Órgão federal doa 35 toneladas de trilhos para associação de preservação em SP

Trilhos que estavam guardados no pátio do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) em Irajá (RJ) agora serão utilizados para a recuperação de um trecho ferroviário que foi alvo de vários furtos no interior de São Paulo e que, no futuro, ligará o estado a Minas Gerais.

A ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária), que recebeu o lote, fez uma operação para o transporte dos trilhos entre a cidade do Rio e Cruzeiro, no interior de São Paulo, onde já estão armazenados no pátio existente no local.

Eles, de acordo com a associação, serão utilizados para repor os trilhos furtados no trecho entre a cidade e o Túnel Grande, no alto da Serra da Mantiqueira.

O trecho está em processo de recuperação para que futuramente seja implantado um trem turístico.

O total doado chega a aproximadamente 35 toneladas de trilhos, o que representa 915 metros.

A cessão dos trilhos é mais um capítulo de uma negociação que já tem sido feita nos últimos anos pela entidade de preservação e o Dnit. No fim do ano passado, a ABPF recebeu três vagões.

O projeto integral contempla a recuperação de 25 quilômetros de trilhos, incluindo pátios para manobra, até o túnel que separa os dois estados mais populosos do país.

O Túnel Grande divide Cruzeiro de Passa Quatro (MG) e foi um local de relevância histórica durante a Revolução Constitucionalista de 1932.

A região da estação ferroviária Coronel Fulgêncio, em Passa Quatro, ainda guarda marcas dos confrontos.

Do lado mineiro, a região da linha férrea, que hoje abriga uma rota ferroviária turística, foi cenário de uma batalha sangrenta entre as forças paulistas e as tropas federais.

Relatos de pesquisadores indicam centenas de mortes de combatentes no local, inclusive a do tenente-coronel Fulgêncio de Souza Santos, comandante do 7º Batalhão da Força Pública de Minas Gerais.

Os registros indicam que ele foi assassinado perto do túnel quando paulistas tentaram invadir Passa Quatro.

Fulgêncio empresta o nome a uma estação ferroviária na cidade mineira e também, desde 1985, a uma medalha do mérito entregue pela Polícia Militar mineira para homenagear integrantes da PM, instituições e personalidades que prestaram serviços relevantes.

Os recursos para a implantação do trecho entre os dois estados são obtidos com a bilheteria dos trens operados pela regional Sul de Minas da associação, em São Lourenço e Passa Quatro (ambas em Minas Gerais) e Guararema (SP).

Quando a ferrovia, pelo lado paulista, chegar até o túnel, ela será conectada com os trilhos do trecho de dez quilômetros que já funciona em Passa Quatro.

O chamado trem da Serra da Mantiqueira é oferecido em Passa Quatro desde 2004, quando a ABPF assumiu o trecho e a estação ferroviária em Minas. Ele parte da estação central da cidade, que pertenceu à ferrovia Minas e Rio, passa pela estação Manacá, em operação desde 1931, e vai até Coronel Fulgêncio, num percurso de 20 quilômetros (ida e volta), no alto da serra, feito em duas horas.

27/06/2021 – Folha de S.Paulo / Blog Sobre Trilhos