Concessionárias de trens e metrôs pedem linhas de crédito para manter operações

O transporte de passageiros sobre trilhos no país, feito por trens e metrôs nas principais capitais, precisa de socorro financeiro do governo para manter as atividades em meio à pandemia do novo coronavírus. A afirmação é de Joubert Flores, presidente do conselho da ANPTrilhos (Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos), que se reuniu com membros dos ministérios da Economia e do Desenvolvimento Regional para discutir o tema.

Com o isolamento social, fechamento de comércios, trabalho remoto e sem aulas em escolas e universidades, a demanda caiu mais de 80% nos sistemas ferroviários nos últimos dez dias e as empresas afirmam que isso provocou forte impacto em seus equilíbrios financeiros, o que pode levar à paralisação dos sistemas de metrôs, trens e VLTs (Veículos Leves sobre Trilhos).

Levantamento feito pela associação mostra uma perda de arrecadação com bilheteria de R$ 271 milhões em nove dias, período em que o setor ferroviário começou a ser afetado pela redução de demanda.

Se a situação permanecer inalterada até a próxima sexta-feira (3), haverá perda de mais R$ 261 milhões, de acordo com ela.

O principal pedido foi o de uma linha de crédito para capital de giro das empresas do setor. Elas alegam que as medidas anunciadas pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) até aqui não atendem a necessidade de curto prazo dos operadores metroferroviários.

“Não podemos diminuir custo, o custo fixo está lá, além de gastar mais dinheiro com higienização. Listamos medidas quais a mais importante é suporte para ter capital de giro, para ter caixa e pagar funcionários e fornecedores. Depois a gente vê como fazer lá na frente”, disse o presidente da entidade, que representa operadoras de transporte de passageiros como os metrôs de São Paulo e do Rio, a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e a Supervia.

Na quarta-feira (25), a redução no total de passageiros transportados em todas as associadas chegou a 82%. Em uma das empresas, o índice foi de 96%.

No Rio, a Supervia teve, desde o dia 16, redução de 3,38 milhões de passageiros nos trens que operam nas 12 cidades atendidas pela concessionária.

Só na última quinta-feira (26), foram 430 mil passageiros a menos, o que representa queda de 72,6% em relação à média para o dia.

IGUALDADE

Para o encontro com os ministérios, a associação levou uma série de pedidos, entre eles dar ao transporte público sobre trilhos o mesmo tratamento recebido pelo setor aéreo.

“Temos operadoras públicas e privadas, as públicas geralmente dependem de aportes dos estados, enquanto as privadas não têm subsídios. Se precisa de dinheiro para cobrir a operação, imagine com a queda da demanda. Não é possível operar só com 18% da receita, que é o que temos visto na média”, afirmou o presidente da associação.

Além de capital de giro, também pedem aprovação de projetos de investimento, redução de encargos em meio à situação de emergência, isenção de ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre energia elétrica e redução de custos previdenciários, entre outros.

O sistema metroferroviário transporta diariamente mais de 12 milhões de passageiros nas principais capitais e regiões metropolitanas de 11 estados e Distrito Federal.

O presidente disse que os ministérios informaram que iriam estudar alternativas. As empresas têm caixa para no máximo mais 60 dias, segundo ele.

29/03/2020 – Folha de S.Paulo

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