Em janeiro, o governo estadual deu início ao Plano Diretor Metroviário (PDM), com o objetivo de planejar todos os traçados de metrô e de outros tipos de transporte de alta capacidade a serem implantados na Região Metropolitana até 2045. Em pauta, estão as expansões das linhas até o Recreio e Jacarepaguá, que, mesmo ainda longe de serem iniciadas, já mobilizam a comunidade. Enquanto a Secretaria estadual de Transportes prevê a Linha 6 (Alvorada-Fundão) passando nas proximidades da Linha Amarela, contemplando Freguesia e Pechincha, sob o argumento de que o outro lado de Jacarepaguá já é atendido pelo BRT, moradores desejam que a rede abranja todo o bairro. O tempo para decisões, porém, é curto: o PDM estará definido até fevereiro. Por isso, a Associação de Moradores da Freguesia (Amaf) convidou o secretário Carlos Osório para um encontro neste domingo.
— Como querem que seja um projeto definitivo, achamos que o trajeto deve atender a mais pontos de Jacarepaguá, como Barro Vermelho, Taquara e Tanque. Chega de BRT, sistema que em breve estará saturado; temos que pedir metrô — afirma Jorge da Costa Pinto, coordenador do conselho regional da Federação das Associações de Moradores do Município do Rio de Janeiro (FAM-Rio) e diretor da Amaf.
Por outro lado, o secretário estadual de Transportes, Carlos Osório, deixa clara a preferência por um traçado que passe em locais não contemplados por BRT.
— A Linha 6 deverá ser próxima ao eixo da Linha Amarela, mas do outro lado da Transcarioca, à direita. O metrô não atenderia à outra parte de Jacarepaguá, que já tem o BRT — explica o secretário, que vem participando de reuniões com moradores, a fim de ouvir sugestões.
Carlos Osório diz que ainda não há estações definidas, mas propostas. Pelo esboço que leva em conta a ótica habitacional, ou seja, a quantidade populacional próxima, a Linha 6 teria três paradas em Jacarepaguá: Gabinal, Geremário Dantas e Pau Ferro. Depois, seguiria camimho parecido ao da Linha Amarela, até o Cocotá, na Ilha do Governador, que seria a estação final. Para Simone Villas-Boas, do Movimento Metrô Freguesia Mobilidade Urbana, o traçado é acertado:
— A estação Geremário Dantas é primordial, por ser num ponto central; a Gabinal é importantíssima, e atende a comunidades próximas, como Gardênia Azul e Cidade de Deus. Pau Ferro também tem muito movimento e uma grande população ao redor; e a sua estação poderia atender ao Pechincha, além da Freguesia.
Já Costa Pinto defende uma malha mais complexa. A Amaf acredita que a linha de Jacarepaguá deveria se ligar com a do Recreio, atendendo, assim, a Vargens, Camorim, Curicica, Taquara, Tanque e Praça Seca:
— A associação poderia até fechar os olhos, já que a Freguesia estaria sendo contemplada. Mas nós queremos pensar no todo. A Estação Pau Ferro, por exemplo, não acho que seja tão útil, por aquela não ser uma região central do bairro.
O secretário de Transportes diz que, antes da apresentação final, os estudos do PDM serão apresentados aos moradores das regiões que deverão receber o metrô, como forma de consulta popular. Em outubro, houve um encontro em Jacarepaguá, e uma reunião na Barra deve ser marcada para janeiro.
— Os moradores de Jacarepaguá deram boas sugestões para estações. Propuseram, entre outras coisas, ligações com ônibus de superfície — revela Osório.
Antes de o metrô chegar a Jacarepaguá, precisa ir até a Alvorada. O primeiro passo da expansão da Linha 4 já foi dado, com a construção de um rabicho na estação Jardim Oceânico, um prolongamento de cerca de 350 metros dos trilhos, para facilitar novas obras. O principal entrave é a falta de verbas. Carlos Osório diz que uma das opções é uma parceria entre município e estado, e o financiamento, no trecho da Avenidas das Américas, por meio de Certificados de Potencial Adicional de Construção (Cepacs).
Publicidade
— A possibilidade de recursos será bem menor depois das Olimpíadas. Já se conversou com Eduardo Paes e Pezão sobre a possibilidade de expansão, principalmente no eixo das Américas, por meio de parceria entre estado e município. Estamos vendo exemplos internacionais, como Hong Kong, cuja linha foi basicamente financiada pela valorização imobiliária do seu entorno. A proposta é estudar mecanismo parecido com o do Porto Maravilha, via Cepacs, mas não há martelo batido — explica o secretário.
HORA DE ESTABELECER PRIORIDADES
Desde o início do ano, com a escassez de recursos do governo estadual, a Secretaria de Transportes deixou claro que, na impossibilidade de se iniciar imediatamente novas obras metroviárias, a intenção, ao elaborar o Plano Diretor Metroviário, é desenhar projetos a médio e longo prazos. A base do PDM é o Plano Diretor de Transporte da Região Metropolitana do Rio de Janeiro (PDTU), recém-finalizado ao custo de R$ 5 milhões, financiados pelo Banco Mundial. O valor do PDM é de R$ 4,1 milhões.
— O PDTU é um grande banco de dados. Dividiu a Região Metropolitana em 730 quadrantes. Realizamos pesquisas de campo, para saber como, onde e por que as pessoas se deslocam. Já o PDM vai nos dizer como o modal metrô responde a isso. Todos os traçados possíveis estão sendo analisados. Acredito que será um grande legado, em termos de planejamento, para que haja um projeto real de expansão do metrô, a longo prazo. Deixaremos de pensar em expansões pequenas, como era no passado. É a primeira vez que teremos algo assim desde o projeto original do metrô no Rio, que é de 1968 — celebra Osório.
Os moradores da região sabem que a chegada do metrô não ocorrerá rapidamente. Mas festejam a entrada de Jacarepaguá e Recreio na pauta.
A despeito das restrições orçamentárias, Delair Dumbrosck, presidente da Câmara Comunitária da Barra, diz que a apresentação dos estudos da expansão do metrô até o Recreio está atrasada. Ele lembra que o governador prometeu mostrar a proposta no fim de 2014.
— Foi um compromisso do Pezão. Precisamos ver o projeto, ou pré-projeto, para opinar. Mas também entendemos que é prioritário finalizar a obra até o Jardim Oceânico — salienta Dumbrosck.
Se a chegada até o Terminal Alvorada é primordial, o presidente da Câmara Comunitária diz que muitos moradores da região julgam mais útil fazer a Linha 6 do que expandir a 4 até o Recreio:
— Tem gente que acredita ser mais interessante fazer o metrô para Freguesia e Zona Norte, pelo próprio volume de pessoas transportadas. Além disso, há um projeto do Eduardo Paes de fazer VLT da Alvorada ao Recreio.
UM PROJETO PARA 15 ANOS
Foi por estar insatisfeita com as poucas opções de transporte na Freguesia que a publicitária Simone Villas-Boas criou, no fim do ano passado, o Movimento Metrô Freguesia Mobilidade Urbana.
— O bairro teve recentemente um boom populacional enorme, mas não houve investimentos em infraestrutura e transporte. O sistema viário se manteve. E, com o BRT, linhas de ônibus viraram alimentadoras, prejudicando ainda mais a Freguesia — afirma Simone, que entregou um abaixo-assinado com diversas reivindicações relacionadas ao tema transporte para o governador Luiz Fernando Pezão em dezembro de 2014, e recebeu então a promessa de que haveria um estudo para levar o metrô até a região. — É bom ser lembrado e ser visto. A vinda do metrô para Jacarepaguá estava esquecida, mesmo que constasse no plano original de 1968. Sabemos que ele não chegará de um dia para o outro; por isso também pedimos outras medidas a curto prazo, como a criação de uma alça viária como opção de entrada na Linha Amarela.
Além do encontro com o governador, membros do movimento entregaram um dossiê para a Subprefeitura da Barra e Jacarepaguá, em fevereiro, com outras reivindicações, como aumento do efetivo de controladores de tráfego, construção de mais ciclovias e mais linhas de ônibus. Segundo Simone, o único pedido atendido até aqui foi a pintura de sinalização horizontal na Estrada dos Três Rios.
Há seis anos, Jorge da Costa Pinto e Wladimir Filgueiras, morador de Curicica, participam de discussões sobre a expansão do metrô, no Fórum Permanente de Mobilidade Urbana da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, que se reúne semanalmente no Clube da Engenharia, em Laranjeiras. O objetivo do fórum, do qual fazem parte membros da sociedade civil, técnicos e representantes da Secretaria de Transportes, é definir os melhores traçados para a mobilidade urbana. Costa Pinto sabe que a Linha 6 não é prioridade, mas espera que, ao menos, não fique no fim da fila.
Publicidade
— Provavelmente somos a quarta prioridade, atrás do término da Linha 4, da linha Estácio-Praça Quinze e do projeto São Gonçalo, que ainda não está descartado. É uma obra que não sai em menos de 15 anos — diz Costa Pinto. — Com as Olimpíadas e o anúncio do BRT, sabíamos que o projeto do metrô seria postergado. Mas o debate progrediu. Ao menos o Osório é receptivo a ideias.
Filgueiras, morador de Curicica, lembra de outra proposta levantada no fórum: a compra de um segundo Tatuzão, máquina que faz escavações, para que o governo consiga trabalhar em mais de uma frente de obras, simultaneamente:
— A tecnologia de engenharia evoluiu muito. Não há mais trechos intransponíveis. E o Osório disse que a Linha 6 seria feita com auxílio de um Tatuzão, o que ameniza os transtornos e evita a interdição das avenidas principais.