Oito meses após anunciar que a espanhola Acciona assumiria a obra e a operação da linha 6-laranja do metrô, o governo de SP chega ao momento da assinatura do contrato com a construtora neste fim de semana. É o fim de uma novela que destrava um trecho de transporte público que sofreu todo tipo de revés em uma década, desde impacto da Lava Jato no consórcio original até protesto de dono de imóvel em bairro nobre para barrar a atração de morador de rua em estação.
A partir de terça-feira (7), a Acciona assume a concessão da linha e passa a ser responsável pelos canteiros, no lugar do antigo consórcio Move São Paulo. O grupo pode retomar a obra em 90 dias.
O acordo foi comemorado dentro do governo também pelo potencial de aliviar o desemprego elevado pela crise do coronavírus. A expectativa de geração de vagas gira em torno de 9.000 postos.
“A concretização das tratativas entre a MoveSP e a espanhola Acciona consolida o objetivo do governo João Doria para a retomada das obras em 2020”, diz Alexandre Baldy, secretário dos transportes metropolitanos de São Paulo.
Entre os maiores projetos de infraestrutura da América Latina, a linha tem 15 quilômetros de extensão, com 15 estações que passam perto de grandes instituições de ensino superior na capital paulista, o que a tornou conhecida como linha universitária. Ela também faz ligação com a Brasilândia, um dos bairros mais carentes da cidade.
A obra ficou famosa em 2010, quando uma moradora do Higienópolis, integrante de um grupo que protestava para impedir a construção de uma estação em seu bairro nobre, disse que o metrô levaria “gente diferenciada” à redondeza, se referindo a moradores de rua.
Em 2016, o projeto parou e assim ficou por anos, enquanto o governo paulista tentava rescindir o contrato com as construtoras envolvidas na Lava Jato no antigo consórcio formado por Odebrecht, Queiroz Galvão e UTC. Até que a Acciona entrou para assumi-lo.
O projeto da linha sofreu tantos contratempos que chegou a ser dado como morto em algumas ocasiões de sua longa história, desde que foi anunciado em 2008 na gestão José Serra (PSDB), que prometia colocá-la em operação em 2012.
Na semana passada, o governador João Doria publicou um decreto determinando para a próxima terça-feira (7) a caducidade da antiga concessão da Move São Paulo, que agora dá lugar aos espanhóis.
04/07/2020 – Folha de S.Paulo