por Roberta Marchesi*

Nas últimas semanas, em função do desabastecimento de combustíveis provocada pela paralisação dos caminhoneiros, as pessoas que conseguiram se deslocar nas diversas regiões metropolitanas brasileiras tiveram a oportunidade de experimentar os benefícios de uma mobilidade urbana adequada e sustentável. Redução drástica no nível dos congestionamentos, disponibilidade de vagas de estacionamento, melhoria significativa da qualidade do ar e agilidade nos deslocamentos. Esses foram apenas alguns dos benefícios sentidos pelo cidadão brasileiro, mas que são a realidade do dia a dia de cidades que evoluíram no aparelhamento da mobilidade urbana.

Exemplos exitosos de cidades ao redor do mundo, que conseguiram desenvolver verdadeiras redes de transporte a serviço do cidadão, foram estruturadas a partir do transporte de alta capacidade, como é o caso trens, metrôs e VLT, integrados física e tarifariamente com os demais modos de transporte da cidade, especialmente na primeira e última milhas. Nessas cidades, o transporte de passageiros sobre trilhos responde por um percentual de 40 a 45% dos deslocamentos diários da população, contribuindo para a estruturação dos grandes fluxos de transporte, ao mesmo tempo em que garante a rapidez, a regularidade e a maior segurança desses deslocamentos. Aqui no Brasil, por outro do lado, os trens e metrôs são responsáveis por apenas 7% dos deslocamentos diários, mostrando a dependência que o país tem do transporte baseado nos combustíveis fósseis, o que explica os enormes congestionamentos diários que vivenciamos nas grandes e médias cidades.

Enquanto o Brasil todo consolida uma rede de transporte sobre trilhos com cerca de 1000 km, cidades como Londres ou Nova York tem redes superiores a 400 km cada uma, sem falar na expansão acelerada dos países asiáticos. Um pouco mais próximo da nossa realidade na América Latina, a Cidade do México, que teve a sua rede de metrô inaugurada no mesmo ano daquela da cidade de São Paulo, já consolida mais de 220 km em trilhos, enquanto que a nossa maior Metrópole não chega a 80 km.

Para que possamos voltar a sentir os benefícios de uma adequada mobilidade urbana, agora de forma permanente, é preciso que os nossos governantes percebam que não há solução de mobilidade para médios e grandes centros que não envolvam o desenvolvimento de redes de transporte sobre trilhos. Com a proximidade do período eleitoral é fundamental que os novos líderes que se anunciam apresentem propostas concretas para avançar com as redes de mobilidade sobre trilhos no Brasil, priorizando o seu investimento em todas as capitais brasileiras. E cabe a nós, eleitores, votar com sabedoria, buscando eleger líderes com coragem para mudar velhos paradigmas e avançar forma efetiva com a qualidade da mobilidade urbana.

* Roberta Marchesi é Superintendente da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos), Mestre em Economia e Pós-Graduada nas áreas de Planejamento, Orçamento e Logística.