BTG planeja captar US$ 2 bi para fundo de infraestrutura

A área de gestão de recursos do BTG Pactual planeja novas captações para investir na compra de participações de ativos e companhias, com os chamados fundos de “private equity”, após cinco anos sem acessar o mercado. O objetivo é levantar US$ 2 bilhões para uma nova carteira de infraestrutura.

A iniciativa marca a retomada da expansão da área de private equity dentro do banco, que está integralmente aos cuidados do sócio Renato Mazzola desde setembro de 2016, com R$ 16 bilhões em ativos sob gestão.

Desse total, R$ 7,1 bilhões são da família de fundos de infraestrutura, que sempre foram voltados a clientes e são reconhecidos no mercado pelos retornos proporcionados. E é a partir desse segmento que o banco escolheu voltar a crescer.

Os recursos devem ser captados na América do Norte, Japão e Oriente Médio, mercados onde a instituição já construiu a reputação nesse nicho.

Em sua primeira entrevista, Mazzola contou ao Valor que o novo fundo terá como foco a busca de oportunidades de ativos na região da América Latina. Mas a carteira poderá ter também uma pequena exposição à Europa, onde a área teve um dos maiores retornos proporcionais. Em 22 meses, o investimento na empresa Túnels, de túneis rodoviários na Espanha, trouxe retorno de 2,5 vezes o capital aplicado, em euros. O negócio foi vendido por pouco menos de € 150 milhões, no fim de 2014.

Dentro do escopo do novo portfólio, segundo explicou Mazzola, não haverá uma preferência ou restrição – como já ocorre nos fundos existentes. A ideia é encontrar nos mercados escolhidos oportunidades de retorno acima da média. As carteiras já existentes, por exemplo, têm ou já tiveram operações em energia (geração e transmissão), rodovias, telecomunicações, túneis rodoviários, abastecimento de águas, logística, entre outros.

Outra característica, do próximo e dos atuais fundos, é mesclar tanto investimentos em ativos já operacionais (conhecidos pelo jargão de “brownfields”) como iniciativas de desenvolvimento dos negócios, do zero, os chamados “greenfields”.

A aposta do banco no setor de infraestrutura começou em 2005, quando ainda era apenas Pactual, no setor de energia, com fundo dedicado a esse segmento, o Brasil Energia. A expansão só ocorreu a partir de 2011. Foi quando Mazzola chegou ao BTG, vindo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), justamente para cuidar dos fundos de infraestrutura.

Nessa época, a instituição tinha aproximadamente R$ 1 bilhão em ativos sob gestão nesse segmento. Hoje, o volume total se multiplicou por sete, distribuído em quatro fundos com prazos médios de dez a 12 anos.

Além de ativos na América Latina (Chile, Peru e Brasil), Estados Unidos e Europa, o BTG Pactual assumiu em 2015 a gestão de um fundo do próprio Chile, preexistente, que é dono de quatro rodovias no país e uma ferrovia na Bolívia.

Uma das carteiras de maior sucesso da instituição é justamente a com atuação latino-americana. Captado em 2013, o Fundo de Infraestrutura II, de US$ 1,8 bilhão, já pagou aos seus cotistas rendimentos que superam o capital aplicado. Isso sem o portfólio sequer ter terminado o período de investimento e sem ter vendido nenhum dos ativos detidos.

A captação para a nova carteira planejada só poderá começar depois que terminar a fase de investimento desta, prevista para ocorrer no segundo semestre.

Captações para fundos variados, sem foco em infraestrutura, também pode ocorrer ainda neste ano de 2018

Os planos, contudo, vão além do segmento de infraestrutura. Também neste ano de 2018, o BTG Pactual planeja estrear no mercado sua nova visão estratégica para os ativos e fundos de private equity que vão além da família de infraestrutura e imobiliário.

Foram 18 meses de preparativos para que o banco atue em private equity de forma exclusivamente dedicada a clientes, desde que todo o segmento foi unificado aos cuidados de Mazzola, em setembro de 2016.

“Ficou cravado na pedra que o banco não vai mais investir recursos próprios na compra de empresas”, enfatizou o sócio.

Além do foco em clientes, a atuação futura seguirá em tudo, inclusive na governança, os moldes da família de fundos de infraestrutura que já estavam aos cuidados do sócio. Cada escolha, antes de ser de fato investida, deve ser submetida ao comitê da área de gestão de recursos.

Nas companhias aplicadas, os fundos – por meio da equipe de Mazzola – acompanham o negócio de perto, participam do conselho e têm pessoas indicadas na operação – mas sem nenhum vínculo com o banco. Essa atuação, segundo o sócio, é importante. O banco está criando com o passar do tempo, explicou ele, um celeiro de talentos que podem atuar nas companhias.

Um exemplo prático é o que ocorreu na família de infraestrutura com a equipe que montou a companhia de transmissão Intesa, vendida para a Equatorial Energia. Esse time agora trabalha na montagem de uma nova plataforma de transmissão, fruto das aquisições nos leilões de transmissão, realizadas entre fim de 2015 e começo de 2017.

Com exceção dos setores de infraestrutura e imobiliário, o private equity foi a área do BTG Pactual que mais questionamentos recebeu no passado. Houve críticas severas justamente porque o banco investiu recursos próprios na compra de participações em companhias. Para completar, parte relevante das escolhas teve desempenho ruim.

Quando André Esteves e os sócios fizeram uma espécie de refundação do Pactual, recomprando a operação do UBS e criando então o BTG, foi colocado grande ímpeto em investimentos que não época eram defendidos como uma forma de a instituição participar da “economia real”.

Entre 2009 e 2013, foram feitos diversas apostas pelo próprio BTG Pactual e seus principais sócios. E, em 2011, o banco decidiu criar um fundo com recursos dos sócios seniores e abrir para que clientes também investissem na carteira, o BTG Pactual Principals.

A partir de setembro de 2016, Mazzola assumiu a gestão de todos esses investimentos, que chamam de “ilíquidos”. No total, são R$ 9 bilhões em ativos sob gestão, sendo que a maior parte dos recursos pertence ao banco e aos sócios.

Após reestruturar essa área, ficou estabelecida a mudança determinante da estratégia, com a dedicação exclusiva a clientes e sem o banco como investidor. Dessa forma, essa carteira de ativos da instituição não vai mais crescer.

Após reestruturar área, BTG decide que não será mais investidor e atuação será totalmente voltada a cliente

Na época em que o banco e os sócios fizeram as escolhas houve grande exposição ao setor de óleo e gás, que viveu uma profunda e intensa crise, e também em ativos que tinham alavancagem financeira. Naquele momento, havia grande otimismo com o Brasil e com o pré-sal. Entre as apostas feitas estão, por exemplo, o ruidoso investimento em Sete Brasil (a mega companhia de sondas para a Petrobras), na Bravante e na Petro Africa (hoje em processo de venda coordenado pela sócia no investimento, a Petrobras).

Ao receber toda a gestão do private equity, Mazzola também iniciou a reestruturação das próprias empresas investidas. Boa parte do esforço foi para reequilibrar a estrutura de capital dos negócios e dar novo impulso à operação.

Os primeiros resultados já apareceram nas contas anuais do Principals. A carteira do fundo, na qual predominam investimentos em companhias fechadas, marcou na quinta-feira um salto no valor de sua cota: de pouco menos de R$ 0,24 para R$ 0,72.

Com isso, o patrimônio da carteira passou de R$ 550 milhões para R$ 1,64 bilhão, após o fechamento da revisão anual – feita em março nesta carteira. A revisão foi feita após a avaliação, por meio de laudos auditados, de cada um dos ativos investimentos.

Entre outras, a carteira tem participações em UOL, na CCRR, uma das principais empresas de rótulos e adesivos do Brasil, na rede de academias Body Tech e na Estre Ambiental, apresentada como maior empresa de gestão de resíduos no Brasil e América Latina. Também estão no fundo o investimento em BR Pharma e a aposta em BR Brokers, cujas ações foram vendidas em bolsa no ano passado.

Desses ativos, a aplicação em UOL passou por uma reavaliação positiva importante, mas diversos ativos registraram melhoras nos últimos 18 meses. Um dos destaques foi a empresa CCRR, que reduziu a um décimo sua alavancagem financeira apenas com crescimento das vendas.

O Principals sofreu perdas relevantes desde sua criação, em 2011. O montante total aplicado na carteira foi de R$ 2,4 bilhões. Contudo, as companhias selecionadas foram perdendo valor e afetando a rentabilidade do portfólio, com destaque para o setor de óleo e gás, que chegou a responder por 40% do patrimônio, antes da queda no preço internacional do barril.

Fora desse fundo, mas também aos cuidados de Mazzola, estão a participação na Estapar, um dos ativos mais badalados detidos atualmente, na Mitsubishi Motors, na PetroAfrica, na companhia de energia Eneva (antiga MPX) e na empresa de rastreamento de medicamentos R&B Rastreabilidade Brasil, entre outros.

Entre os mais badalados investimentos está a Estapar, que conseguiu atrair como sócios investidores estrangeiros renomados como Templeton, Bozano e Equity Internacional, do bilionário americano Sam Zell. A Eneva, após a oferta de ações e modificação de toda forma de atuação do conselho de administração e da gestão, também tem chamado atenção.

Além de cuidar desses ativos, Mazzola cuidará para que o banco volte a captar também para apostas fora de infraestrutura. A expectativa, segundo ele, é que a área de gestão de recursos do BTG Pactual dê a largada nesse modelo ainda em 2018, para aquilo que gosta de chamar de “private equity agnóstico”, voltado à economia brasileira, mas sem ser dedicado a um setor específico, como são os fundos de infraestrutura.

Os primeiros movimentos, de acordo com o sócio, devem ser feitos com a formação de fundos para aplicações específicas – uma única aposta por fundo – ainda não selecionadas.

Conforme o banco formar um histórico positivo, daí sim o plano é estruturar um fundo de private equity que possa fazer aplicações em diversas companhias, e no qual a instituição possa se destacar pela experiência como gestora de carteira. Contudo, para esse movimento, não há data definida, nem volume pré-determinado.

02/04/2018 – Valor Econômico