Comissão em Defesa dos Direitos dos Autistas da OAB-DF é parceira no treinamento de metroviários
17/04/2024 – Metrô-DF
No vaivém de passageiros do Metrô-DF, há uma imensa diversidade de pessoas. Com o objetivo de prestar um serviço de excelência a todos, sem qualquer tipo de distinção, a companhia tem investido na formação dos agentes de estações e do Corpo de Segurança Operacional (CSO). Na última segunda, 15/04, o Metrô-DF reuniu empregados para uma palestra com integrantes da Comissão em Defesa dos Direitos dos Autistas da OAB-DF. O objetivo é iniciar um treinamento para compreender melhor as características e as necessidades dos autistas.
Estavam presentes a presidente da Comissão, Flávia Amaral, a vice-presidente da Comissão, Jéssica Emídio, ambas advogadas e mães de autistas, além de Kauan Mansur, educador, integrante da Comissão, que se descobriu autista aos 46 anos. “A inclusão é uma das prioridades da Companhia e esta parceria com a OAB é o início de um processo, que tem como finalidade prestar um serviço de excelência a todos os cidadãos, incluindo as pessoas autistas, neurodiversos e com deficiências físicas”, disse o diretor de Operação e Manutenção do Metrô-DF, Márcio Aquino.
Vinte e quatro empregados participaram desta primeira etapa. Eles serão multiplicadores do conhecimento adquirido na palestra, que deve se transformar em um curso completo para todos os empregados. A iniciativa é da Diretoria de Operação e Manutenção (DOM), em parceria com a Escola Metroviária.
Integrantes da Comissão em Defesa dos Direitos dos Autistas da OAB-DF e empregados do Metrô-DF no encerramento do treinamento realizado no CAO. Foto: Otávio Miranda/OAB-DF
Segundo a presidente da Comissão, é muito importante compreender que a questão sensorial para os autistas é muito importante. “Algum estímulo pode ser a gota d’água para gerar uma crise”, explicou.
Vice-presidente da Comissão, Jéssica ressaltou que estamos no Abril Azul, mês de conscientização do autismo, momento oportuno para envolver toda a comunidade nas causas que incluem tais distúrbios e condições do TEA (Transtorno do Espectro Autista), a fim de buscar uma sociedade mais consciente, menos preconceituosa e mais inclusiva.
De início, foi exibido um vídeo com uma mulher autista, que também teve seu diagnóstico na fase adulta. Ela ressaltou que ambientes com muito barulho, em especial o transporte público, podem ser extremamente exaustivos. Da mesma forma, outros estímulos, como a luz ou o toque, podem desencadear sensações desagradáveis ou mesmo crise. Muitas vezes, tais crises podem ser interpretadas como uma crise de ansiedade, já que muitos têm o diagnóstico tardio.
Coube a Kauan, integrante da comissão, que descobriu o autismo há três anos, passar os esclarecimentos introdutórios. Entre eles, explicou a diferença entre o cordão do girassol, que identifica pessoas com deficiências ocultas, e o cordão do quebra-cabeças, específico para autistas. Ressaltou a importância de usar o colar e estar atento a buscar a identificação própria para usar o transporte público.
O Metrô-DF também está com uma campanha nas redes sociais (foto acima), que explica a diferença entre os cordões, para dar maior visibilidade à causa e para informar que autistas também têm o direito de usar o carro exclusivo para mulheres e pessoas com deficiência.
Muitas vezes, mulheres denunciam a presença de homens no vagão, sem saber que eles são autistas ou têm deficiências ocultas. “Nós queremos estar no mesmo lugar que todos. Não quero ser obrigado a usar o primeiro vagão, mas eu posso usar, então é necessário que as pessoas saibam”, disse Kauan.
Kauan também falou sobre o cérebro neurodiverso e sobre o quanto cada autista tem suas características próprias. E, segundo ele, das mais de 21 mil pessoas que têm cadastro na Secretaria da Pessoa com Deficiência do DF, a maioria, quase 9 mil pessoas, são autistas.
Barreiras
“Existem muitas barreiras a serem quebradas: urbanistas, arquitetônicas, nos meios de transporte, de comunicação e de informação e, sobretudo, as atitudinais, relacionadas aos comportamentos das outras pessoas perante as pessoas com deficiência – essas são as mais difíceis de serem quebradas”, explicou.
Agentes do Corpo de Segurança Operacional (CSO) do Metrô-DF pediram orientação sobre como fazer a abordagem ou como ajudar uma pessoa autista em uma situação de crise. Algumas atitudes foram recomendadas, como fazer a abordagem com empatia; supor veracidade no relato da pessoa, explicar um passo a passo do que vai ocorrer porque a previsibilidade cria uma sensação de segurança.
Além disso, os integrantes da comissão recomendaram usar linguagem simples, direta e objetiva, com argumentos lógicos e coerentes. “´É preciso cuidado também com o tom de voz e volume ao se dirigir ao autista”, complementou Kauan. Também não esperar contato visual nem resposta verbal. Esperar por muito tempo é outra situação que costuma até desencadear crises.
Metroviários relataram ainda situações que enfrentam no dia a dia, como a de um autista que chega à estação, pega na mão do mesmo segurança, embarca com ele no trem e quer sentar na janela. Ou de um outro que espera até três ou mais trens passarem para embarcar caso o lugar onde ele costuma sentar esteja ocupado.
Nesses casos, é preciso pedir aos usuários que cedam os lugares, o que nem sempre é bem recebido ou atendido rapidamente. “Temos a mania de achar que é ele, o autista, quem tem que se adaptar, fazer terapia, etc. Na verdade, é a sociedade que precisa aprender a conviver com um neurodiverso”, pontua a presidente da Comissão, Flávia Amaral.
O Metrô-DF também desenvolve uma relação especial com crianças autistas. Entre eles, Marcos Vinícius Estevão dos Santos Dias, de 15 anos, que tem fascínio pelo Metrô e viveu um dia de piloto, e Daniel Cardoso, cego e autista, que tem ouvido absoluto e consegue reproduzir os sons do metrô nos instrumentos ou na voz. Dan também teve um dia de metroviário, emocionando a todos que estavam com ele.
Só em 2023, os agentes de estação e seguranças acompanharam dentro do sistema 19 mil pessoas com deficiência. Também prestam socorro a 2.200 pessoas, em média, por ano. Um trabalho que, muitas vezes, é invisível à população, mas faz toda diferença para um transporte seguro e humanizado.