METRÔS e TRENS do Brasil seguem em crise, assim como os ônibus. Confira balanço do setor

Volume de passageiros até cresceu, mas expansão da rede foi pífia. Demanda também não voltou ao que era antes da pandemia

Depois dos ônibus, chegou a vez do transporte público sobre trilhos apresentar uma radiografia operacional do setor em 2022. E, mais uma vez, o cenário não foi dos melhores, com a operação ainda sofrendo os efeitos do pós-pandemia de covid-19.

Embora tenha registrado um aumento de 28% na demanda de passageiros em 2022, a rede de metrôs, trens, VLTs e monotrilhos do País ainda não conseguiu recuperar o passageiro de antes da crise sanitária.

A perda de demanda em relação a 2019 chega a 43%. Em 2022, os sistemas de transporte metroferroviário transportaram mais de 7,8 milhões de pessoas por dia, o que significou um aumento de 28% em relação aos 6,1 milhões de passageiros transportados/dia em 2021.

Em 2022 foram transportadas 2,3 bilhões de pessoas por ano. Mas, quando o movimento é comparado com 2019, a diferença se destaca. Naquele ano, 3,3 bilhões de passageiros foram transportados. Ou seja, 11 milhões a mais.

“Infelizmente, evoluímos muito pouco. Crescemos 28% em relação a 2021, mas não recuperamos os 11 milhões de passageiros que usavam a rede metroferroviária do País antes da pandemia”, avalia o presidente do conselho da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos), Joubert Flores.

“E sabemos que boa parte desse passageiro não voltará, por diversas razões. O home-office e o modelo de trabalho híbrido, além da modernização do e-commerce, são as mais fortes. Agora, a nossa luta tem que ser para atrair aquele passageiro que ainda pode voltar”, alerta.

PASSAGEIROS QUE NÃO VOLTAM MAIS PARA OS METRÔS E TRENS

O entendimento do setor é de que pelo menos 15% dos passageiros perdidos não voltarão mais ao sistema. “Por isso, é urgente as políticas públicas de estímulo ao transporte público, especialmente na esfera federal. As linhas mais periféricas de metrô e trens, por exemplo, têm mais chances de se recuperar porque são usadas por passageiros que trabalham mais presencialmente. Isso precisa ser considerado”, segue Joubert Flores.

PREJUÍZO COM A PERDA DE PASSAGEIROS É DE R$ 5 BILHÕES

A pouca evolução da demanda de passageiros provocou, segundo o balanço da ANPTrilhos, uma queda de R$ 5 bilhões na arrecadação tarifária do setor de transporte metroferroviário em 2022.

Como se não bastasse, a rede metroferroviária também não teve praticamente expansão. Ou, como definiu o próprio Joubert Flores, teve um crescimento vegetativo. O Brasil conta atualmente com 21 sistemas urbanos de transporte sobre trilhos, em 11 estados e no Distrito Federal, operados por 16 empresas, sendo 8 delas concessionárias privadas.

“A rede ainda é muito pequena no País, infelizmente. E em 2022 cresceu apenas 2%. E acredito que só com a expansão da rede é que iremos conseguir atrair mais passageiros e resgatar outros perdidos. As concessões têm papel importante para essa expansão, mas não vão conseguir trazer o passageiro a curto e médio prazo”, alerta o presidente do conselho da ANPTrilhos.

Os avanços na ampliação da rede em 2022, segundo o balanço, foram muito pontuais. “Tivemos a concessão pública do Metrô de Belo Horizonte no fim de 2022, e temos a expectativa da PPP do VLT de Brasília, da concessão de três linhas da CPTM (São Paulo) e dos avanços para a licitação do Trem Intercidades São Paulo-Campinas (TIC Norte). Apenas”, destaca.

Segundo Joubert Flores, as expansões são necessárias, mas terão impacto a longo prazo. Não conseguirão trazer o retorno do movimento de imediato. “O transporte público coletivo só conseguirá isso quando o poder público criar políticas de desestímulo ao transporte individual”, enfatiza.

VEJA O HISTÓRICO DE PASSAGEIROS TRANSPORTADOS

2013 – 2,7 bilhões
2014 – 2,8 bilhões
2015 – 2,9 bilhões
2016 – 2,9 bilhões
2017 – 2,9 milhões
2018 – 3,1 bilhões
2019 – 3,3 bilhões
2020 – 1,7 bilhões
2021 – 1,8 bilhões
2022 – 2,3 bilhões

Perfil do passageiro

55% dos passageiros dos metrôs e trens são MULHERES
45% são HOMENS
63% dos passageiros utilizam o transporte para TRABALHO

RADIOGRAFIA DO SETOR EM 2022

2,3 bilhões de passageiros transportados/ano
7,8 milhões de passageiros transportados/dia útil
53% das cidades com mais de 1 milhão de habitantes com serviços de transporte metroferroviário

EXTENSÃO DA REDE DE TRENS E METRÔS

1.129,4 km de malha metroferroviária
47 linhas
629 estações
5.145 carros de passageiros

DESEMPENHO DOS SERVIÇOS DE TRANSPORTE SOBRE TRILHOS

5,2 bilhões de lugares ofertados
99,8% de confiabilidade do setor
97% de regularidade na prestação dos serviços
12 milhões de horas dedicadas à manutenção dos sistemas

QUALIDADE DE VIDA

R$ 30 bilhões devolvidos à sociedade em termos sociais e econômicos e de qualidade de vida
Redução de 1,3 bilhão de horas nos deslocamentos
Economia de R$ 379 milhões em custos com acidentes

COLABORAÇÃO COM A MUDANÇA CLIMÁTICA

Economia de 1 bilhão de litros de combustível fóssil
Economia de R$ 10 bilhões com a retirada de ônibus e carros das ruas
Redução de 2,1 milhões de toneladas na emissão de poluentes na atmosfera

ONDE EXISTE SISTEMAS DE TRANSPORTE SOBRE TRILHOS NO BRASIL

Teresina (PI) – CMTP Piauí

Fortaleza, Cariri e Sobras – METROFOR

Natal, João Pessoa, Recife e Maceió – CBTU

Salvador – CCR METRÔ BAHIA

Brasília – METRÔ-DF

Belo Horizonte – CBTU MINAS GERAIS (agora Grupo Comporte)

Rio de Janeiro – SUPERVIA, METRÔRIO E VLT CARIOCA

São Paulo – CPTM, METRÔ DE SÃO PAULO, VIA MOBILIDADE (Linhas 5 e 17, e Linhas 8 e 9), VIAQUATRO

Baixada Santista – BR MOBILIDADE BAIXADA SANTISTA

Porto Alegre – TRENSURB

 

18/04/2023 – Jornal do Commércio (PE)

Reprodução Jornal do Commércio
Print Friendly, PDF & Email