam sobreviver. A Advocacia-Geral da União, por sua vez, determinou que as aéreas têm direito a aportes para reequilibrar a perda de receitas.
Situação parecida vivem os transportes terrestres. O setor rodoviário registra preocupação com a falta de infraestrutura para o atendimento a caminhoneiros, considerados um serviço essencial para não interromper o abastecimento de comida nos mercados, e a queda de arrecadação de pedágios, com a redução de 48,5% dos veículos leves e de 23,3% do trânsito de caminhões. Outra dificuldade relatada pelas empresas é a pressão dos sindicatos pela interrupção das cobranças nas catracas, justificando a queda nos vencimentos dos caminhoneiros e a necessidade de se facilitar a atividade. Em conversas com representantes do agronegócio na América do Sul e com o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, vem externando que manter restaurantes e postos de descanso para os caminhoneiros tem sido uma de suas principais preocupações e, para isso, vem conversando com prefeitos e governadores para alinhar a manutenção dos negócios nas estradas abertos.
Os portos e ferrovias, por sua vez, continuam operando com certa normalidade. Apesar de o presidente do sindicato dos operadores portuários, Rodinei Oliveira da Silva, ter pedido para que os funcionários do maior encouradouro do país, o Porto de Santos, cruzassem os braços temendo a contaminação pelo novo coronavírus ainda no início da pandemia, a Autoridade Portuária, por enquanto, demoveu os funcionários da ideia de entrar em greve. Já os trens assistem ao esvaziamento de suas cargas, principalmente em relação ao transporte de combustíveis, com a queda de 5,3% dos consumo em março, segundo a Agência Nacional do Petróleo.
Os setores, vale dizer, foram atingidos duas vezes: primeiro, com a queda de demanda por exportações à China, quando a Covid-19 começou a alastrar-se por lá e afetar o setor industrial, o consumo da população as negociações, visto que o pais é o principal parceiro comercial do Brasil. Depois, com a chegada da doença ao país, com a retidão das produções. Responsável por 74% dos translados de trem, o minério de ferro sofreu um baque de em março, mas aponta recuperação com a gradual volta à normalidade na China. Passado o pior momento, as importações chinesas de minério de ferro subiram 11,4% em abril se comparadas ao mês anterior. Beneficiados por medidas de adiamento de pagamento de dívidas, os dois setores, porém, se seguram nas projeções futuras. A ministra da Agricultura relata uma preocupação menor em relação aos dois setores, graças à recuperação chinesa e ao dólar alto, o que garante a atratividade das exportações brasileiras.
No transporte público, por exemplo, os metrôs calculam queda de 82% no volume dos passageiros, dadas as políticas de isolamento. As concessionárias estimam queda de 271 milhões de reais apenas nos primeiros nove dias de redução da demanda, segundo a ANPTrilhos, que representa as entidades. Mas não é só o setor de transportes que amarga perdas expressivas.
Com um contingente alto de pessoas trabalhando de casa, o setor elétrico enfrenta uma redução do consumo de 16%, graças à redução da atividade industrial e empresarial. Com a queda nos vencimentos e o aumento do desemprego, o setor assistiu, em abril, ao aumento na inadimplência, de 4% para 20%. O ministro da Economia, Paulo Guedes, vem apelando publicamente para que as pessoas mantenham os pagamentos para evitar uma crise de abastecimento de energia e trabalha, junto ao Congresso Nacional, pela aprovação do marco legal do setor elétrico, para atrair capital privado para o setor. A intenção do ministro é de viabilizar, também, a privatização da Eletrobras. As empresas de telecomunicações, por sua vez, registram aumento nas contratações de pacotes de internet (com mais pessoas trabalhando de casa), mas, ainda de forma incipiente, prevê o aumento da inadimplência.
As medidas de proteção a empresas adotadas pelo Ministério da Economia, o Banco Nacional do Desenvolvimento Social (BNDES) e o Banco Central (BC) vêm no momento certo. Para além do pagamento de parte dos vencimentos por parte da União de empresas que comprometam a não demitir, o Orçamento de Guerra deu prerrogativas para que o BC compre títulos de grandes companhias, chancelados por agências de risco, e disponibilize caixa para a continuidade da operação. O BNDES, por sua vez, realizou uma chamada pública para seleção de dez fundos de crédito para micro, pequenas e médias empresas e empreendedores individuais, e espera injetar 4 bilhões de reais nestas companhias por meio das fintechs, sem a participação dos grandes bancos. “Acho acertada a decisão do BNDES de se emprestar diretamente aos consumidores, sem o meio-campo dos bancos”, diz Carlos Thadeu de Freitas Gomes, ex-diretor do BNDES. É um bom começo.
10/05/2020 – Veja