Cláudio Frischtak, da Inter.b: “O investidor precisa se sentir confortável com o ambiente regulatório e político”
Depois de quatro anos em queda, os investimentos em infraestrutura no país devem iniciar um ciclo gradual de recuperação a partir do próximo ano. Os gastos em energia elétrica, telecomunicações, saneamento e transportes devem somar R$ 101,5 bilhões em 2018, crescimento real de 7,9% na comparação ao número deste ano.
A previsão é da Inter. B Consultoria Internacional de Negócios, que há dez anos realiza a contabilização de investimentos em infraestrutura no país a partir de estatísticas levantadas com associações setoriais, em orçamentos de governos e estatais, além de estimativas próprias.
Na sexta-feira, o IBGE divulgou que a formação bruta de capital fixo cresceu 1,6% no terceiro trimestre, na comparação aos três meses anteriores deste ano. Foi a primeira taxa positiva após 15 trimestres consecutivos de queda. O avanço foi puxado basicamente por bens de capital e pela importação de máquinas e equipamentos.
Segundo Cláudio Frischtak, sócio da Inter.b, os gastos com infraestrutura costumam reagir com certo atraso à melhora da economia e de outros tipos de investimentos, como as máquinas e equipamentos para a indústria de transformação. Isso pode ser atribuído desde aos lentos processo de licenciamento ambiental a até a maior dependência por recursos públicos.
“Investir é apostar no futuro. Como os investimentos em infraestrutura são feitos pensando no longo prazo, o investidor precisa se sentir confortável com o ambiente regulatório e político, além de haver uma normalidade macroeconômica. Neste caso, é natural que a retomada do investimento ocorra realmente só a partir do ano que vem e lentamente”, avalia Frischtak.
O cenário traçado considera um crescimento de 3,2% do PIB em 2018, além de um candidato de centro liderando as pesquisa eleitorais para presidente no primeiro semestre. “Se chegarmos ao segundo trimestre com um candidato populista, sem programa econômico e sem apoio do Congresso bem posicionado, a tendência é que as empresas puxem o freio dos investimentos”, acrescenta.
Todos quatro grandes setores de infraestrutura pesquisados devem aumentar investimentos em 2018. O destaque foi o de telecomunicações. Influenciado pela conjuntura econômica e a recuperação judicial da Oi, o setor cortou 28% dos investimentos em 2017 (em termos nominais), segundo a Inter.b. Para o próximo ano, a previsão desenhada indica gastos 25% maiores, somando R$ 23,3 bilhões.
Outra contribuição importante deverá vir do setor elétrico. De acordo com a consultoria, o segmento deve investir R$ 32,3 bilhões ao longo do próximo ano, 18,3% a mais (em termos nominais) do que em 2017.
Esse desempenho é influenciado positivamente por projetos de energia renováveis (eólica e solar) e dos leilões de linha de transmissão realizados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
É bem verdade que a velocidade do crescimento dos investimentos do mercado elétrico – assim como dos outros grandes setores da pesquisa – está relacionada a uma base de comparação mais baixa. Com o fim do ciclo de construção de grandes usinas hidrelétricas, os gastos na infraestrutura do setor recuaram 37,7% neste ano, na comparação ao ano passado, segundo cálculos da consultoria.
“Em 2017, os investimentos em infraestrutura como um todo devem atingir seu ponto mais baixo nas últimas cinco décadas. Estamos falando de uma proporção de apenas 1,37% do PIB, menor percentual de toda a série histórica que dispomos, desde os anos 70”, afirma ele.
O início da retomada da infraestrutura deve ser parcialmente beneficiado pelo ciclo de concessões do governo Temer. O setor aeroportuário é um exemplo disso. A expectativa é de avanço de 22,2% nos investimentos em 2018, para R$ 1,1 bilhão, na esteira da concessão dos aeroportos de Porto Alegre, Florianópolis, Salvador e Fortaleza realizada em março deste ano.
Apesar do avanço em aeroportos, a pesquisa da Inter.b prevê estabilidade nos gastos com infraestrutura de transporte como um todo no próximo ano. O cenário permanece negativo, por exemplo, para o segmento rodoviário. Os investimentos nas estradas devem encolher 12%, para R$ 12,2 bilhões, afetado pelas limitações fiscais dos governos federal e estadual, além de uma especificidade setorial.
“As concessões rodoviárias do governo Fernando Henrique estão acabando. Há casos em que a concessão não deve ser renovada, como na BR-040, que liga o Rio a Juiz de Fora. Quando a renovação não acontece, a tendência é de menos investimentos. Além disso, a fase três das concessões, do governo Dilma, foi um desastre, com só uma ou duas concessões atualmente me operação”, diz o economista.
Se confirmados, esses investimentos devem contribuir para que a taxa de investimento cresça para 17% em 2018, acima dos 16% previstos para 2017.