Na Mídia | Rio de Janeiro perde passageiro em transporte sobre trilhos

Com crise econômica, tarifas mais altas que ônibus, e problemas de segurança, Estado tem queda de fluxo, enquanto média nacional avança

25/03/2025 – Valor Econômico

Os metrôs e trens urbanos do Rio de Janeiro tiveram queda anual de 1,2% de passageiros em 2024, enquanto, na média nacional, o transporte sobre trilhos ampliou em 3,6% sua movimentação. Os dados são da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos).

A diminuição reflete a crise econômica local, os problemas de segurança pública e a discrepância entre a tarifa dos metrôs e trilhos do Estado e a de ônibus, da prefeitura, avaliam especialistas.

“Há muita diferença. O ônibus tem um forte subsídio do município, o que não é um problema, é necessário. Mas entendemos que é preciso haver integração tarifária, para que haja um sistema de transporte único, como em São Paulo e na Bahia”, afirma Ana Patrizia Lira, diretora-executiva da ANPTrilhos.

Uma fonte do setor privado, que pediu anonimato, diz que a diferença de preços, que faz com que a população dê preferência ao ônibus, vem se desenhando há cerca de dois anos, quando a prefeitura começou a dar subsídios, sem que o governo estadual acompanhasse a medida. O descolamento se acentuou no reajuste de 2024, quando também chegou ao fim um subsídio temporário ao metrô.

Na concessão estadual da Supervia, que opera os trens na região metropolitana, as tarifas cobradas são de R$ 7,60, e no Metrô Rio, também do Estado, o valor passará a ser de R$ 7,90 em abril. Já na concessão municipal do VLT Carioca, rede sobre trilhos que interliga a região portuária, o centro da capital e o aeroporto Santos Dumont, a cobrança é de R$ 4,70, em linha com as tarifas de ônibus.

Além da fuga de passageiros para o ônibus, a própria crise econômica do Estado dificulta o avanço do transporte sobre trilhos no Rio de Janeiro, afirma Marcus Quintella, diretor da FGV Transportes. “O centro da capital passou por um esvaziamento e não conseguiu retomar a atração de empregos, que é importante para o transporte.”

Além disso, os especialistas destacam a crise de segurança pública, que afeta problema sério. Hoje, temos organizações criminosas que atuam nesse tipo de roubo. Isso gera muitos problemas operacionais, leva duas horas para restabelecer os equipamentos”, afirma Lira.

Com todos esses desafios, a Supervia vive hoje uma situação dramática. A concessionária, administrada pela Gumi Brasil, da japonesa Mitsui, está em recuperação judicial e, no ano passado, declarou sua insolvência. No fim do ano, a empresa e o governo fecharam um acordo para garantir a continuidade da operação. A negociação prevê a saída da concessionária, mas ainda não há clareza sobre como será a transição. Para Quintella, a possibilidade de o Estado assumir a operação preocupa.

Por fim, outro fator que dificulta o avanço do transporte sobre trilhos no Estado é a estagnação da rede, diz Quintella. “Há uma falta de planejamento e de investimentos públicos em expansão.”

Procurada, a secretaria estadual de Transporte e Mobilidade Urbana diz que “um grupo de trabalho foi criado para atuar na transição” da Supervia e que R$ 60 milhões já foram investidos pelo Estado em melhorias operacionais e mais R$ 300 milhões serão aplicados. A Supervia não quis se manifestar.

Sobre a tarifa do metrô, a pasta afirma que “o reajuste obedece ao previsto na concessão”. O governo diz ainda que um novo contrato do sistema metroviário, prestes a ser assinado, permitirá reduzir o valor, que ainda deverá ser definido, e que deverá alterar a forma de remuneração da concessionária.

Procurada, a Metrô Rio disse que “o valor da tarifa é definido no contrato de concessão (…) que também estabelece o mecanismo de reajuste anual” e é homologado por agência reguladora. O VLT Carioca afirmou que, entre janeiro de 2024 e 2025, houve alta de 30% no número de passageiros do sistema, principalmente devido à inauguração do Terminal Intermodal Gentileza, que integrou o BRT e as linhas de ônibus municipais.

redução em 2024 foi do Rio Grande do Sul, principalmente por conta do desastre climático vivido no Estado, segundo Lira. Nacionalmente, mesmo com o avanço, o volume de pessoas transportadas continua aquém do nível pré-pandemia. Em 2024, o número seguiu 21,2% menor do que o registrado em 2019.