O grupo coreano A’REX manifestou formalmente ao governo brasileiro interesse no projeto do trem de média velocidade entre Brasília e Goiânia. Para levar seus planos adiante, no entanto, pede adaptações na modelagem do empreendimento. A maior delas é um aporte total de cerca de R$ 3 bilhões do setor público, dividido ao longo dos 30 anos de concessão, como forma de garantir viabilidade econômica à ligação ferroviária para o transporte de passageiros. O investimento no trem – incluindo obras civis, material rodante e sistemas de comunicação – beira R$ 8 bilhões.
A avaliação dos coreanos, na prática, é de que o projeto só se viabiliza como uma parceria público-privada (PPP). Se for uma concessão pura, dificilmente fica em pé. Esse diagnóstico foi apresentado por escrito à Agência de Transportes (ANTT), que fez estudos básicos e abriu tomada de subsídios para receber contribuições. O economista Bernardo Figueiredo, ex-presidente da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), foi contratado como consultor pelos coreanos. Ele esteve na semana passada com o secretário especial do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Adalberto Vasconcelos, para falar sobre as sugestões de mudanças.
De acordo com Figueiredo, o projeto alternativo descarta qualquer tipo de transporte de cargas. Também prevê duas paradas intermediárias: Anápolis (GO) e Samambaia (DF). A previsão é de um preço em torno de R$ 100 por bilhete na viagem expressa de ponta a ponta. O trem teria velocidade de R$ 250 km/h. Além disso, o grupo vê possibilidades de criar receitas adicionais. A concessionária teria o direito de explorar as áreas das estações com atividades comerciais e imobiliárias, de acordo com o que a legislação já permite. Isso é uma espécie de colchão para mitigar o risco de demanda, diz o consultor.
A modelagem alternativa sugere um aporte público de R$ 130 milhões anuais na primeira metade do contrato – 15 anos – e de R$ 30 milhões ao longo de toda a concessão, a partir do quarto, quando o trem daria início às suas operações. Nesses termos, o projeto torna-se viável e atrativo. Agora estamos esperando uma reação do governo.
A A’REX é o braço operador de um grupo de empresas coreanas que exploram uma linha de média velocidade ligando Seul aos aeroportos internacionais e tem estudado o Expresso Pequi, como é chamado informalmente o trem Brasília-Goiânia. Figueiredo esclarece que não há um consórcio investidor constituído, foi apenas identificada a oportunidade de investimento no projeto, caso sejam revistas algumas premissas. Ainda segundo ele, esse projeto alternativo está sendo apresentado para empresas nacionais e estrangeiras – construtoras, fornecedoras de equipamentos e fundos de investimentos – interessadas em avaliar eventual participação acionária no futuro empreendimento.