O grupo Odebrecht busca novo sócio para seu negócio de saneamento e avalia interesse de investidores para a área de transportes – comandados pelas subsidiárias Odebrecht Ambiental e Odebrecht Transport, respectivamente.
No caso do ativo de saneamento, fontes do setor relatam já terem sido sondadas por executivos do grupo Odebrecht também sobre a possibilidade de uma aquisição integral – e não apenas sobre sociedade.
A empresa de saneamento busca um terceiro parceiro para fazer um aporte primário de capital, com valor ainda indefinido. Hoje, a Odebrecht detém 70% da companhia e os outros 30% estão nas mãos do FI-FGTS (Fundo de Investimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço). A empresa tem atuação nos segmentos de água e esgoto, industrial e serviços.
A decisão foi tomada no fim do ano passado e, de acordo com a diretora financeira e de relações com os investidores da empresa, Ticiana Marianetti, trata-se de uma estratégia recorrente da companhia. Esta seria a terceira capitalização na companhia Ambiental – a primeira com a entrada do FI-FGTS e a segunda com um aumento de participação do mesmo fundo.
A executiva informou que o movimento ainda está em fase de prospecção e não há definição do quanto de participação na empresa a Odebrecht estaria disposta a abrir mão. A princípio, diz, a ideia era conseguir um sócio (operacional ou financeiro) para entrar com uma participação minoritária.
Ticiana afirma que, no entanto, o retorno de possíveis entrantes é de que há interesse em obter uma participação maior, que garanta mais voz no comando da empresa.
O Valor apurou ainda que estão sendo contratados para assessoria nesse processo os bancos Bradesco, Itaú e BTG. A companhia, porém, não confirma a informação. No mercado, as conversas indicam que conseguir um sócio para a Odebrecht pode ser complicado dada a situação do grupo após a Operação Lava-Jato.
Potenciais interessados no ativo, no entanto, disseram ao Valor que trata-se de um ativo atraente, mas para aquisição de alguns de seus negócios. Não demonstraram interesse em se tornarem sócios da Odebrecht.
De acordo com Ticiana, o movimento foi pensado para garantir o crescimento sustentável da empresa e não é cogitada a possibilidade de venda (fatiamento) de ativos da empresa ou da participação detida pela Odebrecht.
A executiva afirmou que a empresa já conseguiu captar em financiamentos de longo prazo 91% dos recursos necessários para os investimentos previstos até 2018 de, em média, R$ 1 bilhão ao ano. O faturamento da Odebrecht Ambiental no ano passado foi de algo próximo de R$ 2,3 bilhões, o que representa crescimento de 17% em relação ao ano anterior.
A dívida bruta da empresa soma R$ 3,4 bilhões. O endividamento líquido, por sua vez, está na casa dos R$ 2,8 bilhões e, segundo Ticiana, a alavancagem está em 3,5 vezes considerando a relação dívida líquida e Ebitda. O custo médio da dívida é de 13,3% e duração média de 10 anos.
Ao mesmo tempo, na área de atuação em concessões de logística do grupo vem sendo recebidas propostas de entrada de novos sócios na esturutra societária da “subholding” Odebrecht TransPort. Mas, segundo fontes que acompanham a empresa, a companhia está atualmente apenas ouvindo tais propostas de interessados – sem enxergar uma necessidade real de venda neste momento. As conversas com potenciais investidores, neste momento, têm caráter informal. O foco é nas suas áreas de negócios.
Atualmente, a Odebrecht detém 59,39% da TransPort. O restante é detido pelo FGTS, com 30%, e pelo braço de participações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDESPar), com 10,61%. As entradas desses sócios serviram para capitalizar a companhia e direcionar os recursos para os investimentos programados.
Paralelamente, a TransPort continua sua estratégia de buscar investidores para os braços de atuação. O objetivo atual é atrair um sócio para a área de concessões de rodovias, que tem pesados investimentos obrigatórios a fazer, como na BR-163 no Estado de Mato Grosso (ativo conquistado em 2014). A companhia tem usado capital próprio para tocar empreendimentos enquanto aguarda a liberação de financiamentos do BNDES.
Exemplo da estratégia da TransPort em atração de sócios nos braços da empresa ocorreu há pouco mais de um ano, quando a companhia vendeu 40% da área de mobilidade urbana para a japonesa Mitsui, com objetivo de intensificar a atuação de ambas no segmento.
O negócio envolveu quatro ativos estratégicos – SuperVia (RJ), Move São Paulo (SP), VLT Carioca (RJ) e VLT de Goiânia (GO). A compra exigiu R$ 500 milhões da Mitsui, que tinham como destino os novos investimentos.
Além disso, a empresa continua reavaliando ativos não estratégicos em seu portfólio. O movimento mais recente foi a venda da participação de 50% da TransPort na ConectCar (sistema de pagamento de pedágios e estacionamentos) para o Itaú Unibanco, há cerca de três meses, por R$ 170 milhões.
Procurada, a Odebrecht TransPort disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que “a informação sobre a possibilidade de sócio na holding Odebrecht TransPort não procede”. O grupo Odebrecht, por sua vez, também declarou, por meio da assessoria de imprensa, que “informação de venda da participação na Odebrecht Ambiental não procede”.
Os negócios de saneamento e transportes integram uma carteira de mais de 10 ativos comandados pelo grupo Odebrecht, que enfrenta um momento de dificuldade desde que passou a ser alvo da Operação Lava-Jato sobre irregularidades em contratos com a Petrobras. Com isso, ficou restrito o acesso a crédito do grupo de outras empresas de construção pesada que foram investigadas.