Joubert Flores, presidente da ANPTrilhos, explica a Renata Passos como o Brasil espera superar as restrições orçamentárias ao procurar investidores privados para financiar investimentos em frete e ferrovias urbanas.
Com uma população de mais de 209 milhões de pessoas, a quinta maior do planeta, o Brasil enfrenta grandes desafios quando se trata de mobilidade urbana. Enquanto cerca de 80% de sua população vive em cidades, as redes de metrô do país têm um comprimento total de apenas 1105 quilômetros, segundo dados da Associação Nacional dos Operadores Ferroviários de Passageiros (ANPTrilhos). Criar e expandir sistemas de passageiros é uma das tarefas do novo governo, que a partir deste mês começará a administrar os estados regionais, incluindo muitos que atualmente estão com déficits.
“Temos 25 regiões metropolitanas com mais de um milhão de habitantes”, diz Joubert Flores, presidente da ANPTrilhos. “Uma maneira de solucionar essa deficiência é priorizar os projetos existentes. Embora o país sofra uma grande restrição orçamentária, sugerimos dar prioridade a esses investimentos e, ao mesmo tempo, criar condições regulatórias e de garantia que possam torná-los mais atraentes para o capital privado. ”
Para Flores, a gestão privada também traz mais flexibilidade. “A administração pública é mais lenta e tem uma série de regras que tornam as atividades mais caras”, diz ele. “Um exemplo é a questão trabalhista, porque é quase impossível para uma empresa pública dispensar um funcionário. Em vez disso, a operação poderia ser delegada ao setor privado.
“Mas o governo não pode desistir da responsabilidade pelo planejamento, organização e escolha de prioridades. Apesar de ter pouco dinheiro no momento, a mobilidade deve ser considerada um direito constitucional e as soluções precisam ser encontradas. ”
Flores diz que novas linhas, totalizando mais de 164 quilômetros, devem ser concluídas nos próximos cinco anos, o equivalente a 15% da rede atual.
Após anos de atrasos, a expansão do sistema de metrô de Salvador e Lauro de Freitas, no estado da Bahia, foi retomada após o lançamento de um novo concurso e apoio privado. Hoje, tornou-se uma das redes de metrô mais longas do país.
Desde a assinatura de um contrato de concessão para uma parceria público-privada (PPP) em 2013, foram investidos R $ 5,8 bilhões (US $ 1,4 milhão) no sistema que permitiu o trabalho nas linhas 1 e 2, a reforma de seis trens, a reforma e ampliação de terminais de ônibus e a compra de 34 novos trens, bem como a implantação de sistemas e a manutenção e operação do metrô.
“O desenvolvimento do sistema foi um dos projetos de infraestrutura mais rápida da América Latina”, afirma o presidente da CCR Metrô Bahia, Rodolfo Gonzalez. “Em quatro anos, o metrô da Bahia chegou a 33km e entrou no ranking dos cinco sistemas que mais se expandiram no país em 2017. O sistema também foi responsável por quase 50% do crescimento da rede ferroviária de passageiros do Brasil, com a expansão de Linha 2, um aumento de 14,4 km e a inauguração de oito estações em apenas um ano. ”
Agora, o governo regional da Bahia planeja estender a Linha 1 em 4,66km até Águas Claras / Cajazeiras, enquanto um estudo sobre a extensão da Linha 2 para a estação Lauro de Freitas será lançado após a meta de 6000 passageiros nos horários de pico por seis anos consecutivos. meses foi cumprido.
O trem leve também está ganhando força no país, segundo Flores. Ele cita o sucesso do projeto implantado no Rio de Janeiro, que além de criar um novo meio de transporte também revitalizou áreas da cidade que foram abandonadas.
Os projetos futuros do metrô incluem a expansão do metrô de Brasília; a implantação do sistema em Curitiba, Paraná; novas linhas em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e em Belo Horizonte, Minas Gerais; e a extensão da Linha 2 e a construção da Linha 3 no Rio de Janeiro.
Flores diz que um estudo da Confederação Nacional dos Transportes (CNT) identificou a necessidade de 850 km de novas linhas de metrô em todos os estados, o equivalente a um investimento de R $ 160 bilhões.
“O Brasil é um mercado potencial para os investidores, porque é um país continental, que tem uma forte necessidade de infraestrutura, tanto para a movimentação de pessoas quanto para o transporte de cargas”, diz Flores. “O Brasil apostou no transporte rodoviário e não temos nada contra isso, mas você tem que ter um equilíbrio entre os modos.”
Flores também aponta que é necessário considerar a taxa extremamente baixa de acidentes em metrôs. “No Brasil, cerca de 50 mil pessoas morrem a cada ano em acidentes de trânsito – isso equivale a uma guerra civil”, diz ele. “Além das mortes, há também despesas com custos hospitalares, dias em que a pessoa lesada está de folga ou ajuda recebida do governo. Com a redução desses custos, é possível investir adequadamente ”.
Disponível em: https://www.railjournal.com/in_depth/brazil-private-investors-overcome-budgetary-constraints
30/01/2019 – International Railway Journal (IRJ)
