Um metrô leve de superfície é a aposta do governo do Rio para aumentar o número de passageiros do Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão), na Ilha do Governador, Zona Norte da capital. Um projeto ambicioso, que custa R$ 2 bilhões e depende de um acordo com a União para utilização de recurso federal oriundo da outorga paga pela concessionária RioGaleão.

A proposta é uma linha de 17 quilômetros de extensão, com sete estações que seriam percorridas em 15 minutos, a partir do metrô do Estácio. Os passageiros cruzariam parte da Região Central e da Zona Norte, em trajeto que, segundo o projeto, atenderia não apenas aos turistas, mas serviria os moradores das localidades por ela cortadas, desatrelando o serviço da dependência exclusiva da demanda do aeroporto.

No mezanino da estação do metrô Estácio, os passageiros já fariam o check in e poderiam despachar suas bagagens. As demais estações seriam: Rodoviária, Into, Vila do João, Maré, Hospital Universitário Clementino Fraga (Ilha do Fundão) e Galeão. No Fundão, o objetivo é atender a comunidade acadêmica da Cidade Universitária da UFRJ e as empresas instaladas no Polo Tecnológico do campus. No local, haverá integração com o BRT Transcarioca.

O percurso será feito às margens da Linha Vermelha, próximo a áreas conflagradas. De acordo com o secretário, o serviço envolverá um forte esquema de segurança, para que os passageiros se sintam totalmente protegidos.

Sem recursos para arcar com a obra, o estado busca uma parceria com a União para empregar os recursos pagos pela concessionária RioGaleão ao governo federal para explorar o equipamento: a outorga. O montante tem sido de cerca de R$ 1 bilhão por ano, e o próximo pagamento está previsto para 2023. O contrato da concessionária vale até 2039.

Defensor do projeto, o secretário de Transporte Delmo Pinho entende que a medida segue os padrões dos principais aeroportos do mundo: “Um aeroporto internacional é um motor econômico, mas ele precisa ser alimentado. Esse projeto vai aumentar a demanda de passageiros e facilitar o acesso ao aeroporto. Esse modelo reproduz o que acontece nos aeroportos mundo afora. Se a União permitir, esse recurso será empregado para melhorar a operação de um equipamento que pertence a ela mesma, o aeroporto”, afirma.

A linha terá um trem maior que o do VTL, que circula no Centro, mas menor que o do metrô, e a operação será por meio de um consórcio privado. Ainda não está definido se será um veículo comum ou monotrilho. Está prevista também a existência de um vagão VIP, que só seria acessado no Estácio, na Rodoviária e no Fundão, para dar privacidade aos passageiros que prefiram viajar isolados pagando uma tarifa mais cara. Neste caso, não seria possível acessar essa parte da composição estando no interior do trem.

Embora a fase inicial seja de 17 quilômetros, o projeto abre a possibilidade de expansão para atender mais partes da Ilha do Governador, ligando o Hospital da Força Aérea do Galeão à Portuguesa, em um trecho de três quilômetros. Segundo Delmo Pinho, o assunto será levado pelo governador Cláudio Castro (PSC) para tratativas com o governo federal nas próximas semanas.

Disputa predatória no ar

O metrô leve é parte de um pacote de medidas que pretende reforçar o fluxo de passageiros do Galeão, operado pela iniciativa privada. Nos últimos anos, o aeroporto tem perdido passageiros para o Aeroporto Santos Dumont, gerido pela Infraero. Para o secretário, os dois aeroportos precisam trabalhar de forma integrada, respeitando as vocações de cada um. Isso, de acordo com ele, permitiria ajudar a resgatar o aeroporto como o principal hub do país.

“O Galeão recebeu nos últimos anos mais de R$ 10 bilhões em investimentos, é um patrimônio do país, tem uma das melhores infraestruturas aeroportuárias da América Latina. Com tantos voos no Santos Dumont, que é destinado a voos regionais e da Ponte Aérea Rio-São Paulo, o Rio tem perdido voos internacionais para Guarulhos e Brasília, que acabam alimentados pelo Santos Dumont. Isso deixa de gerar empregos aqui e os leva para esses lugares. Alguém tem dúvidas sobre o potencial do Rio de Janeiro ser maior que o de Brasília?”, questiona.

Historicamente, os passageiros costumam valorizar a localização do Santos Dumont, no Centro do Rio, e a facilidade de acesso às demais regiões da cidade, em relação ao Galeão, como ampla oferta de linhas de ônibus e a proximidade do metrô. Em 2019, 9,1 milhões de passageiros passaram pelo Santos Dumont.

O Galeão passou em 2016 por uma ampliação prevista no contrato de concessão, inauguração do Píer Sul, uma ampliação do Terminal 2, com mais de 100 mil metros quadrados e 26 pontes de embarque e capacidade para receber super-jumbos. Segundo Pinho, a concessão do Galeão deveria ter previsto uma limitação no número de voos no Santos Dumont, para garantir sua viabilidade. Como isso não aconteceu, ele busca que isso seja incluído agora na concessão do aeroporto do Centro.

O trecho do metrô leve relativo ao Estácio resgata uma parte do trajeto original previsto para o corredor expresso do BRT Transcarioca, que liga a Barra da Tijuca ao Galeão. O secretário fluminense de Transporte, Delmo Pinho, explica que o projeto conta com o entusiasmo do governador Cláudio Castro (PSC) e do prefeito Eduardo Paes (DEM). A medida é fruto de um pacote de ações para ativar o aeroporto, aumentar seu número de passageiros e impulsionar o número de empregos no estado.

“Nós temos que restringir a operação do Santos Dumont, que não pode operar acima do patamar atual. Isso já tinha sido regulado pela ANAC em 2004, mas ela mesma desregulou esse funcionamento em 2009. Então, isso precisa entrar agora no contrato de concessão do Santos Dumont. O Galeão é destinado a ser um hub para o restante do país e do mundo”, explica.

O pacote pare aumentar o fluxo de passageiros do Galeão inclui também uma operação especial de segurança para as linhas Vermelha e Amarela, a ser estudada pela secretaria fluminense de Polícia Militar.

10/02/2021 – CNN no Rio