O New Development Bank (NDB), mais conhecido como “Banco dos Brics”, vai abrir um escritório no Brasil para incrementar sua participação em projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável no país. O banco ficará em São Paulo, mas haverá também uma unidade pequena em Brasília. A inauguração está prevista para o começo de 2019.
“A prioridade para os primeiros anos do escritório de representação será facilitar a identificação e a preparação de projetos bancarizáveis no Brasil”, afirmou o vice-presidente de gestão de riscos do NDB, Sarquis José Buainain Sarquis, por e-mail ao Valor. Mais adiante, a instituição poderá atender também outros países que venham a se tornar membros da instituição.
O NDB foi fundado em 2014, no governo Dilma Rousseff (PT), por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul com a missão de ser um banco multilateral alternativo ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Os países-membro se comprometeram a integralizar, em partes iguais, um valor total de US$ 50 bilhões em capital num prazo de sete anos.
O Banco dos Brics tem US$ 621 milhões em projetos aprovados no Brasil, mas, segundo Sarquis, há potencial para chegar a US$ 2,5 bilhões no fim de 2019, o que inclui operações com os setores público e privado. No fim de outubro, o BNDES anunciou ter captado US$ 156 milhões junto ao NDB para financiar projetos de energia renovável na Bahia e em Minas Gerais.
Hoje, o NDB oferece empréstimos em dólar ao setor público com garantia soberana, e a outros bancos e empresas privadas. No entanto, disse o vice-presidente, o objetivo é ampliar o leque com outros instrumentos financeiros. As possibilidades incluem financiamentos em reais, garantias e investimentos em renda variável. “O banco está comprometido com o desenvolvimento do mercado de capitais local e em promover o financiamento de longo prazo.”
Até agora, os projetos aprovados pelo Banco dos Brics no Brasil estão relacionados a transportes, desenvolvimento urbano, energia renovável e melhoria ambiental de determinados setores. Porém, tratamento de água, saneamento e infraestrutura social também são objeto de interesse da instituição.
A carteira de empréstimo total do NDB está em torno de US$ 6,5 bilhões, mas a previsão é que os comprometimentos nos próximos meses elevem o estoque para algo entre US$ 14 bilhões e US$ 17,5 bilhões no fim de 2019 e que o volume alcance entre US$ 32 bilhões e US$ 44,5 bilhões no fim de 2021. Atualmente, há 26 projetos aprovados.
A direção do banco tem como prerrogativa distribuir os recursos de forma equilibrada entre os países, o que significa que o NDB deve acelerar as aprovações para projetos brasileiros. O Brasil será o segundo país-membro a receber um escritório do NDB. O primeiro foi aberto na África do Sul e a proposta é que haja regionais em cada um dos participantes. A sede do banco é em Xangai, na China.
O escritório em São Paulo terá uma estrutura enxuta, composta por um diretor-geral e mais quatro pessoas. Será ampliado à medida que houver necessidade, segundo Sarquis. Questionado sobre um possível impacto da mudança de governo no Brasil nas relações com o NBD, o executivo disse estar confiante na continuidade do apoio ao banco.
“Construímos laços fortes com os governos e administrações de todos os países-membro e esperamos fortalecer ainda mais essas relações no futuro”, disse. Sarquis acrescentou que as decisões de investimentos do NDB são baseadas apenas em
critérios econômicos e financeiros. A instituição, disse o executivo, está pronta para dar apoio ao governo para preencher uma lacuna de estimados US$ 39 bilhões em investimentos em infraestrutura no Brasil.
Recententemente, analistas questionaram a aprovação pelo banco de um empréstimo de US$ 300 milhões para o gigante russo da petroquímica Sibur, controlada por três oligarcas do círculo íntimo do Kremlin.