Sílvia Cristina Silva*
Quando se fala em trilhos no Brasil, logo vem à mente como estamos em estado de urgência nesse sentido. Estranho é comparar o que éramos há décadas com o que somos hoje. Nosso País, se não era uma potência no tocante ao transporte metroferroviário, seja de carga ou de passageiros, no passado, teve seus bons momentos.
Ao longo de anos, isso mudou e vimos esse tipo de transporte passando por um processo de retrocesso e até sucateamento. Foram décadas de descaso governamental e falta de subsídios ao segmento até percebermos a necessidade de se ter um olhar diferente para o transporte sobre trilhos. Percebermos que o futuro do País passa, sim, pelos trilhos.
Um país desenvolvido precisa de todos os seus meios de transporte para ter uma economia ainda mais forte. Não há país com economia forte que não precise de todos os meios para, por exemplo, escoar sua produção ou ter um transporte de passageiros mais eficiente. Mas, no Brasil, infelizmente, estamos muito aquém das necessidades da população.
Veja o caso do transporte de passageiros. Segundo Paulo Sérgio Amalfi Meca, diretor de Engenharia e Planejamento no Metrô de São Paulo, não há como falar em futuro sustentável nas grandes cidades sem falar em transporte sobre trilhos, principalmente considerando os sistemas de alta capacidade de transporte.
Segundo ele, “quando se trata de emissão de gases de efeito estufa, uma simples linha metroferroviária pode evitar a emissão de centenas de milhares de toneladas de CO2 todos os anos”. Não se tem como discordar dele no que se refere à melhor mobilidade das cidades, menor poluição e mais qualidade de vida às pessoas. Tudo o que o transporte sobre trilhos pode prover.
Da mesma forma, o transporte de cargas, que tem necessidade de maiores investimentos em ferrovias cortando o Brasil e facilitando, ainda mais, o escoamento de produções das mais diversas. Vale lembrar que as ferrovias são responsáveis por 40% do transporte de commodities agrícolas que chegam aos portos brasileiros.
De acordo com Vicente Abate, presidente da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (ABIFER), “o transporte ferroviário, de cargas e de passageiros, é sustentável em sua essência e possui um futuro altamente promissor. Na área de cargas, desenha-se atualmente uma malha ferroviária integrada e crescente, proveniente de vários projetos num horizonte de curto e médio prazos, como o desfecho positivo das renovações antecipadas”. Conforme ele, a chegada de novas concessões e a proximidade da aprovação do PLS-261, da Autorização, no Senado Federal, devem mudar esse cenário atual.
Para o futuro, a “luz no fim do túnel” traz boas esperanças. Ainda de acordo com Abate, estima-se que, ao longo dos próximos dez a 15 anos, seja alcançado o definitivo equilíbrio da matriz de transporte de cargas brasileira, com o crescimento gradual e permanente do transporte ferroviário, que atingirá entre 35% e 40% de participação.
O Brasil é um País de longa extensão territorial, com enorme potencial para linhas ferroviárias de passageiros e de cargas e grandes possiblidades de conexões entre capitais, regiões metropolitanas, cidades menores e grandes polos econômicos. É o que todos queremos e esperamos.
*Sílvia Cristina Silva, presidente da Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Metrô (AEAMESP)
04/09/2021 – O Estado de S.Paulo / Blog Fausto Macedo