O coração de São Paulo é verde e amarelo. Nem penso na Copa do Mundo, tão rápida como um cometa, mas do local de encontro entre duas linhas de metrô, a “esquina” das estações Paulista e Consolação. Quem vem a São Paulo hoje ou nasceu depois dos anos 1970 tem dificuldade de entender por que Caetano Veloso escolheu como símbolo da metrópole o cruzamento da Ipiranga com a avenida São João. Ali era o hot spot dos anos 1960, quando ele chegou a Sampa.
Hoje, o compositor baiano elegeria como a mais completa tradução da intensidade paulistana o cruzamento da Paulista com a Consolação. Nem falo do asfalto, mas do encontro que ocorre 55 metros abaixo, onde a Linha 2-Verde encontra a Linha 4-Amarela.
Ali, passam diariamente cerca de 150 mil pessoas pelo túnel para trocar o verde pelo amarelo ou vice-versa. O casamento entre as vias foi um caso de amor imediato. A Linha 4 nasceu em 2010 e logo atraiu 25% dos usuários de trilhos urbanos. Mesmo a tão elogiada abertura da Paulista aos pedestres, aos domingos, deve muito às pessoas que chegam rapidinho, de bairros distantes, à nova praia paulista.
Como tudo na cidade, há uma grande diversidade, de pessoas e dos próprios modos de transporte público. Quem pega trem da Linha 4 sabe: é preciso esperar na lateral do portão de embarque até quem está dentro do vagão descer pelo centro, para só então subir. Já ao chegar à Linha 2, é instruído a ficar bem em frente à porta do trem e esperar os usuários saírem pelas laterais. As regras são invertidas, afinal uma é Verde e a outra é Amarela. Os estudiosos reclamam a falta de uma CBF do transporte público, a Autoridade Metropolitana de Transportes.
Mas reclamar também é parte do DNA paulistano: há até quem critique o fato de a estação Consolação ser na avenida Paulista, enquanto a Paulista fica na Consolação. No fim, tudo dá certo e a muvuca parece até ser a causa da energia que fez a esquina conquistar o amor da cidade. Tudo por causa das estações que se interligam, lá embaixo, para formar o coração verde-amarelo de São Paulo