O trânsito e a qualidade do transporte público estão entre os principais problemas cotidianos do paulistano, segundo mostram, há nove anos, pesquisas realizadas pelo Ibope sob encomenda da ONG Rede Nossa São Paulo e da Federação do Comércio. Se houvesse boas opções de transporte público, o cenário poderia melhorar muito: 83% do entrevistados no estudo feito no ano passado afirmaram que deixariam seus carros na garagem.
São muitas as críticas ao transporte público. A extensão das redes de metrô e trem é avaliada como insuficiente. Os ônibus são considerados lotados, lentos, impontuais e sujos. Os investimentos em melhoria do transporte público deveriam ser prioridade na pauta dos gestores públicos. “A resposta dos gestores do município e do Estado às demandas da população tem sido lenta”, diz Oded Grajew, coordenador geral da Nossa São Paulo.
Nos últimos 20 anos, o governo do Estado investiu R$ 30 bilhões em infraestrutura metroviária, tendo sido inaugurados 37,2 km de trilhos e 27 estações – menos de dois km por ano. Ao todo, o metrô paulistano tem 81,3 km. Em novembro, o governador Geraldo Alckmin anunciou que irá conceder à iniciativa privada a construção de 11,5 km da linha 5-lilás do metrô, que hoje tem 9,3 km. A previsão é de investimento de R$ 9,5 bilhões que deve estar concluído em 2018. O prazo inicial para entrega do trecho era
2014.
Atrasadas também estão as obras de duas redes de monotrilhos na cidade. A linha 17-ouro, que ligará o Jabaquara ao Morumbi, passando pelo aeroporto de Congonhas, foi concebida para ser entregue a tempo da Copa do Mundo de 2014.
Na última semana, foi suspensa por tempo indeterminado após o rompimento de contrato entre o governo estadual e o consórcio construtor. A outra linha, 15-prata, prevista para ser entregue em 2012 com 26,6 km de extensão e 18 estações, só tem 2,9 km concluídos.
O prefeito Fernando Haddad (PT) assumiu o comando da capital paulista em 2013 com o compromisso de privilegiar o transporte público. De acordo com o secretário municipal de infraestrutura urbana e obras, Roberto Garibe, o município conta, na atual gestão, com o maior orçamento de sua história para mobilidade urbana: R$ 5,3 bilhões, dos quais R$ 1 bilhão em recursos próprios e R$ 4,3 bilhões em repasses federais. “Trouxemos o PAC Mobilidade para São Paulo”, diz Garibe.
A meta de faixas exclusivas de ônibus, de 150 km, foi superada, com a construção de 390 km. Mas a expansão dos corredores de ônibus, também projetada em 150 km, está lenta. Até o fim de fevereiro, quando devem ser entregues três corredores – M’Boi Mirim, Inajar de Souza e Binário Santo Amaro -, serão 37,5 km concluídos. Outros 66 km estão em obras. Há ainda 40 km contratados ou em licitação.
Garibe diz que a execução das obras atrasou por causa da lentidão na realização das desapropriações necessárias e na obtenção do licenciamento ambiental. “A meta de corredores era ambiciosa diante do conjunto de obstáculos que precisam ser superados para uma obra com essas características. Mas os contratos foram firmados e a expansão do sistema de corredores foi incluída na agenda da cidade, independente de quem assumir a gestão no próximo ano”, afirma.
Luiz Carlos Néspoli, presidente da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), diz que o espaço viário na cidade é muito limitado e deve ser distribuído de acordo com o benefício ao maior número de pessoas. Numa faixa de uma via movimentada trafegam em média 1.200 carros por hora que transportam 1.500 pessoas. No mesmo período, os ônibus levam 10 mil pessoas. “Apenas 30% das viagens são feitas por automóvel, mas eles ocupam 75% do espaço viário. Não é lógico”, diz.
Grajew diz que a expansão do sistema de transporte público é importante, mas não resolve o problema de mobilidade na cidade. “Precisamos reorganizar o espaço urbano. Temos uma cidade onde as moradias estão na periferia e a oferta de emprego, educação, saúde e lazer concentrada na região central. Não há sistema de transporte que dê conta da demanda.”