Nos últimos 50 anos, a grande maioria dos países tem experimentado um rápido crescimento urbano e um aumento na utilização de veículos motorizados, para fazer frente a um também crescente deslocamento em áreas urbanas.
Na região metropolitana de São Paulo, por exemplo, se compararmos a evolução do índice de mobilidade (número de viagens por pessoa por dia) veremos que, nos últimos cinco anos, houve um crescimento de 12%, enquanto a população cresceu, no mesmo período, apenas 2%. Isso mostra que os deslocamentos urbanos estão acontecendo em velocidade bem superior à do crescimento populacional.
Preocupados com a dimensão desse problema, mais evidente nos países em desenvolvimento, onde 90% do crescimento da população ocorrerão nas próximas décadas, a ONU (Organização das Nações Unidas), por meio de seu programa de assentamentos humanos, publicou, em 2014, a edição revisada do relatório sobre mobilidade urbana sustentável.
Segundo o relatório, no mundo, em geral, a mobilidade está concentrada no transporte motorizado, principalmente nos veículos privados. Em 2010, existiam no planeta um bilhão de veículos motorizados, exceto as motocicletas, e nos países desenvolvidos existiam dez vezes mais veículos por habitante do que nos países em desenvolvimento.
Para 2035, projeta-se um número total de 1,6 bilhão de veículos no mundo, a maioria deles na China, Índia e em outros países asiáticos. Somente a China deverá ter, daqui a 20 anos, aproximadamente 350 milhões de veículos privados, número dez vezes superior ao de 2008.
Esse fenômeno de crescimento de veículos motorizados privados retroalimenta modelos de desenvolvimento urbano calcados em baixa densidade de ocupação. Assim, novas visões sobre a relação entre planejamento urbano, transporte e mobilidade devem ser consideradas.
O propósito do binômio transporte-mobilidade é possibilitar o acesso a destinos, atividades, serviços e mercadorias. Embora a construção da infraestrutura de transporte seja uma necessidade real, principalmente em países menos desenvolvidos, o planejamento urbano e o adequado projeto das cidades serão peças fundamentais para reduzir distâncias e aumentar a acessibilidade. Dessa forma, aumenta-se a sustentabilidade das soluções para o transporte.
Para que os residentes das cidades possam ter acesso às atividades e aos serviços otimizando os deslocamentos, poderão ser utilizadas alternativas como “telecommuting” –pessoas que trabalham em casa, pela internet e por outros meios digitais–, compras on-line, uso compartilhado de veículos e bicicletas, ou mesmo modelos de ocupação do solo que permitam a diminuição das distâncias e dos tempos de viagem.
Portanto, o desafio da mobilidade urbana está focado no planejamento das melhores soluções para aproximar as pessoas dos lugares, o que, sem dúvida, influenciará a funcionalidade e o formato das cidades.
Esse novo formato das cidades, baseado no aumento estruturado da densidade populacional e no incentivo ao uso misto, implica em mudar o modelo de zoneamento restrito, que induz separação física das atividades e, por conseguinte, aumenta a necessidade de deslocamentos.
As viagens urbanas podem envolver a combinação de diversos modos de transporte. Logo, a integração modal eficiente passa a ser um importante componente na estratégia de mobilidade urbana. Além disso, para assegurar a eficiência dos modelos de transporte, é fundamental integrá-los às políticas de uso do solo, em escala geográfica local e regional, dentro das cidades.