O governo do Reino Unido anunciou, nesta segunda-feira, a suspensão do sistema de concessão de franquias das ferrovias do país, essencialmente nacionalizando quaisquer perdas que as companhias venham a ter em razão da pandemia de Covid-19. Além de evitar o colapso financeiro frente à queda no número de passageiros, a medida permite que o modal continua a funcionar para transportar profissionais da saúde e outros trabalhadores essenciais durante a crise.
A medida foi divulgada pelo Departamento de Transportes, que anunciou a suspensão do sistema habitual de franquias, transferindo todos os ganhos ou perdas para os cofres do governo por ao menos seis meses. As operadoras ferroviárias, que já apresentavam dificuldades financeiras antes da pandemia, continuarão a realizar os serviços cotidianos por uma pequena taxa estabelecida sob um “acordo de medidas emergenciais”, evitando maiores disrupções e custos para os cidadãos, segundo o governo.
O governo britânico já havia concordado com os operadores ferroviários que os serviços seriam reduzidos pela metade a partir desta segunda em razão do colapso de 70% no número de passageiros desde que a epidemia teve início. Há ainda uma orientação em vigor para que apenas pessoas que exercem funções essenciais utilizem os trens. Todos os passageiros que possuem bilhetes temporada poderão solicitar reembolso total.
Até a manhã desta segunda-feira, há 5.683 mil casos da Covid-19 confirmados no Reino Unido, 665 deles registrados entre sábado e domingo. 281 pessoa morreram, incluindo um menino de 18 anos com doenças prévias, vítima mais nova no país. Segundo uma pesquisa conjunta da Universidade de Cambridge, da Universidade College London e do Centro de Dados da Saúde, a falta de políticas mais duras do governo britânico poderá causar entre 35 mil e 70 mortes no próximo ano.
O premier Boris Johnson vinha se baseando em táticas amplamente criticadas de combate ao coronavírus, com notícias da imprensa chegando a noticiar que a estratégia inicial do governo era a de “imunidade coletiva”, permitindo que a população se contaminasse para criar resistência ao Sars-CoV-2 – algo que nunca foi implementado. Indo na contramão de países europeus, Boris vem se recusando a impor medidas mais duras de contenção, orientando a população a respeitar o isolamento social voluntariamente. Segundo analistas, a equivocada falta de ação pode ser uma tentativa de reforçar a “independência” britânica da União Europeia neste pós-Brexit.
Ainda assim, ruas e parques pelo país estiveram lotados durante o final de semana, algo que levou o premier a anunciar que irá impôr medidas draconianas de restrição tais quais às da França, Itália e Espanha caso a população não respeite voluntariamente o distanciamento social. Há ainda uma intensa pressão de seu Gabinete para que a cidade de Londres seja posta sob quarentena o mais rápido possível. Segundo a BBC, cogita-se também ordenar o fechamento de todos os negócios não-essenciais pelo país.
O Reino Unido também se depara com uma falta de equipamentos médicos: nos últimos dias, 6 mil profissionais de saúde enviaram uma carta a Boris demandando uma maior quantidade de equipamentos de proteção. O secretário da Saúde, Matt Hancock, admitiu que há um problema, mas anunciou que o Exército foi mobilizado para levar máscaras, equipamentos de proteção e ventiladores para os médicos.
– É como um esforço de guerra. É uma guerra contra este vírus e o Exército tem sido uma incrível ajuda na realização destas logísticas para que consigamos entregar materiais para proteger os profissionais na linha de frente – disse Hancock, afirmando que 5 mil respiradores mecânicos adicionais foram postos em funcionamento.
23/03/2020 – O Globo