por Roberta Marchesi*
Porto é a segunda maior cidade e o quarto município mais populoso de Portugal. Com uma população de pouco mais de 237,5 mil habitantes (2011), no Brasil seria considerada uma cidade de pequeno porte. Entretanto, em termos de mobilidade, ela se destaca.
A cidade do Porto possui o segundo maior sistema de metrô de Portugal, ficando atrás apenas de Lisboa. Inaugurado em 2002, o Metrô do Porto conta com 66,7 km de extensão, divididos em 6 linhas, que cobrem toda a cidade e movimentam mais de 61 milhões de pessoas ao ano (2017). E já seria uma grande rede para os padrões da cidade, mas ela não para de crescer.
No final do ano de 2018 foram aprovados investimentos para a construção de uma nova linha e extensão de uma segunda, que somarão mais 5,9 km à rede da cidade. Adicionalmente, o Programa Nacional de Investimentos 2030 (“PNI 2030”) prevê a aplicação de mais de 620 milhões de euros para a expansão e modernização de equipamentos e sistemas do Metrô do Porto. Essa é uma lição a ser aprendida pelos gestores públicos de mobilidade no Brasil, como exemplo de planejamento, integração e valorização do passageiro do transporte público!
No Brasil temos 27 grandes Regiões Metropolitanas, com mais de 1 milhão de habitantes cada, e menos da metade delas têm algum tipo de sistema de transporte estruturante sobre trilhos. Nosso maior sistema de metrô ainda é o da cidade de São Paulo, que possui uma rede de 93,2 km, para atender a uma população de 12,2 milhões de habitantes. E, se considerarmos as cidades de porte médio, que superam os 500 mil habitantes, a situação se mostra ainda mais crítica, pois apenas 28% (12) das 42 cidades nessa situação no Brasil possuem algum tipo de transporte sobre trilhos.
Não há solução para os problemas de mobilidade urbana, nos médios e grandes centros, que não passe pelo transporte de passageiros sobre trilhos. Se queremos avançar com a mobilidade urbana no Brasil e levar nossas cidades mais perto do conceito das SmartCities, gerando diversos benefícios econômicos e sociais e levando mais qualidade de vida aos cidadãos, é fundamental investir na ampliação do transporte estruturante sobre trilhos, promovendo sua integração física e tarifária com os demais modos de transporte da cidade.
É preciso superar velhas falácias, como a de que transporte sobre trilhos é apenas para cidade grande, e passar a investir em redes estruturantes no Brasil, para que possamos vir a colher os frutos de um transporte público de qualidade.
A cidade do Porto é apenas um exemplo de que os sistemas de transporte de passageiros sobre trilhos, como metrôs, trens urbanos e VLTs, não são apenas para cidades grandes. Mas temos diversos exemplos como esse ao redor do mundo. Uma ótima inspiração para nossos gestores públicos!
* Roberta Marchesi é Diretora Executiva da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos), Mestre em Economia e Pós-Graduada nas áreas de Planejamento, Orçamento, Gestão e Logística.