Mobilidade é uma questão vital para os 21,5 milhões de habitantes dos 39 municípios que fazem parte da Grande São Paulo. Com uma frota de 9,1 milhões de automóveis, a região metropolitana busca alternativas para reduzir os altos custos sociais, econômicos e ambientais da motorização individual. Desatar o nó da mobilidade passa pelo planejamento adequado do uso e ocupação do solo, pela integração da malha de transportes e pela valorização da bicicleta, na visão dos especialistas. Envolve também a adoção de novas tecnologias e investimentos continuados nos modais ferroviário e metroviário.
Em 2020 o governo paulista pretende viabilizar projetos de quase R$ 30 bilhões em linhas de metrô e trens urbanos. Três empreendimentos na capital fazem parte das prioridades: a Linha 6-Laranja, entre Brasilândia e São Joaquim; a extensão da Linha 2-Verde até a estação Penha, na zona leste; e a Linha 17-Ouro, monotrilho entre o Morumbi e o aeroporto de Congonhas. Outro projeto que a atual gestão quer tirar do papel é o trem de velocidade média entre São Paulo e Campinas. O trajeto previsto é um corredor formado pela Linha 7-Rubi, que chega até Jundiaí, e pelo Trem Intercidades, com investimento estimado de R$ 6 bilhões.
O transporte por trilhos tem grande relevância na inclusão social de quem vive na periferia, avalia Diamantino Augusto Sardinha Neto, pesquisador do Observatório das Metrópoles, doutor em ciências sociais pela PUC e professor titular na Anhanguera Educacional. “O bilhete único é um dos maiores programas de transferência de renda”, afirma. “Sua adoção a partir de 2005 beneficiou a população que ganha até quatro salários mínimos, já que 70% da oferta de empregos está na região central.” Ele acredita que os investimentos dos últimos anos estão no caminho correto, mas é preciso repensar a integração entre metrô e ônibus, para que sejam complementares e não concorrentes.
Os paulistanos são afetados de maneiras distintas pelo modelo de mobilidade centrado no automóvel, como mostra o Mapa da Desigualdade 2019 da Rede Nossa São Paulo. A depender do bairro onde se mora, por exemplo, as chances de morrer em um acidente de trânsito variam até 41 vezes.
Outra pesquisa da ONG mostra que a lotação, a tarifa alta e a frequência reduzida são os principais problemas percebidos pelos usuários de ônibus. Uma em cada três
Um plano da Secretaria Municipal de Mobilidade e Transportes pretende reduzir o índice de mortes por acidentes de trânsito para 6 a cada 100 mil habitantes, de acordo com a recomendação da ONU. Em 2018, o índice foi de 6,95. Entre 80 ações previstas para promover a segurança no trânsito e a intermodalidade, incluem-se a extensão de calçadas em cem pontos para reduzir a distância de travessia do pedestre; e o programa Pedestre Seguro, que prevê revisão do ciclo semafórico, recuperação da sinalização e aumento nos fiscais em sete corredores de trânsito.
Lançado em dezembro, o novo Plano Cicloviário prevê 173 km de novas conexões com integração da malha viária, 310 km de reformas e melhorias e 12 km de remanejamentos. O investimento de R$ 325 milhões virá acompanhado de um projeto de recapeamento asfáltico de R$ 250 milhões. “No total, a cidade passará dos atuais 503 km para 676 km em 2020, e 73% dessas estruturas se interligarão ao transporte coletivo”, explica o secretário de mobilidade e transportes, Edson Caram. Ele lembra que houve ampla participação popular na elaboração do plano.
A grande expansão das ciclovias de São Paulo ocorreu entre 2013 e 2016, mas essa malha ainda representa menos de 3% da existente na cidade, observa a diretora- presidente da União dos Ciclistas do Brasil, Ana Luiza Carboni. “Promover o uso da bicicleta tem grande potencial de impacto positivo na saúde pública, na economia e na redução de emissão de poluentes.” Para a especialista em mobilidade, é fundamental incluir a bicicleta como um dos subsistemas de transporte, por meio do fomento ao compartilhamento e a bicicletários públicos seguros.
“Mobilidade é um eixo transversal que garante qualidade de vida e contribui para investimentos em outras áreas”, diz a coordenadora da Rede Nossa São Paulo, Carolina Guimarães. Ela lembra que a maior circulação de pessoas aquece a economia e viabiliza o exercício de direitos pela parcela mais vulnerável da população. Carolina defende a inclusão permanente do tema na agenda municipal, com processos participativos que respeitem as realidades diversas de cada distrito.
27/01/2020 – Valor Econômico