Entidades repudiam vídeo que culpa mulheres por acidente no metrô de SP

Uma montagem de vídeos circulou pelas redes sociais nesta sexta-feira (4) mostra imagens de mulheres, funcionárias do Metrô de São Paulo, falando sobre as obras da linha 6-Laranja, que desmoronou na terça-feira (1º), e a importância da participação feminina nos caros de trabalho. As cenas são intercaladas por vídeos da tragédia, ridicularizando as falas das profissionais e dando a entender que o fato de haver muitas mulheres por trás da obra é um dos motivos para o incidente.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) postou o vídeo em sua conta no Twitter e deixou explícita a mensagem que até então estava apenas nas entrelinhas da montagem. “‘Procuro sempre contratar mulheres’, mas por qual motivo? Homem é pior engenheiro?”, escreveu o deputado, referindo-se a fala de uma das profissionais.

“Quando a meritocracia dá espaço para uma ideologia sem comprovação científica o resultado não costuma ser o melhor. Escolha sempre o melhor profissional, independente da sua cor, sexo, etnia e etc.”, prosseguiu. Eduardo tem 2,2 milhões de seguidores na rede. O vídeo não será reproduzido aqui para preservar as profissionais, já que não há evidências de que têm relação com o desabamento.

Até agora, entidades ligadas ao metrô repudiaram o vídeo e o classificaram como misógino: a empresa Acciona, de gestão de infraestrutura, e a ANPTrilhos (Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos).

Em nota, a Acciona diz que “lamenta profundamente o teor de uma videomensagem que circula em redes sociais. A companhia considera o conteúdo misógino e extremamente desrespeitoso com nossas colaboradoras”.

Também por meio de nota, a ANPTrilhos classificou o conteúdo como “desrespeitoso e misógino” por fazer “alusão à responsabilidade do acidente nas obras da Linha 6-Laranja de metrô de São Paulo às mulheres que atuam no projeto”. “Se aproveita de uma situação de crise para reforçar mensagem preconceituosa, discriminatória e absolutamente inaceitável”, afirma.

A associação ainda afirma que “se solidariza com as mulheres pessoalmente citadas, ressaltando o respeito e o reconhecimento de todos os operadores ao profissionalismo das mulheres na área metroferroviária”.

Segundo a Secretaria de Transportes Metropolitanos de São Paulo, foi criado um comitê para investigar as causas do acidente. A pasta disse que “fará estudos com soluções técnicas para a realização de obras de drenagem, recuperação para a retomada das obras do Metrô, conserto da tubulação e da Marginal Tietê”.

04/02/2022 – UOL / Universa