Integração, saída para o transporte público

CCR Metro Bahia

A eficiência do transporte de passageiros sobre trilhos é 10 vezes maior se comparada à do transporte rodoviário, até em função da maior durabilidade de vias e veículos. No entanto, o deslocamento por ferrovias nas regiões metropolitanas é utilizado como meio de transporte por apenas 3,8% da população, afirmou o presidente da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos), Joubert Flores, em entrevista concedida ao programa Agenda Econômica, da TV Senado.

Ele defendeu como solução para as falhas do transporte coletivo a implantação de um sistema integrado por trens, metrôs, ônibus e Veículos Leves sobre Trilhos (VLTs) semelhante ao de cidades como Londres, Paris e Berlim. Segundo ele, o mais adequado seria criar um “eixo estruturante” nos grandes centros urbanos com alta capacidade de transporte a longa distância por trens e metrôs. Os ônibus e VLTs teriam a função de alimentar esse eixo e por ele serem alimentados em trajetos menores.

“Atualmente, os meios de transporte são paralelos uns aos outros. Fazem a mesma rota e concorrem entre si, o que gera custo e ineficiência”, esclareceu o dirigente.

Custos

A estruturação do transporte de massas em torno do eixo ferroviário não seria desvantajosa aos operadores dos sistemas rodoviários, no entender de Joubert, visto que esse modelo promoveria uma economia no custo total da operação, em razão da diminuição do percurso, dos congestionamentos e, consequentemente, do desgaste dos veículos. Esse ponto de vista é confirmado pelo presidente da NTU, Otávio Cunha, que calcula em US$ 100 milhões o investimento por quilômetro de linha.

Contudo, para a implantação de sistemas de transporte integrados que realmente funcionassem bem, seria necessário instituir uma autoridade metropolitana autônoma encarregada de estabelecer linhas e corredores, escolher as formas de integração e, com isso, oferecer o melhor trajeto pelo menor custo. O presidente da ANPTrilhos defendeu ainda parcerias público-privadas, nas quais o Estado se responsabilizaria pela construção civil e por criar um ambiente legal estável, o que usualmente os especialistas chamam de “segurança regulatória”. Em contrapartida, as empresas privadas investiriam em alta tecnologia, como sucedeu com a Linha 4 do metrô de São Paulo, na qual os trens dispensam condutores e são operados à distância.

Quanto à possibilidade de os governos subsidiarem as tarifas, o entrevistado destacou que é preciso cautela. Na opinião dele, o dinheiro público exige um sistema organizado, que trabalhe em favor do usuário, mas estimule o máximo de rendimento ao menor custo para o Estado.

Joubert: estruturar o transporte em torno do 'eixo ferroviário' diminuirá os custos das empresas de ônibus
Joubert: estruturar o transporte em torno do ‘eixo ferroviário’ diminuirá os custos das empresas de ônibus

Embora o número de sistemas de transporte sobre trilhos ainda seja pequeno — das 22 regiões metropolitanas com mais de 1 milhão de habitantes, apenas 12 têm algum tipo de metrô ou trem —, os investimentos nesse setor estão em constante expansão. Em 2015, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) destinou R$ 7,6 bilhões para projetos metroferroviários, 49% a mais que o desembolsado em 2014, quando foram destinados R$ 5,1 bilhões.

O Balanço do Setor Metroviário 2015/2016 mostrou que foram inauguradas 12 novas estações em 2014. Em sequência, neste primeiro semestre de 2016, foram entregues a extensão do VLT da Baixada Santista e 18 km da primeira etapa do VLT da zona portuária e central do município do Rio de Janeiro. Estão previstos ainda a conclusão da Linha 4 do Metrô do Rio e a primeira fase da Linha 2 de Salvador até o final ano. Projeta-se para os próximos anos, a implantação de 11 novas linhas em seis estados.

A ampliação da rede de transporte sobre trilhos, hoje com 1.012 quilômetros, foi de meros 4% nos últimos dois anos. Em contrapartida, o aumento, neste ano, pode ser de até 20%, ou 200,2 km, o maior dos últimos 20 anos. “A gente tem que tentar manter isso. Nós temos espaço e potencial”, afirmou Joubert.

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Julho 2016 – Revista em Discussão – Senado Federal