MetrôRio e SuperVia esperam por recursos previstos em projeto de lei para o setor de transportes para atenuar efeitos da crise provocada pela pandemia

O MetrôRio e a SuperVia apostam em uma solução de curto prazo para minimizar os efeitos da crise provocada pela pandemia e têm a expectativa de aprovação do projeto de lei para o setor de transportes, em tramitação na Câmara dos Deputados.

De acordo com a última versão, a proposta destinaria cerca de R$ 170 milhões para as concessionárias estaduais fluminenses, o que incluiria ainda barcas e linhas de ônibus intermunicipais. As duas empresas acumulam prejuízo de R$ 343 milhões, com a perda de passageiros que, no ápice da adesão ao distanciamento social, chegou a 80% no metrô e a 74% nos trens que servem a região metropolitana do Rio. Tanto a SuperVia quanto o MetrôRio trabalham com cenário de possível colapso financeiro a partir do início de setembro, o que deve prejudicar ou mesmo paralisar os serviços.

“Nosso horizonte de caixa vai até o fim de agosto. Mesmo com algumas negociações o colapso financeiro é muito sério e pode levar a empresa a paralisar”, diz o presidente da SuperVia, Antonio Carlos Sanches. A empresa operava com 600 mil passageiros por dia, volume que caiu para 180 mil no auge da crise e hoje está pela metade, o que gerou uma perda de R$ 153 milhões. A expectativa é que o movimento de passageiros transportados, até o início da pandemia, só seja retomado em 2022. A perda média para 2021 ainda será de 20%, estima a companhia.

O metrô carioca tem tido um prejuízo mensal de cerca de R$ 35 milhões desde o início da crise (acumulado em R$ 190 milhões até julho). Segundo o presidente Guilherme Ramalho, a ajuda à concessionária deveria ser de pelo menos R$ 150 milhões. A empresa confia na aprovação, considerada fundamental, do projeto de lei 3039/2020, mas tudo depende do valor a ser viabilizado, afirma Ramalho. A proposta está para ser votada e tem o deputado Hildo Rocha (MDB-MA) como relator.

O volume de passageiros no metrô, que era de 900 mil por dia em média, está em 270 mil. No pico do isolamento social, chegou a 140 mil pessoas por dia útil. A abertura gradual da economia do Rio ainda é incerta e não se refletiu totalmente no aumento das viagens, disse o presidente do metrô.

“Temos tentado desde o começo da pandemia preservar caixa, negociamos com todos os fornecedores, revisamos pagamentos. Há um esforço enorme de redução de custo. Mas temos estrutura de custos fixa e continuamos operando normalmente. Por mais que tentemos reduzir custo é impossível frente a queda de demanda de 70% a 80%”, disse Ramalho ao Valor.

O executivo aponta que ainda há dúvida sobre se o projeto de lei, caso aprovado, vai ser suficiente para o setor de trilhos, que tem estrutura de custos mais alta e rígida do que o transporte rodoviário, por exemplo. No total, a proposta no Congresso para o setor prevê R$ 4 bilhões a serem distribuídos a Estados e municípios.

Segundo Sanches, a última versão do projeto destinou R$ 171 milhões para o Estado do Rio. Ele lembra, contudo, que há necessidade de aprovação de outro projeto de lei, pela Assembleia Legislativa do Rio, para que o dinheiro enviado ao governo do Estado chegue às empresas. Isso requer mais negociações, num ambiente conturbado pela análise do processo de impeachment contra o governador Wilson Witzel (PSC).

Com a política do Rio tumultuada, além da economia já combalida e dependente do Regime de Recuperação Fiscal, o presidente da SuperVia também apelou para a ajuda do governo federal. Teve conversas no Ministério da Economia e obteve postergação de dívidas com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Atualmente negocia com os fornecedores de energia, Light e Cemig.

A empresa realizou redução de 25% na jornada de trabalho e nos salários de 2 mil empregados, além da suspensão do contrato de cerca de 400 funcionários. Isso representou economia de R$ 18 milhões, fora o enxugamento de mais R$ 3 milhões na área de segurança patrimonial. Apesar disso, a previsão é de que a perda com a diminuição do volume de passageiros chegue a R$ 285 milhões neste ano.

Para Sanches, o risco de paralisação da SuperVia pode levar a um caos social. “A gente conversou com o GSI [Gabinete de Segurança Institucional] do Rio de Janeiro para alertar sobre as questões de segurança. Porque, se ocorre uma paralisação, deve ser uma coisa muito pior do que uma greve dos caminhoneiros, porque a carga não reclama. Imagine os passageiros sem transporte”, diz.

O executivo diz que a suspensão do serviço, além do impacto sobre a liberdade de ir e vir, tende a gerar problemas de outras naturezas, com o impacto sobre o transporte de profissionais da saúde que combatem a pandemia e até na segurança. A concessionária opera em 11 municípios da região metropolitana e passa por 122 favelas. “A gente já convivia com uma situação bem crítica de furto, vandalismo e roubo. Se tiver colapso e paralisação, em pouco tempo vamos ter uma degradação da infraestrutura”, afirma o presidente.

Sanches afirma que a SuperVia e o MetrôRio, diferentemente das empresas de ônibus – que são permissionárias de serviços públicos -, são concessões, cujo patrimônio pertence ao Estado. Em conjunto, o patrimônio das duas empresas – com estações, trens, faixas de domínio etc – estaria avaliado entre R$ 30 bilhões e R$ 35 bilhões. “Para fazer uma analogia, uns anos atrás tinha o teleférico no Morro do Alemão, cuja operação parou e hoje em dia você tem uma sucata, não tem quase nada lá, muito pouco”, diz.

Guilherme Ramalho destaca que, diferentemente de outras operações no Brasil e também no resto do mundo, o metrô do Rio não tem nenhum tipo de subsídio do governo, e é custeado apenas com o pagamento das tarifas. O executivo lembra que outros serviços metroviários ao redor do mundo receberam algum tipo de auxílio dos governos, caso de Nova York (EUA), Montreal (Canadá), Nanquim (China) e Londres (Inglaterra), por exemplo.

04/08/2020 – Valor Econômico