Depois de um 2016 influenciado positivamente pelos Jogos Olímpicos, o Metrô Rio amargou no ano passado os efeitos da alta no desemprego e do recrudescimento da violência na cidade. Somente no primeiro semestre de 2017, último dado divulgado pela concessionária do grupo Invepar, o total de viagens pagas encolheu 17,6%, na comparação com o mesmo período do ano anterior. No cargo desde dezembro de 2016, o presidente da empresa, Guilherme Ramalho, de 36 anos, encara outros meios de transporte – vans, táxis e até bicicletas – como parceiros na estratégia de aumentar a capilaridade do serviço oferecido pela concessionária.

“Buscamos muito a solução da primeira e da última milha”, justifica Ramalho, referindo-se à distância entre a residência dos usuários e as estações. “Estamos abertos a fazer parcerias com táxi, ônibus, van, bicicleta, o que for”. A estratégia de parcerias ganhou força a partir do ano passado, através de acordos fechados com uma locadora de veículos (para diárias gratuitas), cooperativas de vans (para atender moradores das comunidades da Rocinha e do Vidigal) e, mais recentemente, com um empresa de transporte que utiliza táxis e carros de passeio.

No Carnaval deste ano, a concessionária pôs à venda um cartão que dava direito a quatro viagens de metrô por dia, por cinco dias consecutivos, além de descontos para utilizar num serviço de transporte com carro particular. Um próximo passo natural, cogita Ramalho, seria uma parceria com uma locadora de bicicletas. “O Rio é uma cidade com políticas públicas muito voltadas para o automóvel”, diz o presidente do Metrô Rio. “Acreditamos que há muito potencial. O Rio é um município com seis, sete milhões de habitantes, com uma região metropolitana de mais de dez milhões de habitantes, muito adensado.”

Mesmo com três linhas e 41 estações, o metrô carioca ainda tem uma capilaridade restrita, quando comparado – por exemplo – ao de outras capitais sul-americanas com menos habitantes. Transporta uma média de 860 mil passageiros por dia útil, quase três vezes menos quando comparado com o metrô de Santiago. E 40% menos do que a média diária de usuários registrada em 2016 pelo de Buenos Aires, inaugurado em 1913.

Os investimentos em infraestrutura de transportes feitos para a Olimpíada de 2016 somados ao fluxo de turistas atraído pelo evento esportivo fez a média diária de passageiros ultrapassar um milhão de pessoas. Com isso, o número de passageiros transportados naquele ano cresceu 3,1% frente a 2015, atingindo 240,9 milhões. Considerando apenas o total de passageiros pagantes, a expansão no período foi de 2,7%.

O cenário mudou no ano passado principalmente devido ao desemprego, explica Ramalho. Dados ajustados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego, indicam que a cidade do Rio perdeu, em 2017, 55.527 postos de trabalho, enquanto no conjunto dos municípios brasileiros (incluindo a capital fluminense) a diminuição foi de 20.832 vagas. Ou seja: o saldo nacional seria positivo não fosse o resultado do Rio de Janeiro.

Outro ponto que influenciou negativamente o fluxo de passageiros no Metrô Rio em 2017, ainda que de maneira indireta, foi a deterioração dos indicadores de segurança pública, esclarece Ramalho. No ano passado, foram registradas 6.731 mortes violentas – uma média de 40 para cada 100 mil habitantes, conforme indicam informações levantadas pelo Instituto de Segurança Pública (ISP). A taxa é a mais alta dos últimos oito anos.

“Andamos um pouco que na contramão da cidade. Tivemos em 2017 o nosso melhor ano de segurança”, afirma o executivo. “Tivemos 23 casos de roubo ou furto no metrô ao longo de todo ano de 2017, em mais de 245 milhões de viagens realizadas”, diz. Apesar do número relativamente baixo de incidentes, Ramalho explica que o aumento da violência nas ruas acaba por reduzir o volume de pessoas circulando pela cidade.

Embora as receitas não tarifárias ainda sejam pouco relevantes, a concessionária vem tentando ampliar a gama de serviços oferecidos dentro das estações por terceiros. No ano passado, fechou contrato com a Starbucks para a instalação da primeira operação da rede americana numa estação de metrô brasileira. O mix de lojas inclui também lavanderia, academia e serviços de estética, num total de 7.490 metros quadrados de área bruta locável. Desse total, 83% estavam ocupados em setembro. Ao todo, as receitas oriundas de locação e publicidade somaram R$ 25,9 milhões nos nove primeiros meses do ano passado, o equivalente a pouco mais de 4% da receita líquida no período.

16/02/2018 – Valor Econômico