Nesta quinta-feira, trilhos de trem e de metrô se tornaram zonas de conflito armado na operação policial no Jacarezinho que deixou 25 mortos. No fogo cruzado, duas pessoas foram feridas no Metrô Rio na altura da estação de Triagem. Nos trens, a circulação em ramais da Supervia foi interrompida e policiais avançaram sobre as linhas férreas durante a operação. As cenas mostram que passageiros dos coletivos estão expostos aos confrontos, e isso semanalmente. Desde 2019, houve paralisação na circulação de veículos 115 vezes por conta de tiroteios: em média, uma interrupção por semana até hoje. Como efeito dos tiroteios e também de sequestros, concessionárias precisam pôr em ação medidas de segurança interna sem aviso prévio da polícia, a fim de evitar acidentes.
Segundo números divulgados pela Supervia, neste ano, os tiroteios interromperam por nove vezes os serviços nos trens da Supervia. Em 2020, foram 36 interrupções e, em 2019, 70 casos de paralisações nos trens em função de confrontos nas imediações do sistema ferroviário. Ao passo que sequestros de trem, a maioria durante operações policiais, também afetam a circulação por quatro vezes desde 2019. Dois sequestros ocorreram apenas este ano: um no final de abril e outro no início de março.
De acordo com a Supervia, em março, o sequestro ocorreu em meio a uma operação policial próximo ao Vigário Geral. Na ocasião, dezenas de criminosos armados com fuzis e granadas invadiram um trem, ordenaram que todos os passageiros e o maquinista saíssem da composição e jogaram pedaços de madeira na via, impedindo que seguisse viagem. A circulação do ramal ficou interrompida por 5h35. Segundo o gerente de engenharia da Supervia, Roberto Fischer, não há como seguir caminho em meio ao fogo cruzado, deixando o funcionamento dos coletivos à mercê da resolução dos confrontos.
– Por vezes os criminosos colocam materiais nas linhas férreas que impedem a circulação e atrasam o itinerário, pois até tirar as barricadas leva tempo. Na maioria das vezes, os criminosos abordam os maquinistas quando estão fugidos de operação, que não tem qualquer previsibilidade, porque descobrimos enquanto ocorrem – afirma Fischer.
No último sequestro, quatro homens armados com fuzis e pistolas abordaram um trem de manutenção da SuperVia, que passava pela estação Jacarezinho, por volta das 13h. O veículo trafegava em baixa velocidade, quando os homens pularam no seu interior e seguiram viagem por alguns metros, no sentido Central do Brasil. Eles desembarcaram na via férrea, antes da composição chegar à estação Triagem, e deixaram o sistema.
Cenas de pânico com vítimas do fogo cruzado no Metrô Rio evidenciam que passageiros encontram-se desprotegidos do tiroteio mesmo dentro dos vagões. Em nota, o Metrô Rio informou que dois clientes ficaram feridos após o vidro de uma das composições ser atingido por projétil vindo da área externa. Uma pessoa foi ferida por estilhaços de vidro e outra atingida de raspão no braço. Por conta disso, o funcionamento foi interrompido por pouco mais de 30 minutos.
Protocolos de segurança
Um fator que poderia auxiliar na adoção efetiva dos protocolos de segurança e evitar acidentes como o que aconteceu nesta quinta é a comunicação entre a polícia e as concessionárias. Como não são avisados previamente sobre as operações, funcionários dos trens e metrôs agem depressa com base nos protocolos internos. Fischer explica que quando o Centro de Operações e Segurança da SuperVia (COSE) descobre que uma operação está em curso o centro de controle comunica aos maquinistas para que interrompam a circulação dos trens nas áreas de conflito e os levem para as estações próximas mais seguras.
– Imediatamente após sermos informados da operação, nós anunciamos nas nossas estações principais que o veículo não está sendo operado por problema de segurança pública. O que acontece é que não somos informados previamente, o que é um problema porque nossa ação é muito previsível e calculada. Quando acontece uma operação dessas, gera um grande transtorno – disse Fischer.
Segundo ele, até normalizar o funcionamento dos trens, o Centro de Operações e Segurança da SuperVia (COSE) faz um acompanhamento junto à polícia para checar quando efetivamente a operação é encerrada para a retomada da circulação dos trens.
Já o Metrô Rio informa que os protocolos de segurança nesta quinta-feira foram bem-sucedidos. Segundo a concessionaria, os profissionais são treinados para este tipo de situação e simulados são feitos ao longo do ano para capacitá-los em situações de gravidade. De acordo com o protocolo, tão logo acontece a interrupção, os clientes são alertados por meio de avisos sonoros e orientados nas estações. No interior dos trens, os passageiros podem acionar os botões de emergência para serem atendidos pelas equipes de segurança.
Até a publicação da reportagem, a Polícia Civil e a Polícia Militar do Rio não respondeu aos questionamentos sobre os procedimentos a serem seguidos em conjunto com as concessionárias de metrô e trem em dias de operação.
07/05/21 – Extra