Investimentos em transportes menos poluentes devem ser multiplicados por cinco para limitar aquecimento global, diz IPCC

Relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas foi divulgado neste domingo e sugere a necessidade de esforços sem precedentes

O mundo vai precisar multiplicar por cinco os investimentos em transportes menos poluentes contando com redes de metrô e frotas de ônibus elétricos, trólebus e a GNV, para limitar o aquecimento global em 1,5º C.

É o que mostra relatório do IPCC, sigla em inglês para Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, o mais importante fórum sobre o tema, divulgado neste domingo, 07 de outubro de 2018, na cidade sul-coreana de Incheon, que deverá ser detalhado hoje.

O relatório conta com seis mil referências científicas e foi assinado por 91 especialistas de mais de 40 países, de acordo com agências internacionais.

Também devem ser ampliados por cinco os investimentos para que edifícios e indústrias sejam menos poluentes.

O relatório é conclusivo em sugerir ações imediatas e “medidas sem precedentes”. Caso as emissões globais continuem no mesmo ritmo, o planeta pode ficar 1,5º C entre 2030 e 2052.

A meta é mais rigorosa que a estipulada pelo Acordo de Paris, assinado em 2016 por 195 países, inclusive o Brasil, que propõe que o aquecimento global seja limitado a 2ºC.

Fortes chuvas descontroladas em algumas regiões, secas severas em outras, ampliação das mortes prematuras por câncer e problemas respiratórios, grandes recursos usados em saúde pública, extinção de espécies de animais, a começar por marítimas e aves, fim dos corais estão entre as consequências relacionadas pelo fórum caso a temperatura se eleve em patamares superiores a 1,5º C.

O relatório mostra que se o aquecimento for limitado a 1,5º C será possível evitar aumento do nível do mar em 10 centímetros até 2100, o que salvaria zonas litorâneas e litorais.

O planejamento urbano também é destacado no relatório. O item inclui ações de saneamento básico, saúde pública, mobilidade urbana e oferta de emprego e renda mais próxima de onde as pessoas moram para reduzir as necessidades de deslocamentos.

Não somente o transporte coletivo deve ser incentivado, mas o transporte individual deve ser desestimulado.

E uma das formas de conciliar estas duas necessidades é fazer com que o transporte individual financie o transporte público coletivo.

Uma das propostas neste sentido é debatida há mais de cinco anos no congresso brasileiro; a Cide municipal ou Cide verde, que consiste na criação de um imposto sobre o litro da gasolina e etanol dos carros e motos cuja arrecadação seria destinada a redução dos valores de tarifas de ônibus, trens e metrô.

Apesar das legítimas queixas quanto ao aumento da carga tributária brasileira, os defensores da Cide Verde dizem para cada R$ 0,10 a mais nos combustíveis pode haver queda de R$ 0,30 nos valores das passagens, o que poderia reduzir a inflação.

Além disso, argumentam que seria uma espécie de justiça no financiamento do uso do espaço urbano, isso porque quem está no carro ou na moto proporcionalmente ocupa mais espaço e emite mais poluentes de forma individual em relação a quem se desloca de forma coletiva.

O relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas mostra ainda que em relação à mobilidade urbana e saúde pública, as nações da África e América Latina são as mais vulneráveis e onde os investimentos estão mais atrasados.

Nestes locais, o poder público ainda não assumiu o papel de protagonismo.

Agricultura mais sustentável e menos extensiva, além da necessidade de maior destinação de terrenos ao cultivo de recursos energéticos também estão entre as medidas consideradas essenciais pelos especialistas.

08/10/2018 – Diário do Nordeste