Por Rodrigo Luna
Há muitos anos que se fala da inadiável importância de investimento na recuperação e ampliação da malha ferroviária do país. Mas os gargalos de nosso desenvolvimento só passam a ser discutidos com ênfase e prioridade quando os problemas estouram e passam a atingir frontalmente a população.
Em termos urbanos, como exemplo, o metrô de São Paulo transporta em média mais de quatro milhões de passageiros por dia em seus mais de 80 km de extensão. A linha férrea de São Paulo é a maior do Brasil e a mais extensa da América do Sul. O número é grandioso, mas ainda deficitário se levarmos em conta o caos da mobilidade paulistana e se compararmos a países europeus, por exemplo.
O que acontece é que a cidade de São Paulo, assim como outros centros urbanos brasileiros, cresceu de forma desordenada. Além disso, por falta de políticas urbanas adequadas e de longo prazo, passamos a ver altos valores nos imóveis nas áreas centrais, que fizeram com que as pessoas fossem habitar regiões mais periféricas e distantes, onde não é fácil encontrar opções de trabalho e lazer. Como consequência deste espraiamento populacional temos a dificuldade de locomoção diária. A malha ferroviária, com os atuais números apresentados, não consegue atingir de forma ampla todas as regiões da cidade e não se integra a outras opções de transporte público. Esse cenário culmina no aumento de veículos individuais que rodam diariamente nas ruas, acarretando em altos indicies de poluição e estresse. Fatores que reduzem a qualidade de vida e que encarecem o dia a dia. Por esses motivos, é possível afirmar que existe a necessidade premente de investimento neste tema, pois estamos perto de um colapso assim como vimos na semana passada com os incidentes do aumento do preço dos combustíveis.
Para facilitar esse transporte entre as áreas mais afastadas e a região central é preciso que se pense em mudanças para os modelos de habitação e deslocamento. Um planejamento urbano eficiente não pode ignorar o fato de que o transporte de massa sobre trilhos pode transportar em média 80 mil pessoas por hora 0 em uma comparação rápida, os ônibus têm, em média a capacidade de transportar seis mil passageiros no mesmo período. É preciso, além de interligar as regiões, incrementar os modelos de atuação dos transportes de pessoas, produtos e cargas por todo o território nacional.
Outra medida que pode ser adotada com o objetivo de facilitar a locomoção dentro das cidades é ocupar, de maneira inteligente, as áreas urbanas que estão subutilizadas e abandonadas. Uma saída são os projetos de verticalização, pois reduzem os grandes deslocamentos das pessoas no dia a dia. Esse planejamento visa a construção de edifícios em locais mais próximos aos comércios e locais de trabalho.
Um exemplo recente de projeto que auxiliou a melhoria do transporte urbano, mesmo que de forma tímida, foi a primeira etapa do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), implementada na cidade do Rio de Janeiro, em junho de 2016, ela se integra aos meios de transporte do Centro e da Região Portuária. A cidade também expandiu a linha de metrô e implantou algumas linhas de BRT, do inglês “Bus Rapid Transit”, ou Transporte Rápido por Ônibus. Esse aceno ao avanço precisa continuar recebendo incentivos e atenção da sociedade de forma ampla. Existe uma necessidade de que esse sistema integrado de transporte seja absorvido pela população e que receba investimentos de continuidade e expansão.
O Brasil deve se inspirar em exemplos internacionais, aliando tecnologia e infraestrutura para população para que esses investimentos não fiquem restritos a algumas cidades ou regiões. Só uma política urbana articulada e eficiente, com parcerias público-privada, pode garantir isso. O sucesso das cidades está na integração de um planejamento de mobilidade sobre trilhos, que vise o melhor aproveitamento dos espaços e que garantam ampla mobilidade da população.
Rodrigo Luna é presidente da FIABCI-Brasil.
29/05/2018 – Estado de São Paulo